Deformidade – deformação
Podem ser vistas na literatura médica construções como:
“A doença pode causar uma deformidade rápida e o paciente sente muita dor.”
“Considera-se a vergonha e a deformação permanente às quais deverá o paciente se sujeitar.”.
Contudo, deformidade e deformação não são sinônimos no sentido próprio de cada um desses termos. Em bons dicionários de referência, como o Houaiss, o Aurélio e o Aulete, não são dados como sinônimos.
Deformidade designa estado do que se deforma. Pode ser completa, parcial. Também disformia, disformidade, dismorfia, dismorfose.
Deformação indica exatamente o ato de deformar algo. Pode ser rápida, lenta, difícil, fácil. O mesmo que desfiguração.
A sensibilidade de captar o sentido preciso de cada palavra depende do conhecimento do significado exato de cada componente vocabular do termo. Por essa razão, é essencial saber sua etimologia, morfologia e semântica estrutural.
Assim, nos presentes casos, o prefixo de- indica privação, afastamento (Dic. Aurélio, 2004); forma configuração física característica dos seres e das coisas (Houaiss, 2009); o sufixo -(i)dade indica qualidade, caráter, atributo (Dic. Aurélio, ob. cit.); o sufixo -ção designa ato de em geral conexo a substantivos derivados de verbos (C. Góis, Dic. de Afixos e Desinências, 1946).
Com base nas significações originais, as palavras vão tomando significados por extensão ou figurativo e, por vezes, através do tempo, chegam até o presente com grande quantidade de sentidos, o que pode provocar confusão e aplicações questionáveis, sobretudo quando causam interpretação e uso imperfeitos, o que poderia comprometer a comunicação exata do pensamento ou argumento de um autor. Assim, se diz com mais clareza:
A doença causou a presente deformidade na face do doente.
Houve deformação óssea e a deformidade é permanente.
A deformação, feita pela infecção, foi dolorosa e resultou em deformidade extensa e chocante.
A deformação sofrida pelo doente poderá ser motivo de problemas psíquicos.
Em linguística, não se consideram errados, com razão, os usos normalmente existentes no idioma e feitos naturalmente pelo povo, que é o verdadeiro dono da língua. Apenas nos registros de natureza científica quando a comunicação não pode ter várias interpretações, importa não dizer uma coisa que significa outra, um procedimento, por vezes, difícil de fazer.
Simônides Bacelar Brasília, DF | |||
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