Um cinema de rua resiste aos ataques da especulação imobiliária

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Maria Alice Guardieiro

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Jun 24, 2012, 3:17:05 PM6/24/12
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O documentário  Metrópole 
A história do cinema de rua de Belo Horizonte.

  Fonte: Jornal Estado de Minas 


Fachada do Cine Pathé, na Avenida Cristóvão Colombo, em 1989 


Foi num casarão na Rua Goiás, de propriedade do dr. Hermínio Alves, que o público de Belo Horizonte assistiu à primeira sessão de cinema na cidade. Era julho de 1898 e a capital de Minas não havia completado nem um ano de vida, mas celebrava naquele momento um encontro mágico e eterno com a sétima arte. “No dia 2 de julho daquele ano, o comerciante Oscar Trompowski dava entrada na Prefeitura Municipal a um requerimento para que William Mardock, exibidor, tivesse ‘autorização para apresentar ao público desta cidade o aparelho de Edson (sic) denominado cinematógrafo’. A sessão foi realizada oito dias após. O Minas Gerais, na edição de 12 de julho, comentou o ‘variado espetáculo que nos impressionou agradavelmente pela perfeição e nitidez com que são representados os variados quadros de que consta o repertório do citado aparelho’’, lembra o crítico de cinema e cineasta Paulo Augusto Gomes, em seu artigo “100 anos de cinema em Belo Horizonte”. 

Ao longo das décadas, as salas de cinema foram brotando cidade afora. Assistir a um filme era um ritual, um grande evento, em que as pessoas costumavam vestir suas melhores roupas. Era um acontecimento para ver e para ser visto. “O cinema foi criado com o século 20 e era uma diversão nova. Estourou mesmo nos anos 1920 e virou um fenômeno de massa”, destaca Paulo Augusto.

Inicialmente, as salas se concentravam na área central de BH, como Cine Palladium, Brasil, Candelária, Metrópole e Jacques. A partir dos anos 1940 é que os bairros passaram a ter seus próprios cinemas, como o Progresso (Padre Eustáquio), o Santa Efigênia, o Santa Tereza e o Odeon (Floresta). “Na mesma rua, a gente encontrava vários, como é o caso da Padre Eustáquio, que tinha três, ou da Platina, no Prado, com dois. E o mais interessante é que essas salas eram gigantescas. Não tinha cinema com capacidade menor do que 500 lugares. Alguns chegavam até a 3 mil lugares e tinha público para isso. Hoje, você pode ter até mais salas dentro dos complexos dos shoppings, mas a capacidade é infinitamente menor”, comenta o cineasta e roteirista Bellini Andrade, que acaba de lançar o documentário Metrópoles, que resgata a história de 28 salas que deixaram de existir na capital. “O meu curta fala só de 28, devido a uma questão de logística e pesquisa, mas a cidade tinha muito mais”, acrescenta o diretor. 
 
Decadência 
Uma série de fatores levou à derrocada dos cinemas de rua não só em Belo Horizonte, mas em várias cidades do mundo, principalmente a partir da década de 1970. A especulação imobiliária, a questão da segurança e a dificuldade de mobilidade nos grandes centros urbanos, além de novas tecnologias, como o aparecimento da TV e posteriormente do VHS e do DVD. “É um fenômeno mundial e, na minha opinião, irreversível. Antes, o cinema estava à frente das outras formas de entretenimento, como o teatro e o restaurante, mas hoje não. Ele compete com outros veículos, como a televisão. Além disso, não há mais condições de um só prédio abrigar uma única coisa como era antigamente”, ressalta o crítico Paulo Augusto Gomes.

As salas de cinema tiveram que se adequar aos novos tempos e a solução encontrada foram os shoppings. Em Belo Horizonte, o único cinema de rua que resiste é o Belas Artes, e, no ano que vem, o novo Centro Cultural do Minas Tênis Clube, na Rua da Bahia, vai abrigar duas salas com capacidade para 60 lugares cada. Bellini Andrade acredita que o público consumidor da sétima arte mudou, principalmente por conta da modificação da programação que é oferecida. Hoje, o que se vê em cartaz, principalmente, são blockbusters norte-americanos e produções recheadas de artifícios de última geração. 

