Fwd: Mitologia Bantu: A lenda do Nkisi TARI UA NZAZE (Pedra do Raio)

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jorge fernando gomez lameiro

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Jul 12, 2008, 8:50:27 PM7/12/08
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From: jorge fernando gomez lameiro <gomezl...@gmail.com>
Date: 12/07/2008 17:42
Subject: Fwd: Mitologia Bantu: A lenda do Nkisi TARI UA NZAZE (Pedra do Raio)
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From: jorge fernando gomez lameiro <gomezl...@gmail.com>
Date: 2008/7/12
Subject: Mitologia Bantu: A lenda do Nkisi TARI UA NZAZE (Pedra do Raio)
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Contam os antigos Cabindas que em ngoyo, numa época remota, havia um muene de nome Luemba que era casado com uma mulher de nome Jeze. Jeze deu a luz a um menino ao qual denominaram Nzingo. Nzingo já nasceu com os dentes formados e começou a falar nove dias após seu nascimento. Neste dia, quando Jeze, sua mãe, ofereceu-lhe o peito, Nzingo recusou-se a mamar, bem como a inserir toda e qualquer espécie de alimento, sólido ou líquido.  Nada comeu neste dia.
Estes fatos tão extraordinários e nunca vistos pelo povo de Ngoyo, causou tanto espanto que logo classificaram de Nkisi, o principe Nzingo. Mas o pior que, desde o seu nascimento, nunca mais caiu na região uma única gota de chuva. O povo atribuiu à sua presença a prolongadissima estiagem e a consequente fome que estavam suportando. Manifestaram ao Muene Luemba, seu descontetamento e desejo de expulsar da nação o princípe Nzingo no caso de não verem prontamente mudadas as circunstâncias que os impeliam àquela atitude de hostilidade. Nzingo, por este motivo, teve que suportar muitos desgostos.
Passados uns tempos, reuniram-se em assembléia todo o povo de Ngoyo e resolveram aí expulsar para fora do reino de Ngoyo  ao muene Luemba e a seu filho Nzingo, remetendo-os para a corte de Langundo.
Seguiram portanto, exílados para Nbanza-a-Mbangue,  capital do Reino de Langundo. Alí, apesar de bem recebidos pelo MueneKongo e a nobreza local, foram mandados aposentarem-se com tôdas as honras devidas a pessoas reais.
Entretanto cessaram também de cair as chuvas na cidade de Nbanza-a-Mbange. Os conselheiros do Muenekongo de Langundo informaram-no da influência que atribuiam ao principe Nzingo à cessação das benfazejas chuvas, solicitando ao monarca a morte dos reais hospedes de Ngoyo. O muenekongo, com os respectivos conselheiros, decidiu informar ao muene Luemba e ao principe Nzingo que, em dia determinado, a nobreza de Langundo lhes faria uma solene recepção. Estipulou aos servos que se cavasse no local aprazado, um profundo poço cuja a boca se disfaçaria com lindas esteiras e tapeçarias, armando-se em cima do dito poço, ricas cadeiras em que se deveriam sentar. O muenekongo mandaria vestir trajes reais a um individuo vulgar que sentar-se-ia no trono em seu lugar, O muenekongo, por sua  vez, usaria roupas simples e se manteria a um canto do recinto, em meio a multidão; Assim os hospedes, iludidos, iriam saudar o falso muenekongo e cairiam dentro do poço, este deveria ser imediatamente atafulhado com terra.
No dia marcado para a recepção, muene Luemba e seu filho Nzingo apresentaram-se munidos de uma esteira cada um, que levavam, enrolada, debaixo do braço.  Convidados a sentarem-se nas ricas cadeiras, pediram desculpas pela recusa e sentaram-se cada um em sua esteira, desviando-se das lindas esteiras e tapeçarias. Muene Luemba levanta-se logo depois, cortêsmente, olha ao redor e vê o muenekongo, pobremente vestido, acocorado em seu cantinho. Dirige-se então a ele e ajoelhando-se começa a contar-lhe a causa da sua presença e a de seu filho Nzingo, alí, naquela recepção.
Assistindo a isso, conselheiros e presentes começaram a aplaudir os reais hospedes. Em meio ao burburinho que se instalou, ouviu-se a voz de Nzingo, que explicou a longa estiagem das chuvas pela ausência de respeito as tradições  e aos  antepassados, pelo derramamento de sangue Bantu sobre terras Cabindas e pela violação contra as meninas virgens, pratica muito comum em todo o reino.
Tendo ouvido a tudo em silêncio o muenekongo mandou que muene Luemba e o principe Nzingo recolhessem-se aos seus aposentos. Reunido com seus conselheiros, de imediato legislou leis com punições severas sobre os assuntos que motivaram as queixas do principe Nzingo.
Uma vez tendo chegado às notícias à casa de muene Luemba, seu filho Nzingo solicitou autorização ao pai para ir sozinho dar um passeio ao ar livre. Nzingo então percorreu a cidade e por onde andava orava, abrindo os braços, olhos voltados para o céu..
O céu começou a toldar-se, carregando-se de nuvens escuras; Nzingo retornou à casa ; desencadeou-se então, pouco depois, uma tempestade de chuva fortíssima e contínua, por espaço de quatro dias. O muenekongo mandou seus conselheiros pedirem desculpas sobre o mau procedimento havido para com eles e que solicitassem ao Nkisi o favor de fazer cessar a chuva e a tempestade.
Na manhã seguinte, Nchiama coloriu o horizonte, ligando o céu à terra. Tudo voltara a normalidade.
Com o passar dos dias, Muene Luemba resolveu regressar ao Ngoyo e reassumir, embora tivesse de ser pela força, o cargo e a dignidade reais de que havia injustamente sido expoliado. Nzingo opôs-se primeiro a este intento do pai, mas depois cedeu aos seus desejos, tendo ido juntos fazer as suas despedidas ao muenekongo. Desta vez, o muenekongo mandou prestar-lhes honras  reais e não só concordou com a idéia  deles regressarem ao seu lugar como também mandou dar uma escolta de quatorze homens e víveres para tão exaustiva jornada.
Efetuada a longa viagem, penetraram no Ngoyo pela região do Sabe,  estacionando em  Cabimbe. Preparada a entrada na capital, o principe Nzingo recusou-se a seguir para lá com seu pai e fixou residência na povoação de Tumba.  Antes de separar-se do pai, Nzingo pediu-lhe que não consentisse por mais tempo a viollação de meninas virgens, como era comum, que proibisse com leis severas esse abuso tão vergonhoso.
Muene Luemba, tendo recuperado seu trono, decretou que nenhum homem pudesse tomar uma mulher sem que ela antes passasse pela cerimônia de Kuálica (Nzo takula).  Muene Luemba passara por muito desgostos e assim de tal modo se lhe foi arruinando a saúde, tendo um segundo reinado muito breve.
O seu falecimento entristeceu grandemente Nzingo que anunciou ao povo de Tumba hacer decidido ir-se embora dalí.
Na noite deste dia escutaram todos  grande trovoada ao que acompanhou-se chuvas torrênciais.
Na manhã seguinte,, as chuvas haviam cessado; nchiama coloriu o horizonte, ligando o céu a terra,  Porém, Nzingo desaparecera sem nunca mais tornar a ser visto.
Desde então, Nzingo passou a ser denominado  NTARI-A-NZAZE  (Pedra do raio),  Nkisi venerado como o senhor da justiça, protetor de mulheres e crianças.

