A ironia é mesmo uma
arte.
NOME AOS BOIS
Juremir Machado
da Silva* |
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Refleti, refleti e refleti. Doeu
demais. Minha ervilha cerebral ficou do tamanho de uma bola de bilhar. Depois de
toda essa reflexão, mudei de ideia, o que raramente me ocorre, pois só reflito
em situações excepcionais: passei a ser contra a divulgação dos nomes dos
funcionários públicos com seus respectivos salários. É muito perigoso. Cheguei a
essa conclusão não só pelo meu colossal esforço reflexivo, mas também
influenciado pelo grito das corporações. Há muito não as via tão unidas. Vou
tentar mostrar os meus argumentos com clareza e transparência. Há duas razões
maiores para não se divulgar os nomes das pessoas: os altos e os baixos
salários. Começo pelos baixos: seria muito humilhante, especialmente para
professores. Melhor mesmo esconder. Não se pode expor os governos à tamanha
indignidade. Fica mal para nossas autoridades provar que pagam tão pouco a X ou
Y. É uma questão de direitos humanos universais.
Por outro lado,
os altos salários justificam ainda mais esconder os nomes dos
beneficiados. A divulgação criaria inveja, disputas e desagregação nos ambientes
de trabalho. Os chefes poderiam perder o controle sobre seus subordinados,
principalmente sobre os que nunca aparecem para justificar seus polpudos
emolumentos (finalmente consegui usar essa palavra). De repente, todo mundo
ficaria sabendo, sem precisar fazer demoradas investigações cruzando matrículas
e cargos, que Fulano de Tal ganha uma fortuna para não fazer coisa
alguma. Seria desastroso e até antipatriótico. Pouco republicano. A
transparência não pode se sobrepor à ordem e à boa convivência no espaço
laboral. Tudo aquilo que estimula o ciúme, esse sentimento baixo, deve ser
evitado. Sem contar que a divulgação desse tipo de dado daria argumentos para
essas sórdidas campanhas da mídia contra inocentes ganhadores de medianos
salários - parece que, mesmo com penduricalhos, não se encontrou nenhum acima de
modestos R$ 300 mil - mantidos por recursos públicos.
Ainda bem que temos
a nossa Justiça - neutra, imparcial, objetiva e
desinteressada - para conceder liminares bloqueando essa
iniciativa malsã de transparência obscena. Dar nome aos bois extrapola o bom
senso. Pode ser considerado revanchismo. É discriminatório. Sim, claro, isso
mesmo, é bullying. Saber o salário de um deputado ou de um senador é razoável.
Ninguém pensaria em sequestrá-los. Como manter certos parlamentares em cativeiro
sem correr risco de extorsão? Agora, bem entendido, divulgar o salário de um
ascensorista de Assembleia Legislativa, de um chefe de gabinete, de um aspone de
alto nível, de um diretor disso ou daquilo, isso não. Tudo tem limite.
Onde vamos parar?
Não é mais possível se ter um alto salário nalgum cabide de emprego sem
trabalhar e sem direito à privacidade?
Adotar essa regra
de transparência pode ser terrível para o serviço público: haverá uma evasão de
cérebros. Cabides ficarão ociosos. Quem vai querer um carguinho de R$ 60 mil
tendo de comparecer ao emprego e ter seu contracheque exposto na Internet? De
fato, como dizem alguns especialistas, o serviço está ficando
inviável.
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Dados
liberados11/07/2012 |
01h36
STF concede liminar que autoriza
divulgação dos salários de servidores na internet
Parecer do presidente do Supremo suspende decisão da
Justiça Federal até julgamento do tema em última instância
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto,
acatou na noite de terça-feira o pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para
suspender a liminar da Justiça que proibiu a divulgação dos salários dos
servidores públicos federais, de forma individualizada, dos Três Poderes na
internet. Até que o tema seja julgado em última instância, a liminar despachada
por Ayres Britto garante a divulgação dos vencimentos.
Para a AGU,
decisões como a da 22ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal podem gerar
efeito multiplicador e causar danos ao poder público e à toda sociedade
brasileira, resultando no ajuizamento de inúmeras ações com o mesmo
objetivo.
Na ação, o advogado-geral da União, ministro Luís Inácio Adams,
explica que a decisão da 22ª Vara Federal causa grave lesão à ordem pública ao
determinar que a União se abstenha de divulgar os rendimentos dos servidores
públicos federais, além de impedir que a administração cumpra a própria
Constituição, bem como a Lei de Acesso à Informação.
Segundo a AGU, o STF
chancelou, em outras ocasiões, a legitimidade constitucional da divulgação na
internet da renda mensal bruta dos servidores do município de São Paulo. Nos
argumentos apresentados à Suprema Corte, a AGU afirma que a divulgação, em sítio
eletrônico oficial, da remuneração de servidor público não viola sua
privacidade, intimidade e, tampouco, sua segurança.
No comunicado da AGU,
os vencimentos pagos pelo poder público são
"informação de caráter estatal, decorrente da natureza pública do cargo e a
respeito do qual toda a coletividade deve ter acesso".
ZERO HORA, COM INFORMAÇÕES DA AGÊNCIA
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