“E as salas também evoluíram. Você tem poltronas reclináveis, som ultramoderno, 3D. Antigamente, as pessoas saíam de casa para ir especificamente ao cinema. Hoje elas vão ao shopping para comprar, lanchar e, por acaso, ver um filme. Ele não é mais o motivo principal”, comenta Bellini, que ficou bastante surpreso com a reação dos espectadores que assistiram a seu documentário. “O tema é instigante e as pessoas realmente se emocionaram. Todo mundo tem uma história com o cinema. Quem viveu essa época não esquece”, ressalta.
Cine Metrópole 
. Rua Goiás, s/nº, Centro
. 1,3 mil lugares
. Fechado em 26 de maio de 1983
. Demolido para a construção de uma agência bancária
-- João Bosco Martins Salles

Filme com final triste
 

João Bosco Martins Salles

Publicação: 24/06/2012 04:00 

O prédio era um dos mais importantes da escola art déco de Belo Horizonte, com revestimento interno em mármore negro, verde e bege. A fachada era de pó de mármore. A imponência do Cine Metrópole impressionava quem passava pela Rua da Bahia e se deparava com o que é hoje um monstrengo que abriga uma agência bancária. Bons tempos aqueles em que depois das matinês das tardes de sábado ia-se à Confeitaria Suíça, quase na esquina da Afonso Pena, para comprar a bala beijinho.

O cinema tinha três andares, com ampla sala de espera no segundo pavimento, com poltronas e sofás de couro negro, e balcões no terceiro. As portas eram de ferro batido com aplicações de metal dourado, que davam um ar de nobreza naquele prédio onde era exibido o melhor da produção da sétima arte, numa região com traços ainda boêmios da cidade. 

Um dia, sem mais nem menos, a população de BH foi surpreendida com a notícia de que o lendário Cine Metrópole fecharia as portas para dar lugar a uma agência bancária. Naqueles tempos de ditadura, a sociedade civil não era tão organizada, mas houve um esboço de reação. De nada adiantaram os protestos de artistas, intelectuais e amantes da história de BH, tímidos, não há como negar. O Metrópole ficou apenas na memória de quem viveu aquela época
A última sessão de cinema
 
Impotente, a capital assistiu ao fim de espaços onde se respirava cultura, diversão e utopia de um mundo melhor 

Outras salas de rua desativadas
»Cine Art Palácio
. Rua Curitiba, 601, Centro 
. 1,2 mil lugares
. Fechado em 5 de janeiro de 1992 
. Hoje funciona no local uma loja de eletrodomésticos

»Cine Acaiaca 
. Avenida Afonso Pena, 867, Centro
. 818 lugares
. Hoje funciona no local a Igreja da Graça de Deus

»Cine Alvorada 
. Avenida do Contorno, 3.239, Santa Efigência
. 1,6 mil lugares
. Fechado em 31 de agosto de 1983 
. Hoje funciona no local a casa noturna Music Hall

»Cine Amazonas 
. Av. Amazonas, 3.583, Barroca
. 1,2 mil lugares
. Fechado em 29 de junho de 1983 Primeira tela Superama 70 mmde Minas
. Hoje funciona no local a Igreja Batista da Barroca

»Cine Candelária 
. Praça Raul Soares, 315, Barro Preto
. 2 mil lugares
. Fechado em 2000
. Funcionou no local um estacionamento, hoje está interditado

»Cine Eldorado 
. Rua Platina, 1.467, Prado
. 828 lugares
. Fechado em 1980 
. Hoje funciona no local uma oficina mecânica

