colo – cólon
Ambos são nomes existentes na língua portuguesa e, desse modo, podem ser usados. Infelizmente não ocorre posicionamento indiscutível quanto à forma preferencial. Para evitar ambiguidade entre colo, pescoço, e colo, intestino grosso, cólon pode ser um termo bem empregado.
Os dicionários consultados, médicos ou não, dão colo em primeiro sentido como parte do corpo humano que liga a cabeça ao tronco, pescoço. Daí, colar, colarinho. Em referência ao intestino grosso, a maioria dá registro de cólon. Todavia, convém expor outros argumentos.
São vocábulos provenientes dos termos colon ou colum, latinos, com uma letra l, e kólon, grego, ambos relativos ao intestino grosso. Já as palavras latinas collus e collum, com o dígrafo ll, referem-se ao pescoço.
Ambos os termos collum, latino, e kólon, grego, vão dar colo em português. Nomes neutros da segunda declinação grega, finalizados em on (kólon), passam para o latim com a terminação um (colum) e para o português passam a ser o (colo), quando não mudam de significação, como ocorre com ísquio, hipocôndrio, polígono e outros (Galvão, Ramiz. Vocabulario Etymologico, Orthographico e Prosodico, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1909).
Assim, é regular uso de colo relativo ao intestino grosso. A forma colo é mais usada que cólon em referência ao intestino grosso, como se constata nas páginas de busca da Internet. Mas, em publicações científicas, a forma cólon aparece como preferencial cuja preferência pode ter participação do nome colon em inglês, também usado em francês, castelhano e italiano (Rezende, Joffre. M. de. Linguagem Médica, 2.a ed., Goiânia: Editora Kelps; 2011).
A estrutura desinencial on em cólon é contrária ao vernáculo português e à sua índole, como proclamam os filólogos (Lima, Maurício de Abreu. Expressões Médicas, J Bras Med. 1967;13 (1):63-89; Figueiredo, Cândido de. Vícios da Linguagem Médica, 2.a ed., Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1922, p. 250).
A terminação on de algumas lexias estrangeiras passaria a ão na língua portuguesa, mas inexiste o termo cólão. Em apoio a cólon, existem formas consagradas em português com a mesma terminação, como íon, exon, prótron, nêutron, elétron, cátion, ípsilon, néfron, náilon, pósitron.
É oportuno acrescentar que, em português, também se toma colo como regaço (sentar no colo) dentre outras acepções. Um nome com muitos significados apresenta-se como espúrio na linguagem gramatical, fator que constitui imperfeição na linguagem científica.
Contudo, são inconfundíveis as referências a colo do útero, colo vesical, colo do fêmur, colo da vesícula biliar, colo dentário, usos por analogia a pescoço em referência a uma parte estreita de um órgão (Rezende, 1998).
O termo cólon tem a vantagem de não ser tomado por colo no sentido de pescoço. Mas colo é o nome escolhido pela Comissão de Nomenclatura da Sociedade Brasileira de Anatomia (Nomina Anatomica, 1984; Terminologia Anatômica, 2001), por isso, é forma aceitável em relatos formais, conquanto o contexto traga incontestável clareza quanto ao sentido de intestino grosso. No VOLP (Academia Bras. de Letras, 2005), quase todos os termos médicos pertencentes a esse órgão, refere-se ao colo, não ao cólon.
Ambiguidades como “doenças do colo”, “operar no colo”, “colo lesado” e similares são de fácil discernimento, já que dificilmente alguém faria confundimento com pescoço ou regaço; mas, se houver dúvida, pode-se, amiúde, usar cólico ou cólica por colo: lesão cólica, afecções cólicas, anastomose cólica. Pode-se também usar colônico(a).
Pelo exposto, podem-se opcionalmente usar os termos coloscopia, retocoloscopia, coloscópio em lugar de colonoscopia, retocolonoscopia, colonoscópio. Observe-se que não é usual dizer colonografia, anastomose cólon-colônica, colonorrafia, colonostomia, colonectomia. Nesses casos, a lei do uso pode constituir forte argumento.
É errôneo escrever cólo com acento gráfico. É também errôneo referir-se a cólons como termo equivalente a intestino grosso. No plural, cólons se refere às partes ascendente, transversa, descendente e sigmoide. O ceco e o apêndice vermiforme são outras partes de intestino grosso, além dos cólons (Di Dio, Tratado de Anatomia Aplicada, 1999, p 555).
Em conclusão, em anatomia humana, colo significa pescoço e porção do intestino grosso entre o ceco e o reto e cólon indica particularmente a referida porção do intestino grosso. Sugere-se observar, como forma preferencial em comunicações formais, a indicação da Terminologia Anatômica, elaborada pela Sociedade Brasileira de Anatomia. Contudo, sem inflexibilidade ou radicalizações e, menos ainda, rejeição a cólon.
Simônides Bacelar Brasília, DF | ||
|