Os desvarios de Patrícia

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Patrícia Reis Alvim

unread,
Aug 17, 2010, 11:35:49 PM8/17/10
to patricia_...@hotmail.com
O mundo cabe todo em uma folha de jornal.
Ou pelo menos a ilusão dele.
Madame lhe dizendo o que vai ser de você,
detetive descobrindo o que não pode ser,
relax, programas, garotas e afins.
 
Aqui e ali, mineração,
porque tudo é escavar,
é ferro,
debaixo da terra se esconde um tesouro.
 
Debaixo da terra e nas padarias.
 
O mundo todo cabe e é incabível,
absurdo e engraçado, visto assim de perto,
e reunido,
até as mazelas são engraçadas,
até a inveja,
a cobiça,
as disputas
(judiciais ou não).
 
O mundo todo cabe em uma folha de jornal,
se na manhã acordo vendo você de olhos fechados,
sua boca
me falando
o exato contrário do que se passa
à minha volta, e é tão bom
ter de novo dezesseis anos.
 
Quando eu queria ser exatamente:
cartomante,
detetive
e, relax,
uma garota.
 
Naquela folha de jornal, tem meu coração
e várias inutilidades.
 
Você é uma inutilidade
que também cerca meu coração.
classificados.jpg

Patrícia Reis Alvim

unread,
Aug 18, 2010, 8:54:23 AM8/18/10
to patricia_...@hotmail.com
E se de manhã eu acordo e não vejo você
de olhos fechados me dizendo as coisas,
inverdades,
tolice,
estremeço.
 
Fico cega à luz do dia.
 
Tirar a ilusão parece uma coisa boa,
mas deixa a gente
desiludida.

Patrícia Reis Alvim

unread,
Aug 19, 2010, 12:25:54 PM8/19/10
to patricia_...@hotmail.com
 
Quando veio o câncer, ele cansou.
 
Era um touro.
Veio o infarto e lhe arrancou metade do coração.
Com a metade que ficou, ficou vivendo,
anos a fio,
um touro bravo,
feliz, mas de vez em quando triste,
com o coração em queda,
é como despencar pra dentro,
parar um instante no tempo,
com uma pequena aflição:
e se eu morrer?
 
Mas isso ele não falou com ninguém.
Sei porque também sinto,
filha de pai.
 
Até que veio o derrame
e o sangue espalhou pela cabeça
dura,
também sarou e foi bom,
que o evento amoleceu
um pouco
o meio
coração
bravo.
 
Depois do derrame, umas isquemias,
duas, três,
quantas?
 
O sangue parado no vaso
dava sustos,
um vácuo
e às vezes dor de cabeça,
mas nem sempre.
 
Às vezes as dilacerações são tão silenciosas.
Sim, sei porque sou aquela:
filha de pai.
 
E teve umas gripes,
fortes, o dia em que enfiou o pé inteiro na água
fervendo da inalação,
novidades que eu esqueci
e o mais grave:
a melancolia constante.
 
Devia ser saudade da metade perdida do coração.
 
Essa o acompanhou,
nos assobios constantes,
escondida no bojo do violão,
dentro daquele buraco escuro, sabe? Atrás das cordas
que vibram,
então, ela o acompanhou,
na sombra,
até o fim.
 
Quando veio o câncer
e ele cansou.
 
Daí, eu abri a janela.
E ele descansou.
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