Após ou depois?

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Simônides Bacelar

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Aug 24, 2015, 11:50:35 PM8/24/15
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após – depois

 

Na fala geral, são usados indiscriminadamente. Mas, em regimes formais, convém adotar uma padronização.

 

Em rigor, após se usa para posterioridade no espaço (L A Sacconi, Dic. de dúvidas e dif..., 2005):

 

A secretaria fica após o centro cirúrgico.

O hospital fica após a prefeitura.

O acidente ocorreu após a curva.

 

Depois se usa para posteridade no tempo (L A Sacconi, Dic. de dúv..., 2005):

 

Tomar as cápsulas depois das refeições.

Discutiremos o caso depois.

Retornou depois da alta hospitalar.

 

Não é bom português o uso de após antes de formas nominais; prefere-se depois de (Sacconi, Não erre mais, 2005, p. 118):

 

“Examine o paciente após (depois de) lavar as mãos”.

“Deixou a sala após (depois de) operar”.

 

Segundo Antenor Nascentes (Dicionário de sinônimos, 1969), após se usa em sentido de posterioriedade no estado de movimento: Corri após e o alcancei; depois dá ideia de posterioriedade no tempo: Cheguei duas horas depois.

  

Após não se usa com preposição a, como nos exemplos: “após ao centro cirúrgico”, “após ao corredor”. É encontradiço na linguagem usual, exemplos como “após ao jogo”, “após ao filme”, “após ao término”, “após ao óbito”, “após ao nascimento”.

 

É preciso lembrar que após é preposição e sua junção com outra preposição, no caso a preposição a, configura redundância.

 

Também é útil lembrar que depois é advérbio de tempo e, assim, fica mais apropriado usá-lo como elemento que modifica um verbo: Em lugar de “Almoçaremos antes e caminharemos após”, é mais adequado dizer: Almoçaremos antes e caminharemos depois. “Após é artificial. Use-o em expressões consagradas como ano após anos, dia após dias,. No mais, dê preferência ao depois: depois do sinal, deixe o recado (D. Squarisi, Manual de redação e estilo – para mídias convergentes 2011).

 

Outras possibilidades de substituição:

 

        “Após (passados) dois dias, o paciente foi operado”.

        “Foi tratado após (em seguida aos) os exames”.

        “A prescrição médica foi após (ulterior aos) os testes laboratoriais”.

        “A avaliação feita foi após (posterior ao) o tratamento.”.

 

Ensina Piacentini (Língua Brasil – não tropece na língua, 2003, p. 89): “Após é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo. Depois é advérbio – basicamente modificador do verbo: falaremos depois, vou depois. E temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você.

Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas decerto é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípio: vamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado. Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente: Disse que não ia. Depois disse que sim”.

 

Não se usa após com o particípio (Ledur-Sampaio, Os pecados da língua. 4.o v., 1996, p. 84). Assim, são criticáveis as frases: “O omeprazol não tem estabilidade após (depois de) aberto”, “Operaremos após (depois de) realizados os exames”.

 

Pode-se usar após de em sentido espacial, de tempo (Dic. Aurélio, 2009): Acordou tarde após de uma noitada de estudos.

 

Em que pese haver usos adequados e mais padronizados, após aparece indiscriminadamente nos relatos médicos e com frequência até um pouco abusiva. Por amor ao bom estilo e à organização da língua, convém reparar essa imperfeição redacional, já que não é necessária. 

 

Finalizo com um bom recado do Prof. Domício Proença Filho, Univ. Federal Fluminense:

 

 

           “Somos livres para falar ou escrever como quisermos, como soubermos, como pudermos. Mas é também evidente que a adequação contribui efetivamente para maior eficiência comunicativa. O uso formal, designação que sintomaticamente disputa espaço com uso ou registro culto é ainda exigência para certos e importantes momento da vida. Quem não o domina frequentemente se defronta com limitações no acesso ao mercado de trabalho, na progressão social, na vivência escolar, na comunicação com os outros. As raras e honrosas exceções se devem a articulações mentais privilegiadas e excepcionalíssimos desempenhos profissionais, assim mesmo no âmbito da expressão falada. Na manifestação escrita da comunicação cotidiana, impõe-se o regime formal. E de tal maneira, que mesmo as lembradas exceções buscam, rápida e discretamente, o assessoramento de um professor ou professora de português para evitar, no mínimo, o anônimo, irônico e cruel castigo do anedotário” (Domício Proença Filho,doutor, professor livre docente aposentado,  professor emérito e titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, em seu livro Por Dentro das Palavras da Nossa Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Record, 2003, p. 11-12).