»Cine Floresta 
. Avenida do Contorno, 1.665,Floresta
. 1,4 mil lugares
. Fechado em 3 de março de 1980
. Hoje funciona no local Lojas Elmo e Igreja Pentecostal Portas Abertas

»Cine Guarani 
. Rua da Bahia, 1.189, Centro
. Fechado em 31 de março de 1980
. Foi restaurado e no local funciona hoje o Museu Inimá de Paula

»Cine Horto
. Rua Pitangui, 3.612, Horto
. 1,1 mil lugares
. Fechado nos anos 1970
. Hoje é sede do Grupo Galpão

»Cine Independência 
. Avenida Silviano Brandão, 2.453, Horto
. 1,3 mil lugares
. Fechado em 31 de agosto de 1983
. Prédio demolido

»Cine Jacques
. Rua Tupis, 317, Centro
. 1,8 mil lugares
. Foi demolido para a construção do Shopping Cidade

»Cine México 
. Rua Oiapoque, 194, Centro
. 1,1 mil lugares
. Fechado na década de 1990 
. Hoje funciona no local um estacionamento

»Cine Nazaré
. Rua Guajajaras, 41, Centro
. 846 lugares
. Fechado em 31 de janeiro de 1994
. Foi a única sala de BH com Cinemascope

»Cine Odeon 
. Avenida do Contorno, 1.328, Floresta
. 1,2 mil lugares
. Fechado em 16 de dezembro de 1995
. Hoje funciona no local uma sauna masculina

»Cine Palladium
. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro
. 1,3 mil lugares
. Fechou em setembro de 1999
. Transformado no espaço multifuncional Sesc Palladium

»Cine Pathé 
. Avenida Cristovão Colombo, 1.328, Savassi
. 750 lugares
. Fechado em 18 de abril de 1999
. Imóvel tombado pelo patrimônio histórico, atualmente fechado

»Cine Pax
. Rua Coronel Alvez, 171, Cachoeirinha
. 300 lugares
. Sendo reformado pela Igreja Nossa Senhora da Paz

»Cine Progresso
. Rua Padre Eustáquio, 2.545
. 1,4 mil lugares
. Fechado em 23 de fevereiro de 1980 
. Hoje funciona no local a casa noturna Phoenix

»Cine Regina 
. Rua da Bahia, 484, Centro
. Hoje funciona como local de exibição de filmes pornográficos
. Tela de cinema desativada, usa projetores de vídeo 

»Cine Roxy
. Avenida Augusto de Lima, 1.213, Barro Preto
. 700 lugares
. Fechado em 1995
. Hoje funciona no local a galeria de lojas Feirashop

»Cine Royal 
. Avenida Afonso Pena, 381, Centro
. 1,2 mil lugares
. Funciona hoje no local templo da Igreja Universal

»Cine Santa Efigênia 
. Rua Álvares Maciel, 312
. 980 lugares
. Fechado em 22 de fevereiro de 1981
. Funcionou no local a casa noturna Lapa Multishow. Imóvel atualmente fechado

»Cine Santa Tereza 
. Praça Duque de Caxias, 39
. 1,1 mil lugares
. Fechado em 12 de fevereiro de 1980 
. Usado eventualmente para eventos culturais

»Cine São Carlos 
. Rua Padre Eustáquio, 75, Padre Eustáquio
. 780 lugares
. Fechado em 9 de fevereiro de 1980
. Hoje funciona no local uma gráfica

»Cine São José 
. Rua Platina, 1.827, Prado
. 780 lugares
. Fechado em 14 de fevereiro de 1980 
. Hoje funciona no local um teatro

»Cine Tamoio 
. Rua Tamoios, 502, Centro
. 710 lugares
. Fechado na década de 1990 
. Hoje funciona no local uma loja de roupas

Fonte: Bellini Andrade, cineasta e roteirista, que acaba de lançar o documentário Metrópoles
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Maria Alice
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Só sabemos com exatidão quando sabemos pouco; à medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida.Von Goethe(1749 1832)
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