É preferível tentar viver sem saber o que pode te esperar ou continuar vivendo em desgraça e sofrimento? A depender da sua visão perante o desfecho do filme (para alguns pode não soar muito conclusivo) é essa mensagem que ficará ecoando em sua mente, explicitada muito bem na última cena que é um verdadeiro choque de realidades paralelas.
Um despretensioso drama independente travestido de ficção. A desconhecida atriz e escritora Brit Marling é Rhoda, uma jovem comum que depois de uma festa, dirige sozinha e provoca um acidente que mata uma mulher e criança, deixando o pai de família em coma. Nesse mesmo dia a ciência faz uma impressionante descoberta: um planeta igual à Terra se aproxima da nossa órbita. Quatro anos depois ela sai da prisão e se candidata a um sorteio para embarcar na primeira viagem espacial em direção à outra Terra. Enquanto espera, ela se aproxima de John (William Mapother de “Escavadores”), o pai que já saiu do coma e agora vive em constante estado de depressão. Sem saber que Rhoda foi responsável pela sua tragédia, os dois desenvolvem uma curiosa relação.
O diretor Mike Cahill de “O Rei da Califórnia” explora muito bem a depressão de ambos os personagens através de analogias com a outra Terra como se representasse uma outra personalidade mais aspiracional. Pra carimbar, ainda faz questão de uma narração em off que funciona quase sempre ao expor os sentimentos da protagonista.
Não que a ficção seja esquecida. Mesmo nos poucos momentos onde a produção foca no tema do outro planeta, é intrigante o mistério sobre o que esse novo mundo pode contar. Destaque para a cena da comunicação com uma agente do governo e com um possível habitante extraterrestre. O casal de protagonistas tem uma ótima performance, em especial Mapother.
Tem pouquíssimos, mas convincentes efeitos
especiais, em particular a própria aproximação da segunda Terra. Seu desfecho é
carismático, minimalista e, em seus últimos segundos, surpreendente e revela só
um pouco do grande mistério escondido em “A Outra Terra”, deixando pro
espectador imaginar todo o resto a partir de então. Uma pérola
escondida.
Ficha Técnica
Elenco:
Brit
Marling
Matthew-Lee Erlbach
DJ Flava
William Mapother
Meggan
Lennon
AJ Diana
Direção:
Mike
Cahill
Produção:
Mike
Cahill
Hunter Gray
Brit Marling
Nicholas Shumaker
Fotografia:
Mike
Cahill
Trilha
Sonora:
Fall On Your Sword
E se você tivesse a oportunidade de falar com “outro você”, o que diria a si mesmo? Como se livrar da culpa de ter destruído a vida de uma pessoa? Estes são apenas alguns dos questionamentos que são levantados em “A Outra Terra (Another Earth)” filme que foi vencedor do prêmio especial do júri no festival de Sundance deste ano de 2011 e que foi descrito por seu diretor Mike Cahill como um drama de ficção científica minimalista.
Na trama acompanhamos a descoberta de um novo planeta que está oculto atrás do Sol. Trata-se de um planeta aparentemente habitável, o que desperta o interesse de toda a humanidade. Encantada com o novo astro a estudante de astrofísica Rhoda Williams (Brit Marling) acaba causando um acidente de carro e mata a família de John Burroughs (William Mapother) que entra em coma.
O acidente é o catalisador dos acontecimentos em “A Outra Terra”. A partir dele Rhoda vai presa e quando é liberta sua vida muda completamente. Sem conseguir se livrar do sentimento de culpa, ela começa a tentar se desculpar da vítima, mas acaba na verdade se aproximando (descobre que ele era um célebre músico) e, durante este tempo em que ficou presa e ele de coma, os cientistas descobrem que o astro é na verdade uma outra Terra, que todos chamam de Terra 2. Um planeta idêntico ao nosso, um verdadeiro universo paralelo se aproximando cada vez mais.
Além de dirigir Cahill também escreveu o roteiro junto com a atriz protagonista do filme Brit Marling, e ele consegue passear de forma interessante pelos gêneros (ficção científica e drama) utilizando alguns elementos e artifícios já conhecidos. Boa parte da trama se desenrola no conhecido caso do culpado se aproximando da vítima e nesses momentos algumas cenas ficam um pouco “artificiais”, talvez faltou um pouco mais de talento na atuação, mas não chega a ser nada que prejudique muito. Existem ainda referências ao mito da caverna de Platão, em determinada parte (quando Rhoda sai da prisão e vai pra casa) a câmera foca em um grande livro de Asimov (mestre da literatura de ficção científica) e pra completar tem um faxineiro meio Yoda que deixa importantes ensinamentos para a garota.
Não chega a ser uma obra espetacular, e tinha tudo pra ser pois a premissa é bem interessante. É difícil também não lembrar da referência com o apocalíptico “Melancolia”de Lars Von Trier, lá também existe um planeta se aproximando da terra mas, diferente daqui, existe um clima de terror muito grande. Em “A Outra Terra” a aproximação da ‘Terra 2′ (e como é curioso pensar se lá eles chamam o nosso lar de ‘Terra 1′) gera um certo desconforto, gera uma curiosidade sim, mas o clima é de certa forma de esperança, é de descoberta e de recomeço.
É preferível tentar viver sem saber o que pode te esperar ou continuar vivendo em desgraça e sofrimento? A depender da sua visão perante o desfecho do filme (para alguns pode não soar muito conclusivo) é essa mensagem que ficará ecoando em sua mente, explicitada muito bem na última cena que é um verdadeiro choque de realidades paralelas.
Uma segunda chance. O espelho de nosso planeta ou “Terra 2” como ele é chamado em A Outra Terra representa um novo começo para Rhoda Williams (Brit Marling), jovem imersa numa realidade ardilosa após quatro anos presa por um acidente de carro que matou a mulher e o filho do músico John Burroughs (William Mapother).
