Estamos saindo de um ambiente intoxicado, no qual todos os canais de informação tinham um forte interesse naquilo que era veiculado sobre produtos e serviços, pois eram passíveis de serem anunciados. Ninguém ia “cuspir no prato em que comia”. A alta a taxa de interesse na informação circulante reduzia bastante a de meritocracia social.

Mandei a seguinte frase para o Facebook:
Quando a taxa de circulação de ideias sobe, a da meritocracia acompanha e vice-versa.
E recebi como retorno de uma amiga:
“Será? Eu juro que quero muito acreditar.”
A ideia de acreditar é um ato de fé.
Como procuro ser um jornalista independente – e agnóstico – que gosta de propor provocações lógicas (que alguns podem chamar de filosóficas-científicas), vamos desenvolver um pouco o tema, a partir de argumentos e constatações visíveis a olho nu.
(O que espero aqui não é que acreditem, ou não, mas que considerem os argumentos consistentes ou que possam contra-argumentá-los).
A Internet, como tenho dito aqui, rompeu um modelo secular de controle de ideias da mídia impressa e eletrônica, através do surgimento de novas fontes, por um lado, e a possibilidade do usuário poder apontar (e deixar registrado para os outros) aquilo que ele considera meritório.
Estamos saindo de um ambiente intoxicado, no qual todos os canais de informação tinham um forte interesse naquilo que era veiculado sobre produtos e serviços, pois eram passíveis de serem anunciados. Ninguém ia “cuspir no prato em que comia”.
As críticas de plantão, quando haviam, eram moderadas e feitas apenas por poucas pessoas.
O boca-a-boca era entre conhecidos e em ambientes locais.
A chegada do ambiente 2.0, a partir de 2004, permitiu, assim, o aumento da taxa de transparência, pois além do obrigatório clique, que veio desde o berço da Internet, passou a permitir, de forma fácil e de graça:
Note que temos com essa prática uma mudança RADICAL em relação à meritocracia passada, pois ao consumir o cidadão/consumidor pode (não necessariamente vai) avaliar e deixar um rastro (muito mais desinteressado do que no passado) para que outros possam saber o que achou da sua experiência.
O que era aceito, não sabido, desconhecido no passado, passou a vir para a luz do dia, aumentando o espaço de avaliação de mais gente por mais gente. Os ofertantes de produtos e serviços, em função desse novo ambiente mais aberto, precisa se readequar;
Estamos saindo, portanto, do marketing do controle, da repetição, do “enrolation” para o da conversa, do diálogo e mais focado em princípios.
Isso vale para todos os serviços e produtos, pois é essa a grande mudança do ponto de vista meritocrático que temos no novo mundo. E é o grande salto de qualidade que as organizações devem tomar internamente e externamente para criar inovação.
Hoje, qualquer produto/serviço está sujeito a ser identificado por:
Cria-se com essa prática um conjunto de informações “não-oficiais” e não diretamente interessadas diretos na venda/apoio de conhecidos e de desconhecidos sobre um determinado produto, serviço, arquivo, pessoa, vereador, taxista, livreiro, cinema, hotel, restaurante, etc…

Ou seja, há um aumento radical da taxa de informação “não interessada” ou se preferirem “menos interessada” na/da sociedade, desintoxicando os canais de informações, que antes tinham uma alta taxa de interesse embutida, pois o canal que informava era o mesmo que vendia anúncios.
Esse aumento de troca entre conhecidos e desconhecidos nos leva a um aumento da transparência e necessariamente a um aumento da meritocracia, reduzindo bastante o espaço de determinadas sombras existentes.
Antes da Internet, um músico, por exemplo, só poderia chegar a um reconhecimento nacional se passasse por alguns filtros das gravadoras, que tinham lá seus interesses, critérios, parentes, etc.
O tempo de “a” início da luta pelo reconhecimento nacional para “b” reconhecimento era longo e penoso.
Hoje, continua-se podendo ser alçado por gravadoras mais tradicionais, mas cada vez mais novos músicos passam pelo critério do próprio público, através de lançamentos, via rede, em muitos casos conseguindo sobreviver só com seus fãs diretamente, reduzindo o tempo entre“a” e “b”.
Isso pode ser medido, basta promover pesquisas.
Exemplos?
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Nada aponta que isso vá se reduzir, ao contrário, vai aumentando, pois é de lá que a nova geração reconhece novos talentos.
(E já criando a cultura de reconhecimento de nicho e não mais a necessidade de reconhecimento nacional, como um critério de “sucesso”.)
Digamos que uma sociedade consegue melhorar seus produtos e serviços, através da troca desinteressada e constante entre pessoas que não tenham interesses individuais envolvidas na informação que circula e é compartilhada.
E aí se pode argumentar, como saiu no Globo ontem, “Muito cuidado com o “boca a boca” virtual” de que essa meritocracia 2.0 já tem um conjunto de gente contratada para manipular os dados na Internet.
Sim, essa será uma reação para todos aqueles que querem, ao invés de adotar novas práticas, tentar manter o modelo passado, o que, aliás, é humano.
Porém, os ambientes 2.0 já estão exigindo um novo tipo de mentalidade, metodologia e tecnologias que devem procurar – cada vez mais – aprender com os erros para evitar a manipulação.
O ser humano não está ficando bom com a Internet, mas apenas tendo que parecer muito melhor do que era em função da nova pressão social. Essa nova pressão e esse fingir que é bom acaba fazendo que a pessoa adote com o tempo hábitos por costume, o que nos leva a um novo patamar humano. Foi assim no passado, por exemplo, com o fim da escravidão.
Por fim, podemos destacar que o trabalho principal do Google ao melhorar seu algoritmo, por exemplo, criando normas para evitar que mudanças nos códigos nas páginas – não meritocráticas – as elevem ao topo.
Ou seja, a velha e eterna luta entre os interesses coletivos x o individuais.
Essa é a metodologia 2.0 em ação para garantir que a taxa de meritocracia continue alta e subindo, até que um grupo consiga formas de controlar as ideias desinteressadas circulantes.
Aí podemos ter de novo a taxa caindo em um eterno ciclo de sobe e desce.
Por aí, que dizes?