Na beira de tudo, resta um desejo.
E vê que ainda queima,
mesmo depois de arder,
mesmo se quase cinza.
Dentro,
o que parece
é a aparência,
bela,
dentro,
uma tempestade de formas se forma,
rumores
de outras terras,
longínquas,
conchas,
homens ao mar, o que
importa?
O gavião no beiral
todos os dias espera,
em horários distintos, às vezes grita,
às vezes não.
O gavião, se não acorda,
vai embora desolado
e desola.
Mas hoje gritou,
mesmo depois
de visto.
O fogo
consumiu um depósito
de coisas para reciclagem,
durante a noite,
inquieta
a perda
sentida
do que já se perdeu.
Quando o conheci, era um general, acho que
sim,
sua dor é tão sincera,
talvez fosse um menino.
Tinha uma zanga com o amor,
ainda tenho,
acho que o amor
para mim
é enganador,
mas acho que a enganadora sou eu,
perdendo tempo,
na poesia,
enquanto perco
você.
Sabe o que acho?
Na beira de tudo, resta tudo.
E um abismo.