Saudações!
Você já percebeu que o clima mudou neste fim de semana? Mudou sim, e
não é por causa da visita do presidente Obama à nossa patria amada.
Ontem, o outono deu o ar fresco de sua graça por aqui. “NEM QUENTE,
NEM FRIO” é uma crônica de boas vindas à esta estação híbrida e cheia
de encantos.
No blog tem um quiz para você registrar qual a estação que mais
aprecia. O link para o blog é
http://hcaetano.blogspot.com/2011/03/nem-quente-nem-frio.html
Obrigado e boa leitura.
Heron Caetano
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NEM QUENTE, NEM FRIO
Enquanto meu pé apertava o freio do carro, numa esquina, um ruido de
vassoura varrendo mexeu comigo. Do meu lado vi uma mulher esguia com
gestos de gente aflita. De vassoura nas mãos, ela mais brigava com as
folhas na calçada, do que as varria. As folhas arrancadas pelo vento
do outono que chega hoje, dançavam ao lado dela. Percebi que não se
importavam se a senhora tinha pressa ou não. Parecia que elas tinham
todo tempo do mundo para aquela brincadeira.
Escutei o ruído delas fugindo da vassoura e se arrastando pelo chão. O
som parecia mais um cochicho entre elas, combinando mais um drible na
dona vassoura que tentava ajuntá-las. Coisa de criança solta na rua,
entregues à vontade da meninice.
Isso me fez lembrar que hoje à noite, o senhor outono, sóbrio e
sereno, inicia seu reinado entre o verão e inverno. Nem quente, nem
frio. Sem exageros, ele muda a natureza e as pessoas. As vitrines e os
corpos exibem com elegância novas roupas. Os rostos femininos se
cobrem de maquiagem, deixando a pele com aparência de pêssego. A mesa
e os pratos ganham sopas à noitinha. A mente se renova tambem. Como
disse Nietzche, "o outono é mais estação da alma do que da natureza“,
pois os pensamentos tornam-se mais reflexivos.
Aliás, saimos de um verão aquecido e marcado por tragédias, parecendo
um trailer do apocalipse. Entre enchentes e terremotos, ver a solidez
de uma nação como o Japão, de um dia para outro, ser sacudida como
folhas no vento, é pra fazer dos caipiras aos doutores pensarem na
vida, na morte e nos seus amores.
Com certeza, depois da irreverência do carnaval, a rotina das tardes
vermelho-alaranjadas, arvores se despindo, e ruas com folhas
amontoadas, darão o clima para escolhas e decisões importantes para
esta vida cheia de outonos. Quem tiver ouvidos, ouvirá a suave voz do
Criador das estações, sussurrando na brisa palavras de ânimo e amor às
suas criaturas.
Soltei o pé do freio e acelerei para avançar. Numa ultima olhada para
o lado, vi que as folhas se entregaram à vassoura como borboletas
cansadas na rede do caçador. Num só gesto, a senhora esguia põe elas
num saco e ajeita o cabelo. Fechei a janela do carro, pois o vento
soprou mais frio. É o outono nos abraçando.
Heron Caetano
www.hcaetano.blogspot.com