Crônica: A COZINHA DE SININHO

6 views
Skip to first unread message

hcaetano

unread,
Jul 11, 2012, 5:36:21 AM7/11/12
to Crônicas de 2 minutos
Saudações!

O escritor Rubem Alves em uma de suas crônicas diz que considera a
cozinha o útero da casa. Lugar de vida, de elaboração, de passar tempo
e ter prazer.
Entretanto a vida moderna já não permite este status às cozinhas.
Atualmente são feitas para que o que acontecer nelaS seja de forma
rápida, e valorizam bem mais o prazer dos olhos do que do paladar e
olfato.

Inspirado por uma cozinha do meu cotidiano escrevi em "fogo lento" a
crônica "A COZINHA DE SININHO". Se depois de ler e quiser provar um
pouco mais do sabor dela, visite o blog para ver nas fotos alguns
detalhes. Se visitar o blog, aproveite para escrever seu comentário ou
compartilhar com outras pessoas.

Link para visitar esta crônica no blog:
http://hcaetano.blogspot.com.br/2012/07/cozinha-de-sininho-ha-uma-cozinha-entre.html

Tenha uma boa leitura e até a próxima crônica se Deus quiser!

Heron Caetano

Convide amigos para receberem as crônicas por email. Basta eles
enviarem um email para hcaetano+...@googlegroups.com
___________________________________________________

A COZINHA DE SININHO

Há uma cozinha entre os banheiros e a sala do meu local de trabalho.
Hoje ela parece uma borboleta que saiu do casulo. Meses atrás, seria
necessário um anúncio com a palavra “cozinha” afixado nas portas a fim
de avisar em que ambiente estava quem passasse por ela. Atualmente as
placas seriam supérfluas. Aliás, até os mais distraídos conseguem
sentir que estão num ambiente que convida para um cafezinho em volta
de uma mesa ou encostando-se ao granito de uma pia.

A mudança da “cozinha abóbora” para uma “cozinha carruagem” começou
quando uma nova faxineira passou a cuidar daquele lugar. Pouco depois
que ela chegou ocorreu a seguinte cena: Num gesto leve e rápido da
moça, três bibelôs saem da sua bolsa e são postos no alto do armário
de produtos de limpeza. O armário com cara de objeto de hospital
ganhou um acolhedor toque de móvel da casa de vovó, exibindo os
bibelôs sobre uma toalha de crochê azul. Depois disso, o móvel perdeu
a aparência apática e deu um tom humano ao canto que ocupa. Mas não
parou por aí a metamorfose da cozinha.

Depois dos bibelôs vieram outras toalhinhas, tapetes pintados à mão,
vasos com flores de pano e plástico, capas em crochê para o galão de
água, potinhos sempre abastecidos com balas e pirulitos, e um quadro
com fotos dos filhos da moça com a declaração “Amores da mamãe”. Tudo
isso foi chegando sem o compromisso de combinar cores e tons, mas
formando um ambiente que transcende o que parecia um enxerto para um
lugar que aparenta sempre ter sido daquela forma. Se a fada Sininho do
Peter Pan fosse real eu poderia afirmar que ela passa por lá quase
todo dia.

Convive ao meu lado, naquela cozinha, a química que empresas como
Google e Facebook buscam para dar ao ambiente de trabalho a sensação
de extensão da casa. A promessa que isso aumenta a produtividade dos
funcionários cativa a atenção do mundo corporativo. Mas como toda moda
tem seus exageros, recentemente confundi fotos dos escritórios destas
empresas com imagens de bazares do tipo tem tudo. Excessos à parte,
coisa gostosa são estes espaços de trabalho com clima de lar.

Acredito que alguns respingos da criação relatada em Gênesis devem ter
caído sobre a moça da faxina. Caiu de graça, para que de graça, quem
passa pela cozinha assista um talento que acontece fora dos palcos e
ateliers, e por enquanto, longe das bilionárias Google e Facebook.

Heron Caetano
___________________________________________________ *
Reply all
Reply to author
Forward
0 new messages