Bom dia
Li este artigo do NEJM
Finerenone with Empagliflozin in Chronic Kidney Disease and Type 2 Diabetes
DOI: 10.1056/NEJMoa2410659
e fez-me pensar
Estas são duas terapêuticas ainda dispendiosas para o SNS e para o utente.
A prevalência da patologia nas nossas listas de utentes desta condição é relevante porque muitos diabéticos acumulam DM2 e DRC inicial.
Aqui, vemos acréscimos de melhoria de cerca de 30% num resultado surrogado (microalbuminúria), sendo que este é, como sabemos um marcador flutuante e com resultados às vezes dispares em diferentes avaliações no mesmo doente.
Pedi ao chatGPT que calculasse o NNT e isto foi o que ele devolveu:
"✅ O que o estudo mostra:
O endpoint primário foi uma redução da razão albumina/creatinina urinária (UACR) aos 180 dias. De facto, o grupo com a combinação de
finerenona + empagliflozina teve uma redução 52% na UACR (vs. 32% com finerenona e 29% com empagliflozina isoladamente).
Esse resultado foi estatisticamente significativo, mas trata-se de um marcador substituto (surrogate endpoint) — um indicador de risco, não um evento clínico em si.
🔬 Tentativa indireta de estimativa de NNT (com base em metanálises):
O próprio artigo menciona que:
“Every 30% reduction in UACR was associated with a 27% reduction in a composite kidney end point comprising ESKD, doubling of serum creatinine, or eGFR <15”.
Poderíamos então estimar indiretamente:
-
Suponhamos que a
redução adicional de 20% na UACR (combinação vs. monoterapia) resulte num
risco relativo de eventos renais reduzido em ~18% (ajustando da metanálise).
-
Se assumirmos uma
taxa de eventos renais a 5 anos de 20%, então a redução absoluta de risco (ARR) seria de:
ARR=20%×18%=3,6% NNT=0,0361≈28
⚠️ Atenção: esta estimativa é altamente especulativa e baseada em extrapolações da literatura. O estudo em si
não fornece dados clínicos suficientes para um NNT robusto."
Partilhei convosco com a intenção de vos questionar sobre o vosso racional na transposição para a prática clínica destas evidências?
Uma leitura rápida e pouco reflectida (como a que ocorrerá, com certeza, na apresentação comercial destes resultados) pode indicar uma magnífica melhoria e uma intenção de passar a usar esta combinação em TODOS os doentes diabéticos com IRC.
No entanto, numa prática conscienciosa de custo-benefício, e sabendo que estas terapêuticas são onerosas para utentes necessariamente polimedicados e que realizam terapêuticas crónicas muitos anos (multiplicando os custos), qual será o nosso valor de corte?
A partir de que valor é relevante?
E o que faço com esta informação? Transmito-a ao utente? Sugiro-a aos mais ricos e sonego aos mais pobres?
Agradeço ler as vossas considerações
Obrigada
Carla Gouveia
P.S. Já agora, na senda de envolver o utente na decisão, acrescento e transcrevo o pedido do Prof. Carlos Martins na sua última newsletter do MGFamiliar:
Patient Decision Aid Standards - vamos construir
a versão PT 🥰
Caros Colegas,
Os auxiliares de decisão podem ser uma ferramenta muito útil para a nossa prática clínica. Para tal, é necessário que respeitem determinados padrões de qualidade. A
International
Patient Decision Aid Standards (IPDAS) Collaboration desenvolveu uma ferramenta
que permite avaliar a qualidade dos auxiliares de decisão médica: os Critérios IPDAS.
Num projeto da #H4A
Primary Health Care Research Network estamos a traduzir e a adaptar os Critérios
IPDAS para português. Esta será uma ferramenta que depois de validada será disponibilizada para todos vós e que no futuro vos permitirá validar qualquer auxiliar de decisão médica criado por vós.
Nesta fase, para conseguirmos validar a versão portuguesa dos Critérios IPDAS, precisamos da vossa ajuda através do preenchimento deste formulário:
É um formulário breve, 15 minutos, anónimo, em que para avaliar um pequeno auxiliar de decisão,
vos pedimos para aplicar os critérios IPDAS nas duas versões: português e inglês. É muito simples!