O lado bom da decepção
(Sempre há um lado bom!)
Compará-la a um colírio que nos permite VER melhor!
...E outras pérolas "polianísticas": A necessidade das 'DRs' e o imperativo catégorico do sexo '"livre"obrigatório quando o ninho esvazia.
Poli*Ana!
Decepção é como o colírio, deixa os olhos mais limpos para ver o
outro
Ninguém
ama de verdade uma pessoa que não conhece por inteiro. Quem se desaponta com o
companheiro, ou estava iludido pelo próprio amor ou seduzido por alguém que
mentia com a intenção de parecer o que não era. A decepção desvela um lado
sombrio, mas que também é parte do outro. Talvez, passada a dor, ainda seja
possível amá-lo, agora mais conscientemente.
Quem duvida que seja possível
voltar a amar depois de uma decepção precisa saber que não só isso é, sim,
possível, como também é possível passar a amar mais solidamente a mesma pessoa que causou a
decepção.
Acredite: uma das decorrências mais importantes da experiência
de decepcionar-se com alguém é que, justamente em razão disso, passamos a
conhecer melhor esse alguém. O conhecimento é um fruto benéfico da decepção.
Assim como o autoconhecimento. O desapontamento indica que talvez houvesse uma
ilusória expectativa, uma percepção falha da realidade do outro, um entusiasmo
pelo amor sentido, sem uma visão clara do destinatário dele. A decepção retira o
iludido da cegueira em que se encontrava, pinga um colírio em seus olhos. É uma
experiência de “desvirginamento” da consciência. Demovida de sua ingenuidade, a
pessoa passa a ter os pés mais bem assentados no chão. A vivência assusta, fere,
causa dor. Mas também deixa a vítima mais centrada.
A rigor, não
se pode amar alguém que não se conheça por inteiro. Em circunstâncias assim
delineadas, na melhor das hipóteses ama-se o amar. Quando a decepção acontece,
surge a pergunta: “Onde estavam meus olhos, que não
viam o óbvio?” Eis uma boa rota de reflexão. É possível que os
“olhos” estivessem voltados para dentro, não se ocupando adequadamente com o
fator externo. Há quem diga: “Mas ele (ou ela) realmente expressava coisas do
meu agrado. Como pode ter virado do avesso?” Pois é! Algumas pessoas se
apresentam de forma especial, ou dizem sempre o que sabem que será bem recebido,
deixando a sinceridade de lado, com o simples propósito de conquistar. Sedução é
um dos nomes que recebe esse expediente. Mas é possível diferenciar quando se
está diante de algo confiável ou de um engodo. Uma dica: o “especial” da sedução não convence; é
possível identificar a falsidade através dos sentimentos (a pessoa simplesmente
estranha: “Ele me traz flores, mas isso me parece tão protocolar e impessoal!”).
É possível também perceber a incongruência entre as coisas que uma pessoa diz e
as que faz (como quando ela afirma que está aberta para ouvilo, mas tem os
braços cruzados sobre o peito ao dizê-lo, num claro indício de
distanciamento).
Mesmo em situações assim, porém, a partir do
momento em que uma decepção é vivida com discernimento e maturidade, abre-se a
possibilidade de o amor se estabelecer em bases mais confiáveis. Passa-se a
olhar para o outro como quem o vê pela primeira vez. Àqueles que pensam ser
impossível conviver com os aspectos ruins da pessoa descortinados por uma
decepção eu repito: só se pode dizer que se ama verdadeiramente quando se ama a
pessoa inteira. Isso inclui não só a luz, mas também
a sombra. Basta que se pondere sobre a recíproca:
quem se sentiria amado de verdade, se não fosse aceito em
seus defeitos, dificuldades, deficiências, insuficiências e
dores?
Existem situações, admito, em que se descobre ser
impossível o convívio com as diferenças, em razão de serem inassimiláveis.
Acontece. Agora, que a vivência de se decepcionar deixa a pessoa mais bem
equipada para viver o mesmo ou outros relacionamentos — com pessoas inteiras
como ela, feitas de sombra e luz —, isso
deixa.
Quando um dos parceiros convoca a chamada “DR”, ou discussão da relação, é porque algo não vai bem e não adianta desqualificar ou ignorar o problema. Isso tende a agravar o desconforto conjugal, pelo fato de acabar demandando outras “DRs”, cada vez mais desgastantes para o relacionamento. O melhor é ouvir logo o que o outro tem a dizer e, se for o caso, tentar mudar
Todos querem eliminar o que incomoda na relação, mas poucos se propõem a mudar para chegar a tal resultado. O ser humano é avesso a mudanças. As resoluções de fim de ano, os regimes começados às segundasfeiras e o último cigarro fumado inúmeras vezes são exemplos de nossa resistência. Mas não mudar gera culpa e compromete a autoestima. Por isso usamos artifícios que dão a ilusão de que algo está sendo feito, quando não é verdade. Uma das maneiras de conseguir esse resultado é simplificar os problemas.
