Oportunidades!

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Marisa

unread,
Apr 27, 2007, 11:31:59 PM4/27/07
to Grupo de Estudos de Hermenêutica Jurídica
Pois é pessoal, as oportunidades nos estão sendo dadas, agora é
apreveitar o máximo, acredito que podemos ser uma turma unida e
superar todas as expectativas da Profª Liza, afinal, ela está
apostando no nosso potencial!!!

Liza

unread,
May 1, 2007, 5:19:29 PM5/1/07
to Grupo de Estudos de Hermenêutica Jurídica
A hermenêutica e a ideologia

A ideologia pode ser entendida como um sistema (que possui sua lógica
e seu vigor próprios) de representações (imagens, mitos, idéias e
conceitos, segundo os casos), dotados de uma existência e de um papel
histórico no seio de uma sociedade dada, trata-se de um sistema
sistemas de representações imaginárias que os indivíduos fazem de suas
reais condições de existência social, de modo que toda e qualquer
prática existe através e sob uma ideologia.

São, em suma, sistemas de idéias, representações sociais que abrangem
as idéias políticas, jurídicas, morais, religiosas, estéticas e
filosóficas dos homens de uma determinada sociedade. Contudo, note-se:
não são representações objetivas do mundo mas representacões cheias
de .elementos imaginários. Mais do que descrever uma realidade,
expressam desejos, esperanças, nostalgias. As ideologias podem conter
elementos de conhecimento, porém nelas predominam elementos que têm
uma função de adaptação à realidade. Os homens interagem entre si e
com o mundo dentro da ideologia. É ela que forma e conforma nossa
consciência, atitudes, comportamentos, para amoldar-nos às condições
de nossa existência social.
Tanto em uma sociedade sem classes como em uma sociedade de classes, a
ideologia tem como função assegurar uma determinada relação dos homens
entre si e com suas condições de existência, adaptar os indivíduos as
suas tarefas fixadas pela sociedade. É, portanto, a ideologia que
fornece aos indivíduos de uma dada formação social uma certa
homogeneidade nos modos como interpretam o mundo, nas suas maneiras de
sentir, querer, julgar, e de se conformar às suas condições reais de
existência. Ás formas particulares da ideologia podem variar muito,
desde os mitos das sociedades primitivas, até as distintas e acirradas
formas de ideologia da sociedade moderna. Contudo, numa sociedade de
classes, ideologia é sempre a da classe dominante, pois é essa,
através do usufruto do poder, que dá nome e sentido às coisas.
"A ideologia é, numa sociedade de classes, uma representação do real,
mas necessariamente falseado, dado que é necessariamente orientada e
tendenciosa, e é tendenciosa porque seu fim não é dar aos homens o
conhecimento objetivo do sistema social em que vivem, mas ao
contrário, oferecer-lhes uma visão mistificada desse sistema social,
para mante-los em seu lugar no sistema de exploração de classe." Nessa
medida, a falsidade não é um componente necessário e permanente da
ideologia, mas contingente e acessória, devendo porisso ser
historicamente explicada.
Sabemos que toda formação social, para sobreviver, deve reproduzir
as forças produtivas e as relações de produção existentes. A condição
da produção é, portanto, a reprodução das condições dessa mesma
produção. Numa sociedade de classes, a ideologia da classe dominante
busca conformar os homens à imutabilidade do sistema para garantir sua
reprodução e preservação. O papel mais saliente da ideologia é o de
cristalizar as cisões da sociedade, fazendo-as passar por naturais.
Desse modo, a ideologia não aclara, ou melhor, não diz a realidade,
nem procura dizê-la, mascara-a, homogeneizando os indivíduos aos
clichês, slogans, termos abstratos, signos ocos, que têm por função
fazer passar por eternas condições sociais que são históricas e
relativas. Essa teia de ilusão, aliás, tem se expandido a partir do
séc. XIX, quando o estilo burguês-capitalista-consumista de viver,
pensar, querer e dizer se esparrama a ponto de dominar a terra
inteira. Nessa medida, torna-se ingênuo não somente vangloriar-se de
não se estar contaminado pelo consumismo burguês, como também atacar a
burguesia como se ela já não tivesse penetrado a moldura de nossas
consciências. Esse esteriótipo do viver, pensar, agir, sentir. . . já
está, aliás, estampado em nossos sorrisos sociais, espécies de para-
choques mímicos, retrato da dominação ideológica que nos amolda no
sentir e querer para camuflar cisões mais profundas.
"É por tudo isso que a ideologia não pode ser entendida apenas como
algo que ocorre na cabeça dos agentes sociais, como um fenômeno
psicológico que permite, por sua vez, um tratamento psicológico (por
ex.: desideologizar a um indivíduo ou grupo portador de uma
ideologia). Ela integra a estrutura social, e não como um mero
epifenômeno, mas como uma função definida e definível, dentro dessa
estrutura".
Nessa medida, numa sociedade classista, "a ideologia não é somente um
'belo engano' inventado pelos exploradores para arrefecer os
explorados e enganá-los; é útil também aos indivíduos da classe
dominante, para aceitar como desejada por Deus, como fixada pela
'natureza' ou, inclusive, como assinalada por um dever moral a
dominação que eles exercem sobre os explorados; lhes é útil, pois, ao
mesmo tempo, e a eles também, esse laço de coesão social para se
comportarem como membros de uma classe."
"Toda ideologia particular, por isso, deve - e não apenas pode - ser
compreendida em relação com um campo ideológico existente e em relação
também com os problemas e a estrutura social que lhe servem de base e
se refletem nele (...) A ideologia não é, portanto, uma aberração ou
uma excrescência contingente da História: constitui uma estrutura
essencial na vida histórica das sociedades."
Diante dessas definições, rapidamente esboçadas, de
ideologia, propomo-nos primeiramente tocar uma questão que nos parece
fundamental antes de qualquer outra coisa: os equívocos e mal-
entendidos de que a arte e literatura têm sido objetos, quando
confrontadas com problemas ideológicos. Esses equívocos vão desde os
mais simplórios, em geral cometidos por leigos, até os mais complexos
e controversos que os estudiosos no assunto debatem.

