O cérebro dos homens não é igual ao das mulheres.
Um Transexual é um ser que nasce com um cérebro de um sexo no corpo de
outro sexo. Como não podemos modificar o cérebro, modifica-se o corpo.
(Dr. João Décio Ferreira – Cirurgião plástico)
O caminho é longo e doloroso. Os pais dos transexuais sofrem, zangam-
se, têm dúvidas, sentem responsabilidade no que aconteceu e a maior
parte das vezes nem sabem bem do que se trata.
Depois de perder um bébé com 3 anos de uma forma súbita e trágica, o
mundo desabou. Ao fim de cinco anos fiquei grávida e sempre pensei que
seria um rapaz.
Quando nasceu uma menina a alegria foi a mesma, a infância foi normal,
a adolescência é que não. Hoje, olhando para trás, vejo os pequenos
sinais de alarme que foram crescendo ao longo do tempo até ir a uma
psicóloga, aos 19 anos, que me telefona a dizer do risco de suicídio.
E quando em conversa me diz que finalmente sabe que é um transexual,
fiquei desorientada a perguntar:
- Mas o que é isso?
Fui ver documentários, ouvi palestras dos canais estrangeiros que me
falavam em prostitut@s, vida nocturna e descriminação social e eu
sabia que não era nada disso.
Então dirigimo-nos, meu marido e eu, a um psiquiatra e falámos
longamente com ele. Foi aí que percebi que não valia a pena lutar, mas
sim apoiar, aceitar, ajudar.
A alma mais que os olhos chora de tristeza, de angústia, de aflição. E
agora? A minha linda filha vai ser escortejada, amputada? E se não
corre bem? Como vai a sociedade aceitar isto? E a família, o que vai
dizer?
O caminho é duro, é longo, é difícil, mas se os pais apoiarem e
aceitarem, lá chegaremos.
Primeiro veremos a mudança da parte exterior, a seguir as operações,
mais tarde a luta pela mudança de nome, a busca de empregos que lhes
são negados só porque são diferentes. Graças a Deus têm um médico
extraordinário que os trata como família, que se preocupa, que os
opera, que os ajuda. À medida que vão avançando no processo, mostram-
se mais felizes, mais confiantes, com vontade de viver.
E nós pais? Vamos pô-los de parte como fazem os outros? Vamos obrigá-
los a ser o que não são? Vamos chantageá-los com dinheiro, ameaças,
etc?
Finalmente temos que pensar que se nós sofremos, eles sofrem o dobro.
Sofrem mais que os homossexuais e as lésbicas que não têm que se
sujeitar a operações difíceis e dolorosas, nem têm que mostrar o B.I.
de mulher quando fisicamente são homens e vice-versa; que não têm que
se sujeitar a um exame desumano no Instituto de Medicina Legal, que
não têm que ir ao Tribunal e em frente de um Juiz justificar o pedido
de mudança de nome e de sexo legal.
E isto dura anos e anos.
Eu perdi uma filha triste, fechada e revoltada, mas ganhei um filho
feliz, forte e com garra de viver.
Deveríamos fundar uma associação de pais de transexuais?
Talvez ajudasse falarmos uns com os outros, mas de uma coisa tenho a
certeza; é nossa obrigação de pais, pelo amor que lhes temos de os
ajudar até a exaustão, de compreender mesmo não compreendendo bem e
sobretudo de os amar e apoiar incondicionalmente.
De uma mãe (69 anos).