NOTA DE REPÚDIO DA ABGLT EM RELAÇÃO À REPORTAGEM SOBRE O “CLUBE DO CARIMBO” APRESENTADA NO PROGRAMA FANTÁSTICO (REDE GLOBO)
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT – fundada em 31 de janeiro de 1995, com 20 anos de existência, é uma entidade de abrangência nacional com 308 organizações afiliadas e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.
A ABGLT vem através dessa nota manifestar-se totalmente contraria a forma como os meios de comunicação, em especial o Programa Fantástico da Rede Globo, que apresentou reportagens nos dias 15 e 22 de março p.p., sobre o suposto “Clube do Carimbo”. A forma da abordagem foi descuidada, sensacionalista e incentivou a criminalização da transmissão do HIV, reforçando o estigma e discriminação contra as pessoas que vivem com HIV/Aids.
Nossa associação soma-se às posições do Movimento Brasileiro de Pessoas Vivendo e Convivendo com HIV/AIDS; das ONG/Aids que lutam contra a epidemia; de vários outros Movimentos de Direitos Humanos, e do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde que se posicionaram contra esse tipo de abordagem em relação a transmissão do HIV.
Compreendendo que a dinâmica dos relacionamentos entre gays e outros homens que fazem sexo com homens não sejam de conhecimento da maioria da sociedade, cabe ressaltar que não se pode associar o Barebacking – pratica sexual desprotegida consentida entre dois homens adultos – e o nominado “Clube do Carimbo”.
A posição da ABGLT é de valorização da vida e incentivo ao uso do preservativo como método eficaz e de mais fácil acesso para a prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (IST). Contudo, estendemos que devemos respeitar o livre arbitrio das pessoas e a forma como elas querem se relacionar. Isso nos chama à atenção que quaisquer ações que implantem um pânico moral na sociedade - e um discurso sobre a criminalização da transmissão do vírus HIV - contribuem para o reforço de preconceitos, estigmas e discriminações e consequentemente para as ações de prevenção do HIV/Aids. Isto atinge principalmente as pessoas soropositivas, homens gays e homens que fazem sexo com homens. Além disso, desencadeia um impacto negativo em todas as respostas a epidemia, até então construídas pela sociedade civil organizada e os governos, para tentar frear os avanços da epidemia.
Conforme afirmação do próprio Ministério da Saúde, “o sexo desprotegido não é uma prática limitada às populações gays, evidentemente: de acordo com a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP) divulgada em janeiro, a maioria dos brasileiros (94%) sabe que o preservativo é a melhor forma de prevenção contra as DST e a AIDS, mas 45% da população sexualmente ativa do país não usou preservativo em relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. E mais: ainda segundo a PCAP, entre as mulheres, 86,8% dos casos registrados em 2012 resultou de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV”.
Vale ressaltar que importantes informações não foram apresentadas pelo Fantástico em ambas reportagens apresentadas, entre estas o fato de que uma pessoa em tratamento antirretroviral regular, e com sua carga viral indetectável não infecta outras pessoas com o vírus HIV. Também foi omitido o fato de hoje existirem novas metodologias de prevenção sendo aplicadas, como a facilidade de acesso aos testes rápidos de HIV e outras DST, as profilaxias pré e pós-exposição ao vírus, entre outros.
Desta forma; num momento crítico o qual vivemos aonde uma maré conservadora de forte viés discriminatório vem crescendo no país; as informações veiculadas pelo Fantástico - por seu sensacionalismo e sua pouca clareza quanto ao conceito da prática do “barebacking”, e pela própria constituição do “Clube do Carimbo”- até então baseada em fontes questionáveis na internet torna-se um desserviço a saúde púbica no Brasil e um retrocesso nas ações de prevenção especialmente entre a população chave mais vulnerável à epidemia.
A ABGLT aponta ainda para a necessidade de um maior diálogo sobre o tema com os Movimentos de HIV/AIDS, Movimento LGBT, de Direitos Humanos, e outros setores da sociedade para que a informação e a troca de experiências sejam as nossas principais ferramentas contra o obscurantismo, retrocesso e o policiamento dos corpos e do cerceamento dos direitos sexuais. Precisamos de uma sociedade mobilizada para o enfrentamento da epidemia de Aids e livre de discriminações, não de uma sociedade inquisidora.
ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
Nota Original: http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.php?cod=347
Alexandre Bogas
Fraga Gastaldi
Diretor Administrativo - Grupo
Acontece Arte e Política LGBT
Secretário Regional Sul ABGLT
Telefone: (48) 9982-5691 -
Florianópolis – SC
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