Você certamente já ouviu frases como estas: “Quando se casar passa”; “Vamos deixar como está para ver como fica”; “Deixe que a natureza se encarrega de resolver”. São maneiras de negar a existência dos problemas ou de encará-los eliminando-lhes a complexidade e a importância, para que a solução pareça igualmente simples (embora ineficaz).
Veja como isso funciona nas relações amorosas: uma amiga contou-me que o parceiro já não a procurava sexualmente com a mesma frequência. Quando perguntei o que isso significava para ela, brincou: “Ora, nada que uma camisola nova não resolva!” Ao que respondi: “Então, me parece que isso não é um problema pra você.” E ela retrucou: “É você que vê problemas em tudo!”. Faz parte do comportamento simplista essa atitude de considerar louco quem enxerga o problema ou não acredita que ele é tão simples.
Vejamos outros exemplos:
a) Um casal procura a terapia porque ele está obeso e ela não sabe mais o que fazer para convencê-lo a mudar. Conversam sobre o assunto na minha frente. Após ouvir as queixas da mulher ele disse: “A culpa de eu engordar é sua! Foi você quem me obrigou a parar de fumar. Agora escolha: ou eu fumo ou eu como!”
b) A esposa encontrou mensagens eróticas no celular do marido. Depois de muitas DRs infrutíferas, ele disse: “Não sei por que esse drama. Ela não significa nada pra mim, é só sexo”.
c) O marido viu exagero no decote da esposa em determinada situação social e reclamou de seu modo de vestir, que há tempos considerava vulgar. Eles discutiram e ela encerrou o assunto dizendo: “As pessoas são falsas e hipócritas. Pelo menos eu sou autêntica”.
Ou seja, o problema está sempre no outro. Ou não é importante. Não se discute aqui quem tem razão. Mas ignorar o incômodo não o elimina e ainda pode agravar a situação do casal, tornando as DRs mais frequentes e desgastantes. A pessoa pode estar negando com essa atitude várias coisas, como mudanças na relação, ou a importância da queixa do parceiro, que põe em evidência seus defeitos, ou ainda diferenças irreconciliáveis, hábitos autodestrutivos, conflitos que não pretende assumir, incompetências que, teme, sejam insuperáveis. Por tudo isso, se seu parceiro levantar um problema na relação, pense bem antes de dizer que é bobagem
Casal maduro não deve se cobrar a performance sexual da
juventude
A geração que
hoje enfrenta o esvaziamento do ninho é a mesma que
lutou contra a repressão sexual e, nessa luta, se impôs a obrigação de transar
intensamente. Os filhos eram a desculpa dos que fugiram a esse
“ideal”. Agora, sozinhos, os parceiros tentam retomá-lo. Impossível. Para ter
bom sexo na maturidade é necessário, claro, ter consciência da passagem do
tempo.
Mas isso não é tudo. Há um desafio adicional para os casais que vivem esse momento hoje. Ele está relacionado à condição histórica de mudança de mentalidades. O grupo etário em questão viveu a transição entre uma geração que dogmatizou a repressão dos instintos e outra, que já nasceu numa mentalidade permissiva.
As proibições paternas e sociais marcaram essas pessoas, pois elas tiveram de lutar não só contra a rígida ideologia dos pais, mas também contra os preconceitos incutidos nos seus inconscientes, que teimosamente lhes enviavam mensagens reprovativas, provocando culpa quando se atreviam a desafiar a moral sexual da geração que a precedeu.
Uma das formas encontradas para combater o tabu da repressão foi criar um tabu contrário: sexo livre obrigatório. Transar intensamente passou a ser um imperativo categórico. Para o casal jovem esse imperativo passava despercebido por coincidir com seus desejos apaixonados. Com a vinda dos filhos, a vida profissional e a intimidade do dia a dia, porém, a vida sexual é quase inevitavelmente afetada — se não em intensidade, ao menos em frequência. Ao mesmo tempo, o envelhecimento leva à redução fisiológica da libido. Mas o imperativo categórico “transar” nunca saiu da mente do casal, que só não o realizava — justificavase — devido ao tempo dedicado aos filhos e à profissão, e pelo cansaço e tensão que estes acarretavam. Eis que chega a meia-idade, os filhos se vão, a situação financeira não mais preocupa, o tempo de lazer aumenta e os dois se veem sozinhos, envergonhada e desconfortavelmente, indo com desespero atrás do desejo sexual da mocidade. É o imperativo categórico se manifestando: eles precisam transar, pois precisam provar aos fantasmas do porão do inconsciente que são livres.