                                 TRADIÇÃO ORAL BANTU (CABINDA).  OS CONTADORES DE HISTÓRIAS, CONSAGRADOS AO NKISI NDUNDU, MANTIAM A TRADIÇÃO VIVA CONTANDO AS LENDAS DO POVO, DOS NKISIS, SOB A LUZ DAS FOGUEIRAS, AO CAIR DA NOITE. ISTO ERA UM ACONTECIMENTO SOCIAL EXTRAORDINÁRIO, QUE REUNIA TODA A VILA E ERA MOTIVO DE GRANDE JUBILO E CONTENTAMENTO!




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KAMBAMI

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Jul 20, 2008, 11:29:37 PM7/20/08
to NZO UA NKE
Makuiu pange

Parece que agora entendi como funciona o site e estou aqui para dar o
meu parecer sobre tão linda lenda.
Bom em primeiro gostaria de dizer que trata-se apenas de minha
interpretação, logo podem haver os que ela conteste.
Na lenda é descrito o conto do nascimento de Nzingo dentro da cultura
dos Cambindas.
Está ao meu entender muito bem descrita e casada com os diversos
elementos que devem compor a força do Nkisi em questão.
Assim como quando analizamos algumas dessas lendas e as ligamos com
elementos da cultura Yorùbá e por ais motivos muitas vezes as
descartamos, tenho por princípio muitas vezes descartar as lendas
Yorùbá em detrimento da minha e explico o porque.
Nos estudos que faço de várias culturas fica muito claro não a
igualdade entre os "Deuses" se assim podemos dizer e sim em seus
elementos funcionais.
Nzazi é um elemento em nossa cultura que está relacionado tanto as
chuvas, ventos, raios e etc, porém vemos que na cultura Yorùbá o que
nos seia similar, trata-se de um ser que foi o 4º alafin de Oyó, mas
não muito obstante, lhe é também atribuido tais forças naturais.
Tenho uma lenda que foi trazida (não conheço o autor e nem a mesma foi
mencionada) onde é o seguinte:

