Lenio foi preciso
O jurista Lenio Streck, integrante do Grupo Prerrogativas, criticou a cobertura da Rede Globo e de seu canal de notícias, a GloboNews, na guerra entre Ucrânia e Rússia.
Ele escreveu no Twitter: “O que quero – e quis – dizer é que a cobertura da guerra é patética”. A Globo é Demais!! Batem a cabeça.
Entrevistam até o pipoqueiro. Fazem drama. Pegam a lágrima. E surgem “n” especialistas tipo “veja bem”. Platitudes. Até parentes de ucranianos de Maringá entrevistam! Risível”.
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O historiador Rodrigo Ianhez mora em Moscou e é especialista no período soviético. Ele foi convidado pela GloboNews para comentar o ataque da Rússia contra a Ucrânia. Ele foi desrespeitado pelo apresentador Jorge Pontual depois de sua participação em 24 de fevereiro.
Rodrigo explicou o que aconteceu no Twitter: “Peixe morre pela boca. Falta absoluta de respeito e profissionalismo. A @GloboNews me chama para apresentar a visão russa da questão, cortam minha participação e o dinossauro Jorge Pontual dá um chilique me achincalhando sem qualquer direito de resposta.
Já coloquei aqui e repito. Essa guerra é uma tragédia. Fui atacado justamente por criticar o Pútin, mas Jorge Pontual não admite nada que fuja minimamente do script dos Estados Unidos da América ao qual ele serve.
O mais indignante é que me pediram para apresentar a posição russa. A todo momento eu pontuei: segundo o governo russo, segundo Pútin, segundo a imprensa russa…”.
As críticas à TV Globo referem-se ao extenso histórico de controvérsias nas relações desta rede de televisão brasileira com a sociedade do país.[1] A emissora possui uma capacidade sem paralelo de influenciar a cultura e a opinião pública.[2]
A principal polêmica histórica da estação televisiva e das Organizações Globo (hoje Grupo Globo) está ligada ao apoio dado à ditadura militar e à censura dos movimentos pró-democracia nos noticiários do canal. O regime, segundo os opostos à emissora, teria rendido benefícios ao grupo midiático da família Marinho, em especial para o canal de televisão que, em 1984, fez uma cobertura omissa das Diretas Já.[3] A própria Globo reconheceu em editorial publicado no jornal O Globo, 49 anos depois e pressionada pelas manifestações de junho de 2013,[4][5][6] que o apoio ao golpe militar de 1964 e ao regime subsequente foi um "erro".[7]
No final da década de 1980, a emissora novamente foi alvo de críticas devido à edição que promoveu do último debate entre os candidatos a presidente na eleição de 1989, o que teria favorecido Fernando Collor de Mello.[8] No final da década de 1990, as Organizações Globo enfrentaram diversos problemas financeiros que teriam sido aliviados pelo Estado, apesar de se tratar de uma empresa privada.[2] Durante o período, a emissora utilizou-se de sua influência entre os políticos para conseguir mudar um artigo da Constituição Federal, no qual permitia a entrada de 30% de capital estrangeiro nas empresas de mídia.[2]
Em 2002, o governo federal ofereceu ajuda de 280 milhões de reais à Globocabo através de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).[2] A emissora voltou novamente a ser alvo de críticas pela cobertura supostamente tendenciosa das eleições de 2006 e 2010.
"Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada. Quando a nossa redação foi invadida por tropas anti revolucionárias, mantivemo-nos firmes em nossa posição. Prosseguimos apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o atual processo de abertura, que se deverá consolidar com a posse do novo presidente." |
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A TV Globo foi fundada em 1965, um ano após o golpe de estado de 1964 e se consolidou como maior rede de televisão do país durante a década de 1970. Neste período, o regime militar implementou uma política de modernização das telecomunicações. Em 1965, criou a Embratel, e o Brasil se associou à Intelsat.[10] Em 1968, foi criado o Ministério das Comunicações e, no mesmo ano, surgiram as primeiras emissoras de rádio FM e foi criada a AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas), que reforçava a necessidade de propagar ideais ufanistas e nacionalistas. Em 1969, o país se integra ao sistema mundial de comunicação por satélite.[10] A intenção do regime era se opôr à hegemonia cultural caracteristicamente de esquerda da época.[10] Uma de suas armas para isso teria sido a televisão, tendo o regime feito vistas grossas à parceria, vetada por lei, entre Roberto Marinho e a multinacional Time-Life, o que contribuiu para o salto tecnológico da TV Globo.[10]
Segundo o Grupo Globo, o jornal O Globo apoiou o golpe militar de 1964 fazendo parte de um "posicionamento amplamente majoritário" contra o governo do presidente João Goulart.[11] Afirma também que Roberto Marinho acreditava na vocação democrática do presidente Castello Branco e na eficácia da política econômica desenvolvida por Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões.[11] Em 2013, o Globo reconheceu, através de um texto publicado em seu site, que o apoio ao golpe de 1964 foi um erro. O texto acompanhou a publicação do projeto "Memória" que recuperou os 88 anos de história do jornal O Globo. Nele, a instituição afirmou que o apoio à intervenção dos militares se deu pelo temor de um outro golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart com apoio dos sindicatos.[12][13]
O grupo nega que o crescimento da TV Globo se deu graças à estreita ligação de Roberto Marinho com o regime implantado em março de 1964, citando como exemplos disso a dificuldade em obter concessões para canais de televisão em João Pessoa e Curitiba em 1978, alguns casos de censura a sua programação, além do fato de que alguns de seus profissionais eram membros do Partido Comunista Brasileiro.[11] No entanto, como apontou Renato Ortiz, a censura não era generalizada, uma vez que "sua principal função era impedir a emergência de determinadas ideias, notícias, publicações que estivessem contrárias à lógica ditatorial de difundir ideais de progresso, harmonia e desenvolvimento".[10]
Em sua autobiografia, no entanto, Walter Clark, diretor-geral da TV Globo, confessou ter cancelado os programas de Carlos Heitor Cony e Roberto Campos para satisfazer o coronel Gustavo Borges, chefe de polícia no estado do Rio de Janeiro. Além disso, Clark afirmou ter contratado um ex-diretor da censura para "ler tudo que ia para o ar" e uma "assessoria especial" formada pelo general Paiva Chaves, pelo civil linha-dura Edgardo Manoel Erickson ("pelego dos milicos", conforme disse) e mais "uns cinco ou seis funcionários". Além disso, relatou receber o presidente Emílio Garrastazu Médici em seu gabinete na Globo, onde assistiam aos jogos de futebol exibidos pela emissora aos domingos. Segundo ele, o denominado "padrão Globo de qualidade" acabou "passando por vitrine de um regime com o qual os profissionais da TV Globo jamais concordaram". [14]
Em entrevista ao documentário britânico Beyond Citizen Kane, o ex-ministro da Justiça (1974-1979) Armando Falcão afirmou que "o doutor Roberto Marinho nunca me criou qualquer tipo de dificuldade. Eu, ministro-censor, ele diretor do jornal O Globo, da televisão Globo, da Rede Globo, da Rádio Globo, da Rádio Mundial, da Rádio Eldorado, ele nunca me criou dificuldade".[15] O próprio Médici chegou a afirmar, sobre o Jornal Nacional, em entrevista: "Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho".[15] Em 2012, um ex-delegado do Dops relatou a proximidade entre o regime e a Globo.[16]
Em 2013, o Grupo Globo reconheceu e desculpou-se publicamente, através de um editorial publicado no jornal O Globo e que também foi lido por William Bonner durante o Jornal Nacional, por terem apoiado a ditadura militar instaurada no país depois do golpe militar de 1964. No texto do editorial, o jornal afirma: