Geralmente agrupados e conectados numa rede do sono, estiram-se onde
há sombra e protagonizam quase uma cena surreal. Dormem alheios a todo
movimento em torno deles. Parece algo sagrado, onde os que estão
acordados são os profanos, e os que dormem purificam-se.
Botina transforma-se em travesseiro, meias nos olhos, no maior estilo,
servem para quebrar a luz. A sombra das arvores prestam-se de coberta
de uma leveza que nem rainhas desfrutam. O comprimento e a largura do
chão são as medidas da cama, deixando qualquer cama box king size com
complexo de inferioridade.
Confesso que às vezes experimento uma ponta de inveja por não me
sentir tão à vontade de dormir dessa forma tão simples. No fundo meu
organismo pede isso, mas meu preconceito rejeita. Assim, depois de
almoçar acabo encontrando mil coisas pra me ocupar neste intervalo.
Alguém já disse “porque simplificar se a gente pode complicar?”. Acho
que no dia a dia faço eco a essa frase com minhas atitudes. Parece que
tornar complexa a vida está em nós como o coração está no peito. Não é
a toa que existe hoje nas grandes cidades negócios que oferecem
casulos recheados de tecnologia e conforto por um doce sono e um
salgado preço para breves cochilos durante o dia.
É certo que o sono ainda é cercado de mistérios, mas dormir é simples
e essencial para a vida como a roda é para a humanidade. Não sei se um
dia serei encontrado cochilando num canto qualquer. Entretanto, a
partir deste ano quero ser mais simples, tendo em mente que a
simplicidade como a de uma criança leva-nos à porta de entrada do
reino dos céus, quando dormiremos o sono sem fim.
Heron Caetano