Apesar do conflito entre realidade e um argumento fantástico, o estreante Mike Cahill utiliza câmera na mão, ajustes de foco e correções de quadro sem cortes ante a mise en scène como contraponto das cenas de plástica estonteante e remetente ao contemporâneo Melancolia, de Lars Von Trier. Abertamente uma escolha estilística, apesar de assimilar-se demais com o filme de Von Trier em certos momentos. O longa de Cahill diversas vezes cai no evitável sintoma sentimentalista de analisar a descoberta de uma nova Terra pelo paralelo existencial com as questões que nos perseguem há anos quando o assunto é a vida em outros planetas.
Enquanto Rhoda e John se aproximam através de uma fraude criada pela moça – que curiosamente concorre a um prêmio que levará o vencedor a nova Terra, A Outra Terra flerta com a ficção científica, finalmente utilizando a relação entre os planetas, e exibe as falhas do roteiro para um final coerente e emergencial. Ah, se não fosse a dinâmica narrativa…
MATRIX-CRÍTICAS
Dentro da Matrix, cada ser humano é só uma projeção mental do seu próprio “eu” digital: um simulacro de si mesmo, que pode se tornar mais poderoso à medida em que toma consciência de si mesmo e da ilusão em que vive. O herói Neo é um hacker niilista, um cético duvidando de tudo, que esconde discos piratas dentro de um exemplar do livro Simulacros e Simulação do filósofo francês Jean Baudrillard — exatamente no capítulo sobre Niilismo.
No budismo, as almas estariam presas em um ciclo que se repete a cada encarnação — o carma — onde a ignorância as mantém presas nesse mundo. “Essa idéia foi bem tratada no filme como uma rede de computadores que liga as percepções dos indivíduos, permitindo que um reforce no outro a ilusão de um mundo que não existe”, diz a historiadora Rachel Wagner, da Universidade de Iowa, autora de um texto comparando as idéias do filme ás religiões e correntes filosóficas.
Em certo momento de 'Matrix Reloaded', Neo encontra o criador da Matrix: o Arquiteto. É o mesmo nome do Ego criador de toda ilusão no budismo. Quando o Buda alcançou a Iluminação, disse: “Apanhei-te, Arquiteto! Não criarás mais!” Este Criador informa a Neo que ele é apenas o sexto Escolhido a desafiar a Matrix, que a cada desafio vence e é reiniciada como qualquer programa.
Neo (de neófito), anagrama de One (o Único) é o Predestinado, o Escolhido para libertar a Humanidade. Trinity (Trindade) leva a ele a revelação (ou Evangelho) sobre sua condição, e o leva a Morpheus, filósofo e comandante da nave Nabucodonosor (nome do imperador da Babilônia que escravizou o povo judeu e foi levado á loucura através de sonhos). A base dos rebeldes que se libertaram da Matrix é a última cidade humana, Zion
(de Sion, nome da primeira cidade construída pelo povo hebreu).
Bem, até mesmo uma analista brilhante e hiper-articulada como Isabela Boscov pode ás vezes desagradar quando um filme não cumpre a exigência de padrões clássicos da linguagem cinematográfica, ou um ator tem mais 'presença' e menos talento para enriquecer o personagem. O curioso é que a proposta de Matrix é mesmo provocante: as máquinas parecem mais humanas, e os personagens humanos são robóticos. O Agente Smith é o mais intenso. Neo é o menos expressivo. Dialética pura.
"Ao absorver para o cinema a estética do cubismo (passando para a tela plana a vertiginosa sensação de profundidade em 3 dimensões SEM usar a técnica de fotografia em 3D) inventando ou expandindo os recursos estéticos do inovador e revolucionário efeito visual batizado por eles de 'bullet time' e adaptar a linguagem cinematográfica para absorver a linguagem de outras mídias como os quadrinhos e o videogame, os irmãos cineastas Andy e Larry Wachowski revolucionaram a própria ciência do cinema."
“Matrix conseguiu misturar estilo e exuberância de uma maneira que os outros filmes não foram capazes”, afirma o filósofo Christopher Grau, da Universidade da Flórida, organizador de uma sessão do site oficial do filme chamado “A Filosofia de Matrix”.
Inúmeros livros já foram escritos sobre isso, e o mais recente é "Matrix: Bem-Vindo ao Deserto do Real" ('The Matrix and Philosophy'), coletânea de ensaios editada por William Irwin, professor de Filosofia da King’s College, Pensilvannia, onde diversos acadêmicos discutem e decodificam os elementos formadores do universo Matrix, recorrendo a associações de idéias dos filósofos Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, S. Tomás de Aquino, Sartre, Nietzsche, etc — todas essas idéias presentes no filme.
De agora em diante, todos os grandes filmes precisam respeitar a inteligência do público. Mais ainda: devem enfatizar um contexto repleto de cultura interior. Por tudo isso, Matrix tornou-se “algo em que nenhum cineasta ou estúdio consegue pôr um preço: a distinção de ser um divisor de águas, um filme capaz de mudar a percepção do público e a maneira de fazer filmes. Nesse sentido, Matrix figura na mesma galeria de Metropolis ou 2001 – Uma Odisséia no Espaço.” (Boscov, Isabela)
“Muito se fala em sinergia — a capacidade de várias mídias de se alimentarem umas ás outras — mas nada se compara ao plano de batalha dos Wachowski. Matrix foi concebido como uma trilogia (e um universo multimídia) e, mais do que isso, como uma experiência de imersão, em que as diversas ramificações de uma mídia a outra tornam ainda mais profundo o mergulho no universo dos Wachowski.” (Boscov)