magda
unread,Jun 28, 2008, 10:25:57 PM6/28/08Sign in to reply to author
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to MEDIACÃO PEDAGÓGICA E INFORMATICA EDUCATIVA
> *ROSELY SAYÃO
>
> Educar para a diversidade
Sobre o tema Diversidade , encontrei uma entrevista da revista Pátio
do ano passado muito interessante .
Compartilho com vocês alguns trechos e pontos de vistas de 4 dos
entrevistados sobre o tema .
Entrevista Especial:Conversa em torno da diversidade
Beatriz Vargas Dorneles - Gostaria de colocar uma questão para dar
início ao nosso debate.Como se pode levar em conta a diversidade
considerando-se que se tem um currículo escolar, uma forma de
avaliação, um professor que em geral não é formado para trabalhar com
essa diversidade e que deve ao mesmo tempo garantir o acesso aos
conteúdos, aos saberes, e permitir que a criança ou o adolescente vá
construindo essas informações? Será que isto é possível, ou é uma das
utopias educativas?
Carlos Alberto Torres - O tema diversidade tem a ver com o tema
identidade. Portanto, quando você discute diversidade, um tema que
cabe muito no pensamento pós-modernista, está discutindo o tema da
diversidade não só em idéias contrapostas, mas também em identidades
que se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E este é um processo de
aprendizagem. Uma segunda afirmação é que a diversidade está
relacionada com a questão da educação e do poder. Se a diversidade
fosse a simples descrição demográfica da realidade e a realidade fosse
uma boa articulação dessa descrição demográfica em termos de constante
articulação democrática, você não sentiria muito a presença do tema
diversidade neste instante. Há o termo diversidade porque há uma
diversidade que implica o uso e o abuso de poder, de uma perspectiva
ética, religiosa, de raça, de classe.
José Gimeno Sacristán - Creio que a colocação de Carlos Alberto teria
que partir primeiro da consideração de que há outras diversidades que
se relacionam com esses tipos de diversidade. A mim parece tendencioso
do ponto de vista intelectual, e perigoso do ponto de vista social,
que todo debate sobre diversidade se vá descolando até a interpretação
de identidade e que haja outros mecanismos. Tenho a impressão de que a
escola não poderá dar conta desse tipo de diversidades enquanto não
adquirir os mecanismos de comportamento frente à diversidade em geral,
não só frente à cultural.
Rosa María Torres - O tema da diversidade, como tantos hoje em dia,
abre para muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto
político e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, e
pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade de
reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e que a
escola deve adequar-se às necessidades de cada grupo. Porém, o tema da
diversidade também pode dar lugar a uma série de coisas indesejadas.
Por exemplo, está dando origem à focalização "na pobreza" e "nos
grupos desfavorecidos", que foi a tônica dominante nas reformas da
América Latina e de todos os países em desenvolvimento nos anos 90,
dentro da grande meta do "alívio da pobreza" com a qual se
autodesignou o Banco Mundial e atrás da qual se enfileiraram as demais
agências internacionais. Devemos revisar e repensar desde a
terminologia. Os grupos não são os "desfavorecidos", suas condições é
que são. Isto parece elementar, mas no Brasil, em particular, está
muito acentuado. O discurso da carência no Brasil é muito forte e
acabou aplicando-se à pessoa, e não às suas condições. Isto é uma
fonte de discriminação negativa, e não positiva. Outro fato é que, em
nome da diversidade, colocam-se juntos na sacola dos desfavorecidos as
mulheres, os indígenas, os deficientes físicos, as meninas grávidas,
os repetentes, os desertores escolares, os migrantes, etc. É uma lista
enorme dos desfavorecidos que recebem programas de discriminação
positiva. É muito lamentável que, em nome da diversidade, sejam
homogeneizados os que estão "fora de", os "não". No Brasil, foram
criados diversos programas de aceleração de aprendizagem, o que
significa justamente não reconhecer a diversidade, e sim construir
permanentemente muletas para a escola, a qual não reconhece a
diversidade e discrimina o diferente. Outra questão que é preciso
debater é essa idéia que foi sendo gerada de que a diversidade compete
exclusivamente ao mundo intra-escolar, de que o professor é que deve
encarregar-se de tratar de maneira distinta os alunos, que é uma
questão da pedagogia ou do currículo dentro da sala de aula, dentro da
escola, e que a pobreza e todos os outros fatores que contribuem para
a desigualdade econômica e social são temas extra-escolares, com os
