Rotacismo – “língua presa”

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mileide jesus

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Dec 4, 2009, 7:05:03 AM12/4/09
to Sociolinguística
Bom já enviei esta pesquisa por anexo, mais caso não abra, segue abaixo:
 

A partir de um comentário feito pelo professor Orlando a respeito de “língua presa”, fiquei curiosa e pesquisei um pouco sobre o assunto, e descobrir algo interessante chamado ROTACISMO, que todos nós vivenciamos.

 

Entrei um artigo do Jornal de Itapecuru, (Fonte: Edição 93 - 15/Dez a 15/Jan de 2004 / Publicada em: 15 de dezembro de 2004), que fala um pouco sobre esse assunto e a partir dele fiz uma introdução do que podemos compreender sobre Rotacismo – “língua presa”.

 

A Sociolingüística como ciência moderna trouxe valiosas contribuições para uma melhor compreensão da Língua, a exemplo da Antropologia que trouxe significativas contribuições para o campo da História. Dentre estas contribuições destacamos os fenômenos lingüísticos, iniciando a matéria pelo rotacismo.

 

Para quem não sabe Rotacismo, é um fenômeno Linguístico muito comum, mas que as pessoas não tem conhecimento, tendendo a agir com preconceito, assim chamamos de preconceito linguístico, em relação aos falantes que fazem tal uso. Rotacismo é a troca do R pelo L ou vice -versa.. o fonema que é alveolo-dental passa a ser palatal. Também pode ocorrer pelo fato da língua estar mais acomodada. Ao se falar pobrema ao invés de problema, o falante terá que levantar menos a ponta da língua, ocorrendo uma acomodação linguística, ou seja, é mais fácil pronunciar a primeira que a segunda palavra.

 

“Língua presa” é um problema que já vem desde o nascimento da criança. A língua fica presa dentro da boca por causa do freio curto que a impede de movimentá-la na amamentação, na sucção, na deglutição e, posteriormente, na articulação das palavras. Observamos esse encurtamento logo ao nascer por ser congênito. O bebê já nasce com esse freio curto de língua. O problema pode ser resolvido com uma cirurgia, seguida de fonoterapia, mais quanto antes melhor, para que o resultado seja o melhor possível. Nem todas as pessoas têm ciência de que esse problema pode ser resolvido desde cedo, por isso temos tantas pessoas com essa dificuldade, a situação financeira é um ponto muito importante, pois tudo isso tem gastos e nem sempre a saúde publica nos favorecem. 

 

Rotacismo é um fenômeno linguístico que faz parte do nosso dia-a-dia, pois convivemos com pessoas que possui essa dificuldade de pronuncia. Esse fenômeno é extremamente comum em Português, mas é extremamente mal visto pela maioria dos falantes da nossa língua.

 

Marcos Bagno em seu livro "Preconceito Lingüístico" (1999), apresenta essa questão de preconceito. Para melhor compreensão do assunto, transcrevo abaixo, fragmentos extraídos deste livro.

 "... Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam assim.”

 


Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço de" atraso mental "dos falantes" ignorantes "do português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão". Observe o quadro seguinte:

Branco

Blank

Germânico

Brando

Blandu

Latim

cravo

clavu

Latim

Dobro

Duplu

Latim

Escravo

Sclavu

Latim

fraco

Flaccu

Latim

prata

plata

provençal

prega

plica

Latim

O rotacismo teve sua participação na formação da língua portuguesa padrão na troca do L pelo R nas palavras acima, dentre outras. Em Os Lusíadas (poema), de Luís de Camões (texto original), encontramos as palavras frauta, frecha, pranta bem como a forma atual planta, flecha e flauta concorrendo no mesmo texto.

Existem, evidentemente, falantes da norma culta urbana, pessoas escolarizadas, que têm problemas para pronunciar os encontros consonantais com L. É o que popularmente se chama de "língua presa". Nesses casos, sim, trata-se realmente de uma dificuldade física que pode ser resolvida com uma terapia fonoaudiológica (...) Se dizer Cráudia, praça, pranta é considerado "errado", e, por outro lado, dizer frouxo, escravo, branco, praga é considerado "certo", isso se deve simplesmente a uma questão que não é lingüística, mas social e política - as pessoas que dizem Cráudia, praça, pranta pertencem a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sofre o mesmo preconceito que pesa sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada "feia", "pobre", "carente", quando na verdade é apenas diferente da língua ensinada na escola."

 

É muito comum ouvir dizer esse tipo de linguagem é de pobre, que só o podre, o desfavorecido fala dessa forma, isso é errado e preconceituoso, muitas vezes nos mesmo corrigirmos pessoas que pronuncia com essa dificuldade, e achamos que sabemos tudo que somos melhores, às vezes tentamos realmente ajudar, mais na maioria das vezes estamos sendo preconceituosos com aqueles que sempre usaram essa linguagem, ou porque aprenderam assim, ou porque a sua volta todos falavam dessa forma, ou até mesmo porque tem a “língua presa” e não tem condições para fazer um tratamento fonoaudiólogo.

 

Esse assunto leva a um estudo/discurso muito amplo, pois envolve alguns problemas como: a interação na sociedade, a própria sociedade, o lugar onde a pessoa/falante mora, como é a estrutura familiar, a classe social, problemas físicos, como a “língua presa”, também envolve a saúde pública, visto que muitas não tem condições financeiras para o tratamento, e entre outros.

 

Mais também nos trás uma lição de vida, que antes mesmo de julgarmos o modo como às pessoas falam, que possamos mesmo ser mais atentos/cuidadosos para não agirmos como preconceituosos e tentar assim formar uma sociedade um pouco mais acolhedora, mais compreensiva, mais humana, aprendendo a respeitar o próximo como ele é.

 

 

O jornal está disponível no site:

http://www.jornaldeitapecuru.com.br/Pagina83.htm,

 

 

Abraços a todos,

Mileide

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