Saudações!
Você já assistiu aquele antigo desenho da Disney que o Pateta
interpreta um senhor de dupla personalidade? Naquela estória, o gentil
Sr.Walker, que evitava até pisar nas formigas, transformava-se no
individualista e intolerante Sr. Wheeler na direção de seu carro. É a
arte imitando a vida.
Antes da Disney caricaturar este comportamento, ouviu-se na antiga e
empoeirada Palestina a frase “uma arvore não pode dar bons e maus
frutos” sair da boca de Jesus.
Longe da grandeza deles, ousei com a crônica deste mês ilustrar esta
dualidade através de um paralelo com o capitão do navio Costa
Concórdia e a simplicidade de um inseto curioso. Espero que goste de
ler “APAGAR OU ACENDER?” aqui ou no blog com fotos e espaço para seu
comentário. Link para ler no blog:
http://hcaetano.blogspot.com/2012/02/acender-ou-apagar.html
Obrigado.
Heron Caetano
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enviarem um email para
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APAGAR OU ACENDER?
Glamour, encantamento e brilho. Estes substantivos intangíveis
transpiram por todos os espaços e momentos em viagens de
transatlânticos como o Costa Concórdia, que afundou na costa oeste da
Itália. Ares de dignidade entre tripulantes e tripulação tecem sobre o
mar um clima bem diferente do que se vive em terra. Aos que viajavam
no Costa Concórdia, subitamente o romance se desfez: um solavanco
abalou "tudo e todos" pelo encontro de uma rocha com o casco do navio.
Como uma carruagem que virou abóbora, findou-se a viagem e o sonho dos
milhares naquele castelo sobre as águas.
Hoje, a curiosidade levou-me a procurar uma imagem do capitão do
navio. Encontrei na internet centenas de fotos de Francesco Schettino.
Fotos de antes e depois do acidente. As tiradas após o acidente são
muitas, mostrando-o com cara de "Cinderela sem os sapatinhos de
cristal". Mas encontrei apenas uma imagem dele antes da fatídica
noite; nela, sua pose e aparência são como as de um galã do tipo 007:
transmitem confiança e magnetismo.
Agora, todos sabem que, se ele gritou “mulheres e crianças primeiro”,
foi do lado de fora do navio, e no primeiro lugar seguro que encontrou
naquela noite escura. Estranhamente, pensando na madrugada negra
daquelas pessoas, lembrei-me das muitas noites sem luz que povoaram
meus dias de criança. Para mim, e para meus irmãos e amigos da rua, as
noites quentes e escuras eram cenário perfeito para caçarmos
vagalumes: com uma peneira nas mãos, de pernas finas e joelhos
grossos, corríamos atrás das pequenas luzes de cor verde que voavam
sobre nossas cabeças. A caçada acabava quando conseguíamos jogar a
peneira sobre os pontinhos luminosos, interrompendo aquele vôo
reluzente.
Com o cuidado e a precisão de um caçador, guardavamos em caixas de
fósforos aqueles pirilampos. Era um mistério para nós, mas o simples
inseto, quando ameaçado, acendia uma luz esverdeada, tornando aquelas
caixinhas como um troféu nas nossas mãos. Após tanto tempo, a imagem
daquela luz e a lembrança das caixinhas estão guardadas nos meus
pensamentos feito jóias em estojos de veludo. Entretanto, a figura
estelar do capitão se desfará breve, pois no escuro e diante do medo,
até que provem o contrário, o brilhante Francesco apagou-se,
transformando-se em um tosco ser. Com atitude oposta à do capitão, no
escuro e diante do medo, o rude vagalume brilhava uma luz que
encantava nossos olhos, provocando a sensação de sonhar acordado. Isto
sim, quero guardar e imitar.
Heron Caetano
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