quais a escola não se mete. Se não vemos a questão da diversidade de
modo integral, para além da escola, para além do sistema escolar, e
sim como uma questão de desigualdade fundamentalmente social e de
eqüidade social, os avanços que teremos serão mínimos. Gimeno
Sacristán - Creio que se acaba perdendo a referência. É uma linguagem
muito confusa. São "termos-ônibus", nos quais sobe todo mundo e cada
qual vai a um lugar distinto. Acontece o mesmo com construtivismo,
qualidade, globalização, neoliberalismo. São termos que vão
totalizando o discurso pedagógico. Creio que é preciso um exercício
rigoroso de análise, primeiro distinguindo tipos de desigualdades e
tipos de diferenças, porque de acordo com o que se chama de diferença
e de desigualdade se verá que tipo de políticas deverá adotar. Minha
primeira precaução é de não dar por pressuposta a linguagem que se
está impondo, roubando, por exemplo, a análise a partir da cidadania,
a partir da sociedade, e resgatando uma idéia tipicamente moderna. As
sociedades são plurais, diversas, as sociedades democráticas continuam
sendo-o muito mais e, dentro dessa diversidade democrática, deverão
ser introduzidas as outras diferenças que aparecem agora como
relevantes. Uma coisa é reconhecer a importância da cultura na
identidade dos sujeitos - que é importante, mas nem todos a sentimos
da mesma forma - e outra coisa é que a escola deva ter esse objetivo
como sua principal função. A escola tem que fazer "vistas grossas" de
certas diversidades, aumentar algumas e atacar outras. Essa análise é
de uma ótica mais rigorosa, porque do contrário são modas que aparecem
e desaparecem no panorama das discussões pedagógicas sem deixar nada
de concreto. Carlos Alberto Torres - Primeiro, há um problema de
poder; segundo, há um problema de linguagem. O problema de linguagem é
que o termo diversidade é utilizado diferentemente conforme a
construção histórica de cada uma das sociedades das quais estamos
falando. A Europa é diferente da América Latina e dos Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, a questão da diversidade entra em jogo em duas
pontas diferentes: com o movimento dos direitos civis, que é uma luta
política, e com toda a questão da incorporação de imigrantes há 150
anos, com culturas e linguagens diferentes. Creio que seja impossível
tentar conduzir a discussão da diversidade, se é que é possível
conduzi-la a partir da escola, porque a resposta que dá o professor é
muito interessante: se a diversidade reconhece as disparidades,
criemos mais diversidades, e é certo que há posições a esse respeito.
Por exemplo: onde aprende melhor uma menina, estudando apenas com
meninas ou com meninos? Onde aprende melhor um negro, estudando apenas
com negros ou em um contexto de diversidade? Isto é um problema de
poder, de linguagem e de paradigma. Nos Estados Unidos, a discussão de
diversidade foi cooptada pelo establishment, mais ou menos nos termos
em que falávamos. Para mim, é um problema de luta política tanto em
nível global como em nível da escola, estou de acordo. Como imaginar
que a escola possa dar uma resposta tentando classificar os problemas
da diversidade? Não é um problema de diversidade; é um problema de
estrutura política, social, de cálculo valoral.
Fernando Hernández - Tenho um problema com a diversidade: na escola,
ela é vista como uma doença que deve ser tratada. Existe uma
patologização da diversidade. A linguagem da escola insiste muito
nisso. Há programas para tratamento da diversidade. No discurso, é
algo que me parece muito importante, porque se vê como uma anomalia
dentro da escola e uma anomalia dentro do projeto da escola, que
existia para universalizar, para mostrar valores universais na origem
que pudessem ser compartilhados. As condições sociais do público da
escola foram modificando-se, ainda mais nos últimos anos, e começaram
a entrar indivíduos de outros lugares. Primeiro, entraram os que
tinham deficiência física, e logo os que vinham de outros lugares,
porém esse fato era uma anomalia dentro da escola. Então, lança-se a
idéia da diversidade, embora ela sempre tenha existido, apenas sem ser
reconhecida, porque o projeto da escola era homogeneizar a cultura
global. Aí se abre uma perspectiva da diversidade que a escola não
considera e que seria o lugar para despatologizar. Ou seja, os
indivíduos podem colocar-se para construir seu discurso, seu trabalho,
suas premissas dentro da escola a partir de lugares diferentes em
função de onde se colocam. Esses lugares diferentes podem ser funções
das questões de gênero, da cultura de onde se procede antes de entrar
ou não na cultura.