LENDA DE NZAZI

Nzazi era muito voluntarioso e mantinha a ordem no seu reino pela
violência. O povo não gostava disso. Com as visitas de Lemba os
conselhos que ele dava, Nzazi ficou menos violento. O reino prosperou
muito.
Nzazi tinha em seu reino muitos cavalos e carneiros, que eram a sua
predileção. Um dia ele saiu com seus homens para conquistar novas
terras, e na sua ausência os carneiros foram roubados, e os que
restaram foram mortos. Sabendo do ocorrido Nzazi voltou correndo, mas
só escapou um casal de carneiros. Ele os levou para o reino de
Lemba,no céu (duilo),e pediu-lhe que cuidasse deles, e partiu atrás
dos ladrões.
Nzazi passou muito tempo procurando os ladrões, e chegou ao alto de
uma montanha que cuspia fogo, onde encontrou Uiangongo, aquele que
tinha o poder do fogo. Este lhe deu um pó mágico para combater os
ladrões, quando os encontrasse.
Passado algum tempo Nzazi achou os ladrões de seus carneiros, e lançou
sobre eles o pó mágico. Este se transformava em lava incandescente, e
acabou com todos os bandidos.
Acontece que enquanto Nzazi procurava os ladrões, às vezes ele ouvia
um ruído vindo do céu, "kabrum, kabrum"... A cada dia o ruído era
maior e mais frequente. Após acabar com os ladrões Nzazi foi ao reino
de Lemba para pegar seus dois carneiros de volta.
Chegando lá, Lemba explicou que devido à demora de Nzazi os carneiros
haviam procriado e se multiplicado, e que o barulho dos chifres deles
lutando uns com os outros se ouvia em toda parte , "kabrum, kabrum".
Nzazi levou os carneiros de volta, mas Lemba explicou que eles não
mais poderiam ser comidos, pois haviam sido criados no céu. Nzazi
concordou, e deu a Lemba um casal de carneiros como presente. Por isso
até hoje escutamos ruídos vindos do céu, "kabrum, kabrum".
De volta ao seu reino Nzazi explicou ao povo que aquele animal agora
era sagrado e não poderia mais ser comido. Contou suas aventuras em
busca dos ladrões, mas como muitas pessoas se interessaram pelo pó
mágico ele, com medo de ser roubado, resolveu guardá-lo em lugar
seguro, e engoliu o pó.
A partir desse dia começou a soltar fogo pela boca, e queimou todo o
reino com pedras incandescentes. Teve que se isolar, pois se ficasse
zangado começava a cuspir fogo. Só aparecia quando o povo estava em
perigo e o chamava. Ele então arrasava os exércitos inimigos com suas
pedras incandescentes.


FONTE - http://www.oxaguia.kit.net/leri.htm

Ainda tenho essa trazida pelo pange Sérgio conforme abaixo descrita:

A disputa entre Nzazi e o Arco-Íris
L’arc-em.ciel et La foudre – pág. 57/58 M3 – Yombe

A disputa entre Nzazi e o Arco-Iris
Mito dos Yombes


Tradução livre do Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
Iteusch, Lui de. Lê Roi Ivre ou L’origine de l’etat. Lês essais
CLXXIII, Gallimard, 1972

