Batimento cardíaco
Jargão médico que indica choque impetuoso com ruído característico, causados pela contração cardíaca. Na literatura em cardiologia, encontram-se profusamente expressões como contrações por minuto, número de contrações cardíacas por minuto e similares, referentes à frequência ou ao ritmo cardíaco.
Em verdade, a expressão contração cardíaca apresenta-se como mais técnica e precisa como indicadora anatomofisiológica, já que o choque semelhante a um batimento, acompanhado do ruído característico, é de fato consequência do fenômeno. Batimento é o ato de bater, e este significa dar pancadas ou golpes; do latim clássico battuere, brigar, combater, e do latim vulgar battere, lutar, dar pancadas (Houaiss, 2009), o que indica ser este o sentido próprio do verbo, o qual difere do sentido aplicado ao ato cardiovascular em questão. Assim, em lugar de bpm (batimentos por minuto), na literatura médica, já se observa a sigla cpm (contrações por minuto) em relação à frequência ou ao ritmo cardíaco. Número de contrações pode ser denominação mais fidedigna em relação a atividade cardioelétrica detectável em doentes monitorizados em situações de cuidados intensivos, visto como o monitor dá registro das contrações cardíacas que podem ser débeis, apenas expressões de atividade neuroelétrica, imperceptível ao examinador por meio de um estetoscópio e, nesse sentido, não constituem uma batida ou um golpe que possam justificar esses nomes.
A mesma consideração contempla o termo “batimento arterial”, que designa a dilatação arterial brusca pela passagem de maior fluxo sanguíneo em certo ponto de uma artéria, o que indica pulsação arterial como nome técnico mais adequado; do latim pulsare, repelir, lançar com violência (daí expulsar, impelir para fora); de pulsus, abalo.
O termo pulsação cardíaca também é usado no léxico médico. No entanto, em rigor sêmico, denota ejeção sanguínea do interior cardíaco provocada pela contração miocárdica, como se depreende da etimologia relativa a pulsar e a pulsação.
Importa perceber que, em geral, as palavras e suas derivações encerram um sentido basilar e comum, o que é útil para estabelecê-lo como sentido próprio ou denotação e considerar as demais acepções como conotações ou sentidos paralelos, que são muito úteis no uso literário ou retórico não científico. Desse modo, constroi-se uma base mais robusta para indicar acepções técnicas e científicas dos nomes usados em ciência e evitar confundimentos decorrentes do uso de conotações.
A falta de precisão da linguagem dificulta a delimitação dos conceitos; conduz a baixo poder de discriminação; impossibilita diálogo crítico; faz os interlocutores desconhecer se estão se referindo ao mesmo objeto; mantém isolamento subjetivo (J.C. Köche, Fundamentos de metodologia científica, 2002, pp. 26-27). Simônides Bacelar
Brasília, DF | ||
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