No primeiro, a persistente surdez e cegueira diante do fato de que "a
ideologia não pode ser divorciada da realidade material dos signos",
sob pena de se "localizar ideologia na consciência ou outras vagas e
elusivas regiões." "Localizar ideologia na consciência é transformar o
estudo das ideologias num estudo da consciência e suas leis; e não faz
diferença se isto é feito em termos transcendentais ou em termos
empírico-psicológicos." Mas, pior que isso: "ao invés de se tentar
encontrar uma definição objetiva de consciência, os pensadores
começaram a usá-la como meio de tornar subjetivas e fluidas todas as
definições objetivas." E isto porque permanecem desprezando o fato de
que "consciência toma forma e ser no material dos signos criados por
um grupo organizado no processo de seu intercurso social (...) Se
desprovirmos a consciência de seu conteúdo ideológico (materialmente
semiótico) nada restará." Isto significa que "todo produto ideológico
e todos os seus sentidos ideais não estão na alma, nem no mundo
interior, nem num mundo à parte das ideias e puros pensamentos, mas no
material ideológico acessível objetivamente - na palavra, no som,
gesto, combinação de massas, linhas, cores, corpos vivos, etc. Todo
produto ideológico é uma parte da realidade social material em torno
do homem, um aspecto do horizonte ideológico materializado. Qualquer
coisa que uma palavra possa significar, ela está antes de mais nada
materialmente presente, como coisa enunciada, escrita, impressa,
sussurada ou pensada. Ela estabelece uma relação entre indivíduos, que
é objetivamente expressa nas reações combinadas das pessoas: reações
em palavras, gestos, atos, organizações etc. O intercurso social é o
'médium' no qual o fenômeno ideológico primeiro adquire sua existência
específica, seu significado ideológico, sua natureza semiótica." Em
suma: "Se a natureza específica do material ideológico-semiótico é
ignorado, o fenômeno ideológico estudado cai na simplificação. Ou só o
seu aspecto racionalista, seu lado do conteúdo, é notado e explicado,
e então esse aspecto é correlacionado com a base econôcica; ou, em
oposição, apenas o aspecto técnico, exterior é destacado, e então esse
aspecto é derivado diretamente do nível tecnológico da produção. Esses
dois modos de derivar a ideologia da base perdem a essência real do
fenômeno ideológico."

Visto que não apenas a ideologia não pode ser divorciada da realidade
material do signo, sob pena de se fazer cair o estudo das ideologias
na fluida região idealista e elusiva da consciência (individual,
coletiva, ou de classe, pouco importa neste caso), como também o
estudo dos signos não pode "ser divorciado das formas concretas do
intercurso social, devendo-se perceber que o signo é parte de um
instrumento social organizado", onde se defrontam agentes coletivos, e
"não pode existir fora dele, sob pena de se reverter num mero artefato
físico." Não é por acaso que o problema do significado tem configurado
neste século uma verdadeira 'via crucis' da linguística, 'via crucis'
que as peripécias dos semanti-cistas pós-chomskianos (lexicalistas e
lógicos) mais têm servido para escamotear. E isto porque a linguística
tem persistentemente ignorado o fato de que todo e qualquer signo é
por natureza ideológico-histórico-social, pois que tem seu modo
próprio de dizer a realidade, refletindo-a e refratando-a de uma certa
maneira e numa certa medida.

E aqui retomamos o problema das ciências da linguagem. Uma ciência da
linguagem - seja ela linguística, semiologia, semiótica, teoria da
literatura, teorias da comunicação, etc. - que se isole na torre de
marfim de sua forjada independência, escamoteando ou evitando
defrontar-se com o fato de que todo produto cultural é objeto de
intercurso social, visto que este é o 'médium' no qual o fenômeno
cultural primeiro adquire sua existência específica, seu significado
ideológico e sua natureza semiótica, essa ciência tende a desenvolver
uma auto-idolatria narcísica e fetichização.
Cumpre aqui lembrarmos que estamos cônscios de que os pontos
fundamentais do que pretendemos aqui levantar, a partir de Volosinov e
Medvedev, estão de certa forma também presentes num artigo de Veron de
1970:35 primeiro, a crítica aos estudos ideológicos que tomam a
linguagem como um dado, mero instrumento óbvio e inocente e que, ao
assumirem um suporte teórico psicológico de interpretação, remetem-se
a mecanismos de personalidade, caindo na subjetivização; segundo, o
fato de que "nenhum setor do que, no plano da manifestação, podemos
chamar o 'universo dos discursos sociais', fica excluído da
pertinência definida por uma investigação do processo ideológico, nem
mesmo o discurso das ciências", terceiro, o embasamento dos estudos de
ideologia, de um lado, na ciência das linguagens ou semiótica e vice-
versa e, de outro lado, o fato de que "uma teoria do proceso
ideológico não pode separar-se da teoria marxista enquanto teoria
econômica." Esta frase
de Veron está, aliás, bem próxima da de Medvedev: "O domínio da
diversidade material e da geração histórica do fenômeno ideológico é
insolúvel, e mesmo contraditório em
qualquer outra base que não o materialismo dialético."

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