Um dia, Mbumba,o arco-íris, deixa sua caverna na beira da água e sobe
ao céu , onde vive Nzazi,o raio. Juntos constroem uma cidade e Nzazi
que é o chefe do céu, propôs confiar a chefia da cidade a Mbumba, mas
este não aceitou e volta à terra. Aqui chegando, se joga na água, mas
duas mulheres que estavam no rio pescando, haviam fechado a caverna
que servia de morada para Mbumba. Mbumba fica muito bravo, e as
mulheres tentam matá-lo, mas na disputa ele arranca o dedo de uma e
assombra a outra em forma de uma serpente que deixara a água vermelha,
fazendo com isso que todas as mulheres se evadissem do local. Após
isso, Mbumba volta para o céu e lá chegando, percebe que Nzazi teria
vindo pra terra a fim de matar seis homens. Nzazi não demora a voltar
e quando retorna saúda Mbumba com um ar zombeteiro. Mbumba reconhece
que Nzazi é o dono do céu e lhe oferece um escravo, mas ajuíza que se
Nzazi matá-lo haverá uma grande chuva torrencial. Nzazi não leva a
sério as palavras de Mbumba e esbofeteia o escravo que põe-se a
chorar.
Mbumba retorna à terra e procura seu amigo Phulu Bunzi que é o Senhor
da água. Ele pede a Phulu Bunzi que mate Nzazi. Phulu Bunzi então sai
da água com um grande aparato real e convoca Nzazi para um
procedimento mágico. Desde que Phulu Bunzi saiu da água a terra
inundou-se. Phulu Bunzi então estabelece uma disputa com o arco-íris e
conclui um pacto de amizade com Nzazi que volta para o céu.
Após isto feito, Phulu Bunzi espera o Arco-Íris em sua cidade e se
despede do mesmo num dia de muita chuva, e ao mergulhar no rio, que é
sua casa, percebe que seu filho está morto, mas o Arco-Iris diz a ele
que, se o mesmo render-se a ele e lhe pagar uma reparação, o menino se
salvará.. Phulu Bunzi não tendo como cumprir a exigência, decepa a
cabeça de Mbumba, o Arco-Íris, e manda enterrar seu corpo próximo a
paliçada e espetar sua cabeça sangrenta no mastro mais alto.

Este mito, refere-se a sazonalidade das chuvas e das estações secas.
Interessante notar que é um mito ligado ao povo Kongo, por isso, estou
quase certo, que encontraremos novos mitos referentes aos Mikices, se
procuramos no fabulário congolês.


Tenho outras colocadas no site de Tata Nkasuté ais quais não dei muito
crédito pelo fato de ver nelas muito mais de cultura Yorùbá do que de
cultura Bantu, porém para o Candomblé de Angola até servem como
referência, mas creio que não se enquadram na verdadeira cultura
Bantu.

Daí nossa grande dificuldade em separar o que foram lendas criadas
pelos mais velhos já em território brasileiro e baseados no
sincretismo e nas misturas de Nações e as lendas descritas em sua
origem Banta.

Mas tudo é válido, basta que tenhamos cuidado em não tentar desfazer
de algo já utilizado por outro mesmo que esse outro venha ser o
original em tempos memoriais, pois se assi o fizermos estaremos
acertando a cultura mas esquecendo da tradição.
Logo temos que entender o que vem a ser a cultura dos Bantu, que
possam ser resgatadas para nos dar um entendimento e a cultura da
tradição efetuada já em terras brasilis com todo o tempero que nos
fortaleceu até aqui.

Achei ótima sua postagem!

Pembele
Kambami

mukayangu

unread,
Jul 22, 2008, 5:09:39 PM7/22/08
to ngoyo-garc...@googlegroups.com
Não poderia esperar outro tipo de analise que não esta que li, escrita
pelo nosso querido irmão Kambami. Inteligente e observador logo nas
primeiras linhas, nosso irmão cita Nzingo. Pelo que entendo, a cultura
religiosa Bantu reune uma infinidade de divindades locais, regionais e
nacionais (reino de Ngoyo). Ora, Nzaze e Nzingo são na verdade um só.
Nzingo o homem e Nzazi a criatura divina (isto na mitologia Cabinda).
Seriam homens com exemplos de vida extraordinários que por isso
tornavam-se Nkisi (Ou seja, a raiz de uma familia, de uma vila, de um
local, etc;). No reino de Ngoyo haviam grupos identificados
singularmente (Cabindas, Villi, Jagas, ...)), cada qual com seu
panteão especifico. A uni-los, a ideia central de que Nzambi (Deus) é
unico, criador, que não interferia em assuntos cotidianos de sua
criação, já que sua função é apenas criar e não administrar (Esta é
uma maneira propria aos Bantus de entender Deus).
Porem o mais importante, na minha visão, é, conseguirmos resgatar as
lendas originais da Mitologia Bantu, fazendo a sua difusão.
Seu poder de analise e entendimento do que é ou não Bantu é vital para
esta pesquisa, meu querido irmão. Imagino que sua vida esteja com a
maior parte do tempo comprometida em assuntos diversos, porem,
conclamo a sua atenção para este tópico. As lendas Bantu eram formas
pedagogicas, utilizadas como metodo de ensino sobre normas sociais,
religiosas a políticas para todo um povo. Conhece-las era conhecer o
passado que servia como base para analizar o futuro. Pembele .....
Mukayangu

> FONTE -http://www.oxaguia.kit.net/leri.htm

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