 

Simônides Bacelar

Brasília, DF

 

Pior que a falta de recursos é a falta de vontade (Ramon y Cajal).




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Simônides Bacelar

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Aug 26, 2015, 8:49:06 PM8/26/15
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Após – depois

 

Na fala geral, são nomes usados como sinônimos: Nada melhor do que um dia depois do (após) outro. Iremos após (depois de) você ir. Comumente, os dicionários de sinônimos trazem após e depois com sinônimos.

 

Tendo em vista as variações existentes dentro da realidade da língua, ocorrem interpretações e usos de após em sentido de depois ora como advérbio ou como parte de locuções adverbiais, ora como preposição ou como parte de locuções prepositivas. Autores bem conceituados dão registros dessas variações:

 

Pode-se usar após de em sentido espacial, de tempo (A. Ferreira, Dic. Aurélio, 2009): Acordou tarde após de uma noitada de estudos.

 

Segundo Antenor Nascentes (Dicionário de Sinônimos, 1981), após dá ideia de posterioridade no estado de movimento: Corri após e o alcancei. Depois dá ideia de posterioridade no tempo: Cheguei às duas da tarde; ele chegou depois. O uso corrente aplica à posterioridade no espaço, em quietação e em movimento: Não veja o que está antes; veja o que está depois.

 

Em rigor, após se usa para posterioridade no espaço (L A Sacconi, Dic. de Dúvidas e Dificuldades..., 2005): A secretaria fica após o centro cirúrgico. O hospital fica após a prefeitura. O acidente ocorreu após a curva.

 

Usa-se após em formas como: Saiu após o pai. Ano após ano. Falaremos após (E. Martins Filho, O Estado de São Paulo: Manual de Redação e Estilo, 1997).

 

Todavia, em regimes científicos formais, convém adotar uma padronização, como um cuidado proposto por bons profissionais de letras e coerente com bons autores a respeito de redação científica. “Se a precisão da linguagem é necessária a todos, ela é imprescindível aos pesquisadores e cientistas, já que a imprecisão é incompatível com a ciência” (Saul Goldenberg, Publicação do trabalho científico: compromisso ético. Acessível em http://metodologia.org/wp-content/uploads/2010/08/saul_etica.PDF p. 5, consultado em 16-8-2015). “Nos trabalhos científicos, emprega-se a linguagem denotativa, isto é, cada palavra deve apresentar seu sentido próprio, referencial e não dar margem a outras interpretações” (Maria Margarida de Andrade, Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas; 2003, p. 101). Nesse contexto, vale conhecer os valores sêmicos de após e depois para suas aplicações denotativas, mas sem inflexibilidades e radicalismos contidos nos termos certo e errado, que não se aplicam generalizadamente à língua.

 

 

Usos de após

 

Em sentido próprio, após é uma preposição, isto é, liga dois ou mais termos por um sentido circunstancial, como está nas gramáticas normativas. Ex.:  Cura após tratamento é o objetivo médico.  Nesse caso, após pode ser substituído por outras preposições, como ante, até, com, durante, por, sob.

 

Do latim ad, preposição com sentido próprio de em direção a, e post, com sentido próprio de advérbio que indica lugar (atrás, por detrás) (E. Faria, Dic. Escolar Latino-Português, 1955; A. Ferreira, Dic. de Latim Português, 1996).  

 

“Após é artificial. Use-o em expressões consagradas como ano após anos, dia após dias. No mais, dê preferência ao depois: Depois do sinal, deixe o recado” (D. Squarisi, Manual de Redação e Estilo – Para Mídias Convergentes, 2011).

