Jorge Barcellos (*)
No dia 8 de junho foi realizada a IV Jornada Sandra Jatahy Pesavento: arquivos pessoais, trajetórias intelectuais e estudos de gênero no Centro Histórico Cultural Santa Casa. O evento foi uma realização do Centro Histórico Santa Casa, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, Fundação Nacional de Arte e Ministério da Cidadania do Governo Federal, com diversos patrocinadores como o Banrisul, com o apoio da Câmara Municipal de Porto Alegre e outras entidades.
Composto por duas mesas principais. A primeira mesa tratou do tema “Arquivos pessoais e sua importância na trajetória de intelectuais“, conduzida pela Dra. Maria Teresa dos Santos Cunha (UDESC/SC), Dr. Antônio Herculano Lopes (FCRB/RJ) e Dra. Nádia Maria Weber Santos (UFG/GO e IHGRGS).
A segunda mesa tratou do tema “Contribuições da trajetória intelectual da historiadora Sandra Jatahy Pesavento para os estudos de gênero”, conduzida pelas mestres Luciana Gransoto (UFSC/SC) e Anelda de Oliveira (IHGRGS), além do Dr. Vanderlei Machado, do Colégio de Aplicação da UFRGS. A conferência de encerramento esteve a cargo da Dra. Joana Maria Pedro, Presidente da Anpuh Nacional.
Daí que os dois temas escolhidos para a organização do Seminário tenham ampla relação com a temática de organização de arquivos e possibilidades de pesquisa. O arquivo de Sandra Pesavento é exemplo de notável de uma trajetória pessoal, já que a historiadora era detalhista, metódica, atenta a documentação e registrou detalhadamente o seu processo de produção intelectual. Inúmeros pesquisadores, em maior ou menor grau, hoje detém acervos pessoais produtos de uma vida de trabalho. Arquivos sobre futebol de várzea, Universíade de 1963, moda, e tantos outros aguardam política públicas para sua preservação. Não é concebível mais a imagem de acervos que se destroem pela venda de bibliotecas e desinteresse de familiares: ao contrário, é urgente a realização de um mapa dos acervos pessoais do estado, estudo de referência para a reflexão sobre políticas públicas de memória para acervos pessoais. Quem e onde estão nossos acervos? Tem apoio público ou não? O que precisa ser feito? O tema já foi levado ao conhecimento do deputado Sebastião Melo (PMDB) para estudos e aguarda-se a continuidade do debate. Por outro lado, o seminário avançou no tema dos estudos históricos de gênero, onde Pesavento foi uma percursora. Seu trabalho detalhou a vida de mulheres, sejam vítimas de violência no passado ou daquelas que davam os primeiros passos em relação à sua autonomia. A própria autora foi um exemplo de pesquisadora que inovou e inspirou uma série de historiadoras em suas pesquisas.
Com pesquisadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro, a IV jornada Sandra Jatahy Pesavento é o reconhecimento da importância que tem acervos na preservação da memória, a necessidade de trabalho para sua organização e muita pesquisa para a consolidação da história. É um trabalho inspirador para várias correntes de estudos, especialmente para história política: no Memorial da Câmara Municipal de Porto Alegre encontram-se acervos pessoais de vereadores, razão do apoio da instituição ao evento mas também o entendimento de que deve-se aprofundar os estudos das biografias de políticos já que, em grande parte, a história dos vereadores ainda está por ser escrita. Isso é apenas uma das repercussões do evento, já que diversos acervos pessoais de vereadores já se encontram organizados, mas a necessidade de pesquisa ainda é um dos eixos de trabalho das equipes e objeto de pesquisa para novas gerações de historiadores.
(*) Historiador, Mestre e Doutor em Educação. Autor de O Tribunal de Contas e a Educação Municipal (Editora Fi, 2017) e “A impossibilidade do real: introdução ao pensamento de Jean Baudrillard (Editora Homo Plásticus,2018, é colaborador de Sul21, Le Monde Diplomatique Brasil, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e do Jornal O Estado de Direito. Mantém a página jorgebarcellos.pro.br.
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Editoria: Opinião PúblicaPalavras-chave: História, memória, Sandra Pesavento