A ilusão mora em cima da minha cabeça
e tem quatro patas.
A ilusão raspa às vezes
o assoalho e sinto
suas unhas
em mim.
Às vezes, só galopa,
como um cavalo em fuga, mas a ilusão
não tem para onde fugir.
Nem é cavalo,
bicho bonito que quando corre direito não faz
barulho.
O mundo todo faz muito barulho.
A ilusão faz muito barulho,
todo o tempo
tromba nos móveis, derruba coisas,
até quando dorme respira alto.
E, quando acorda, gane.
É o jeito de chorar da ilusão,
sempre
sozinha
e presa.
Eu não estou presa.
Posso sair debaixo da ilusão,
andar ao sol,
mas não quero.
Quero ficar na minha casa e quero
que a ilusão me deixe.
É preta a ilusão.
Preta e feia,
melhor dizendo, atarracada,
tem pernas curtas,
pelo
curto,
em nada parece um labrador.
Um dia ainda falo com seu dono: sabe,
me custa crêr que a Maia
tenha raça.