Paris, A Festa Continuou- A vida cultural durante a ocupação nazista,1940-4
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Ana Maria
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Aug 1, 2012, 7:52:16 PM8/1/12
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Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural durante a
Ocupação Nazista, 1940-4
Uma
denúncia da covardia.
Onde
estavam? Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac,
Colette, Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
No mesmo
lugar que os brasileiros durante a revelação do mensalão e
outras corrupções na história recente da republiqueta das
Bananas!
O mal tem a incrível capacidade de ser banalizado e
ainda angariar seguidores. Apoiadores ou covardes, dá na mesma. Depois do
dilúvio, da ditadura ou do nazismo,sempre surgem heróis para buscar seus louros.
Vaidade. A exceção é quando do nada surge uma graça, um gesto
de coragem, enfrentamento, generosidade gratuita, inesperada e
sem razão. É a felicidade do acaso!
Depois do dilúvio,
surgem milhares de "resistentes" corajosos para colher louros que não
merecem
IMAGINE PARIS entre 1940 e 1944. Ocupação nazista. Agora se
pergunte: onde estavam os artistas e intelectuais, franceses ou não, naquele
momento? Estes que gostam de posar de arautos da ética, da transparência e do
bem.
Claro, houve a "resistência francesa". Se contarmos o número de
pessoas cujos pais e avós foram da Resistência Francesa, não teremos franceses
suficientes para completar a cota dos resistentes de cada
família.
Provavelmente, os resistentes de fato não enchiam dois ônibus. A
Resistência Francesa é um dos maiores mitos modernos, assim como a dinamarquesa,
a sueca, a holandesa e outras. A falsa coragem não é privilégio de nenhum povo.
A maioria conviveu com o nazismo. E conviveria de novo. Raros são os que se
revoltam contra situações assim, porque simplesmente temos medo e somos
seletivos em nossas prioridades morais -quando existem.
Em situações
assim, pensamos primeiro no café da manhã, no almoço e na janta. No emprego, no
cotidiano, nas vantagens que podemos ter, dadas as condições em que vivemos.
Danem-se as vítimas. O século 20 criou uma das maiores mentiras da
humanidade: a solidariedade abstrata. Aquela que se presta direto do Facebook ou
do cardápio orgânico.
Não quero dizer que "tudo bem ser covarde",
desculpando nossos atos pela banalização do medo. Basta um só corajoso para a
covardia revelar sua face vergonhosa. O que me espanta é a mentira moral que se
conta negando a epidemia de covardia em situações como essas. E gente "chique
intelectualmente" adora esse tipo de farsa.
Depois de passar o dilúvio,
aí aparecem milhares de "resistentes" corajosos para colher os louros que não
merecem. Onde estavam Sartre, Beauvoir, Camus, Picasso, Dalí, Mauriac, Colette,
Malraux, Gide e outros luminares naqueles anos?
Se você quer saber, leia
o maravilhoso livro de Alan Riding, "Paris, A Festa Continuou - A Vida Cultural
durante a Ocupação Nazista, 1940-4", publicado pela Cia. das Letras. Trata-se de
um painel definitivo do cenário intelectual e artístico da época, revelando
detalhes do convívio "pacífico" da casta erudita francesa (e de estrangeiros que
lá viviam) com a ocupação alemã.
Não se tratam dos reconhecidos fascistas
e antissemitas franceses como Louis-Ferdinand Céline, o grande escritor e
médico. Mas sim daqueles que ensaiaram uma resistência cultural tímida (que os
alemães nunca levaram de fato a sério) a troco de permanecer vivendo suas vidas
comuns de intelectuais e artistas "comprometidos com um mundo melhor"
(risadas?).
Até o mercado das artes plásticas viveu um crescimento
tímido, mas real, na época.
Não eram "colabôs" de fato
("colaboracionistas", termo usado na França para quem apoiou a ocupação
nazista), apenas faziam teatro, escreviam livros, pintavam quadros, faziam
música, bebiam vinho. E quando os Aliados libertaram a França, logo se
apressaram em "provar" sua condição de membros da resistência "cuspindo" na cara
de gente que, muitas vezes, os ajudou porque eram de fato "colabôs" e tinham
acesso a favores nazistas.
Os "comités d' épuration" (comitês de
depuração) se multiplicaram no pós-guerra e visavam estabelecer a verdade de
quem era ou não "colabô".
Os alemães sabiam que, mantendo os salões, os
cabarés, as "brasseries", os cafés, as livrarias, as galerias de arte e os
teatros em atividade, ajudariam a manter os franceses e estrangeiros cultos
"ocupados". Todo mundo sabe que o risco para regimes como o nazista está em quem
pega em armas, e não em quem fala delas.
Por que a vergonha da casta
artística e intelectual manchou tanto o nome da França? Porque se esperava mais
deles.
Segundo Riding, o trauma francês com relação à covardia daqueles
que se diziam combatentes do pensamento e da arte pode ter sido causada pelo
fato de que, desde a Revolução Francesa de 1789, a França "é uma população
educada para reverenciar ideias... Alguns consideram
este um dos legados da revolução de 1789, a noção inebriante de que uma ideia
traduzida em ação pode produzir uma mudança súbita, radical e
idealizada".