O clima, portanto, é de cautela. E não é para menos. Este ano não foi um
balde, mas uma piscina de água fria para a economia brasileira. Em 2000, a
essas alturas, projetava-se um 2001 de vacas gordas, com crescimento do PIB
beirando os 5%. Mas o pacotão de más notícias (apagão, crise na Argentina,
desaceleração na economia mundial, crise na Argentina, recessão nos Estados
Unidos, atentados terroristas e, mais uma vez, crise na Argentina) mandou o
otimismo pelos ares. Há consenso de que a economia vai fechar o ano com uma
expansão na ordem de 2%, ou até um pouco menos disso. Para 2002, a projeção
é de que o crescimento seja o mesmo de 2001. Ou, no máximo, levemente
superior. A expectativa é de que o país colha outra safra histórica - a
deste ano, que chegou a 100 milhões de toneladas, foi uma das principais
responsáveis pelo crescimento no PIB. Também se espera que a indústria tenha
um ano melhor, principalmente com o afrouxamento das regras do racionamento.
Os juros devem cair já a partir do início de 2002, mas será uma queda muito
tímida, de no máximo dois pontos percentuais até o final do ano - a projeção
do Banco Central é de que a taxa Selic chegue em dezembro em 17%. "O próximo
ano vai ser este visto no espelho. Neste, no primeiro semestre as coisas
andavam muito bem, mas no final houve um desaquecimento. No próximo, o
primeiro semestre será difícil e, no segundo, a economia volta a crescer",
acredita o economista Marcelo Portugal, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFGRS).
Bombardeio - Apesar da cautela, a maioria dos empresários e executivos deixa
transparecer uma pontinha de otimismo. "Agora, estamos fazendo planos
conservadores, mas pretendemos melhorar em relação a 2001", revela Ivo
Grankow, diretor da catarinense Tigre. O raciocínio, em geral, é o seguinte:
o.k., o desempenho da economia foi decepcionante se comparado com o otimismo
generalizado no réveillon de 2001. Mas, levando em conta que houve um
bombardeio de más notícias, talvez crescer 2% seja até um feito. "Este ano
foi uma loucura. Tudo o que poderia acontecer, aconteceu. E, mesmo assim, a
coisa não está tão ruim", diz Luciano Pires, diretor de marketing da
fabricante de autopeças Dana. "Dificilmente vamos receber tantas notícias
ruins no ano que vem", aposta.