 

Ensina Piacentini (Língua Brasil – não Tropece na Língua, p. 89, 2003): “Após é preposição – liga palavras ou termos de uma oração: ano após ano, um após outro, Pedro após Paulo. Depois é advérbio – basicamente modificador do verbo: Falaremos depois. Vou depois. Temos ainda a locução prepositiva depois de, que rege um substantivo ou um pronome: depois da chuva, depois de mim, depois de você. Acontece que após vem sendo usado há séculos também nas duas últimas situações: falaremos após, após a chuva, após mim... já não dá para dizer que esse emprego esteja errado, mas decerto é melhor usar depois (de) com verbos e com o particípio: vamos depois, sairei depois, depois de distribuído, depois de organizado. Recomenda-se também usar depois (nunca após) no início da oração, com o sentido de posteriormente: Disse que não ia. Depois disse que sim.”.

 

Não se usa após com o particípio (Ledur-Sampaio, Os Pecados da Língua. 4.o vol., p. 84, 1996). Assim, são questionáveis as frases: O omeprazol não tem estabilidade após (depois de) aberto. Operaremos após (depois de) realizados os exames.

 

Não é bom português o uso de após antes de formas nominais; prefere-se depois de (L. A. Sacconi, Não Erre Mais, 2005, p. 118): Examine o paciente após (depois de) lavar as mãos. Deixou a sala após (depois de) operado.

 

Outras possibilidades de substituição: “Após (passados) dois dias, o paciente foi operado”. “Foi tratado após (em seguida aos) os exames”. “A prescrição médica após (ulterior aos) os testes laboratoriais foi feita”. “A avaliação feita foi após (posterior ao) o tratamento.” Dicionários de sinônimos e termos analógicos dão opções que, em dependência do contexto, poderiam ser usadas em casos de dúvidas: atrás, a seguir, em seguimento, consequentemente, em sequência, na retaguarda, seguidamente, posteriormente,  ulteriormente.

 

Após não se usa com preposição a, como nos exemplos: “após ao centro cirúrgico”, “após ao corredor”. É encontradiço na linguagem usual, exemplos como “após ao jogo”, “após ao filme”, “após ao término”, “após ao óbito”, “após ao nascimento”. É preciso lembrar que após tem função  prepositiva e, junto a outra preposição, no caso a preposição a, configura redundância e, ainda, o a de após também tem sentido de preposição pela sua origem latina (ad) retromencionada. “Após ao, do jargão esportivo, não existe. Sempre que possível, porém, prefira depois de, mais usual” (E. Martins Filho, ob. cit.).

 

 

Usos de depois

Depois tem denotação de advérbio que exprime tempo ou local e, nesse caso, indica um sentido circunstancial do verbo, ou seja, funciona como complemento verbal. Em lugar de “Almoçaremos antes e caminharemos após”, é mais adequado dizer: Almoçaremos antes e caminharemos depois. Outros exemplos: O enfermo ficou curado depois do tratamento. O doente foi tratado e curou-se depois.

 

Caso desejarmos testar sua função adverbial, pode ser substituído por outros advérbios de tempo ou de espaço, a saber, antes, anteriormente, posteriormente, – todos ligados ao verbo (ficou antes curado, curou-se posteriormente).  

 

Depois se usa para posteridade no tempo (L A Sacconi, Dic. de Dúv..., 2005): Tomar as cápsulas depois das refeições. Discutiremos o caso depois. Retornou depois da alta hospitalar.

 

Quanto à sua etimologia, depois tem origem obscura, talvez um composto formado da preposição latina de, mais o advérbio latino post, depois (Houaiss, 2009).

 

Comentário

Em que pese haver usos adequados e mais padronizados, após aparece nos relatos médicos com elevada repetição. Pelo exposto e por amor ao bom estilo científico redacional e à organização da língua, convém observar e reparar essa imperfeição redacional, já que não é necessária. 

 

Simônides Bacelar

Médico, Brasília, DF

 

As questões que envolvem o uso da língua não são apenas questões linguísticas, são também questões políticas, históricas, sociais e culturais (Irandé Antunes, Língua, Texto e Ensino: Outra Escola Possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 21).

 
 
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