mario....@sapo.pt
unread,Nov 12, 2018, 10:16:41 AM11/12/18Sign in to reply to author
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Boa tarde.
Para que serve uma associação?
É estranha a forma como as pessoas se deixaram seduzir pelos
mecanismos institucionais (associações, federações, regulamentos,
etc.), parecendo que aqui está o centro da actividade, seja ela
desportiva, marcial, artística ou outra. É bom tentar saber não apenas
para que serve uma associação mas também saber para que não deve servir.
Parece-me mais ou menos óbvio que uma associação tem, sobretudo, uma
função de interligação com o resto da sociedade. Ou seja, diz
respeito a um enquadramento legal básico, à organização de eventos, à
cedência de terrenos, à “contratualização” de horários de prática, à
compra de materiais, à organização de eventos e assim por diante.
Quando uma associação é grande e gera um grande volume de dinheiro,
estes assuntos são tratados por profissionais. Contudo, na maior parte
das associações, de menor dimensão, são tarefas que cabem aos próprios
praticantes e normalmente apenas a uns poucos, nomeadamente ao
presidente da direcção. O presidente, que alguns pensam ser um
privilegiado, é aquele que tem de despender horas para tratar de
tarefas burocráticas monótonas, aquele que tem de organizar eventos e
muitas vezes também é quem vai orientar as aulas. Apenas quem
acompanha de perto este trabalho, ou quem o vivenciou, sabe os custos
que ele tem em termos pessoais e familiares.
Mas se uma associação tem um papel facilitador no que toca à ligação
com o “exterior” do grupo, ela é muitas vezes um empecilho para o
funcionamento saudável do grupo e para a sua lógica interna. Uma
associação de uma arte marcial não é um clube de futebol a que se
adere por causa da cor de uma camisa. Ela devia ser apenas um
invólucro que protege um interior que é precioso. As pessoas procuram
uma arte marcial por diversas razões – disciplina, saúde, beleza,
concentração, etc. –, mas não para fazerem parte apenas de uma
“associação”, que em geral não tem qualquer conteúdo simbólico em si
mesma.
Mas criada uma associação, que é um mecanismo legal, ela torna-se
potencialmente não apenas num instrumento de busca de poder mas também
num meio de intimidação. Ela parece ser o “lugar” onde se podem
resolver conflitos e chegar a consensos. Na verdade, quando chegamos a
este ponto já está praticamente destruída qualquer possibilidade de
companheirismo. E é bastante natural que as pessoas tenham
divergências e mesmo incompatibilidades. Mas não existem mecanismos
institucionais que resolvam estas coisas garantindo a “felicidade” de
todas as partes.
Só hoje tive oportunidade de ler as trocas de mensagens que ocorreram
neste espaço nas últimas semanas. Face aos desencontros existentes,
aparentemente insanáveis, acho que só há duas saídas:
1. Assumir que a APK tem apenas um carácter instrumental e que deve
estar alheada de todas as questões pessoais. Se há dois ou três grupos
de pessoas incompatíveis entre si, então, que façam as suas práticas
autónomas, que escolham quem quiser para os orientar, mas chamem
apenas a APK para questões administrativas e não como instrumento de
poder;
2. Dissolver a APK e criar várias associações paralelas, separando
radicalmente os grupos. Naturalmente que isto implica alguma
duplicação de esforços e os grupos menos organizados podem facilmente
chegar ao fim, mas pode criar para cada um deles um espaço que seja
“confortável” a todos os níveis.
Nota 1: Não sou ingénuo ao ponto de achar que alguma das minhas
propostas vai ser seguida, e apenas as apresentei por dever de
consciência. Bem sei que existem “dinâmicas” e inúmeras questões
latentes, que vão muito para além do que é dito, que não se resolvem
facilmente.
Nota 2: Não fugi a tomar uma “posição”. Quem me conhece sabe qual é a
minha lealdade. Mas não acho que isso sirva para alguma coisa agora.
Escolher posição num contexto “associativo”, ainda para mais em canal
semiaberto, é reforçar o poder indevido que das associações têm,
substituindo-se às relações directas entre as pessoas.
Cumprimentos,
Mário Chainho