Crônica: FOI COISA DE DEUS

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hcaetano

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Jan 26, 2011, 7:09:06 PM1/26/11
to Crônicas de 2 minutos
Saudações!

Polícia morro acima, água morro abaixo! Os moradores dos morros no
estado do Rio que se alegraram pela lei que os escalaram, hoje choram
pelas águas que por eles desceram.

De lá foi que sairam as cenas do salvamento de dona Ilair, deixando a
mídia quase em transe. Facilmente encontram-se pessoas que choraram
muito, alem dos que reviraram armários e gavetas procurando anti-
depressivos ou alguma droga para dormir após ver o Jornal Nacional do
dia 12 de janeiro.

Depois que vi a reportagem, saiu crônica "FOI COISA DE DEUS", que você
pode ler aqui ou no blog. No blog, você pode assistir o resgate
resumido. É só acessar http://hcaetano.blogspot.com/2011/01/foi-coisa-de-deus.html

O que você sentiu ao assistir o resgate? Se quiser responder a
pergunta, deixe seu comentário no blog.

Obrigado pela atenção.

Heron Caetano
Crônicas de 2 minutos

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FOI COISA DE DEUS

Naquela manhã de quarta-feira, entrou em São José do Vale do Rio Preto
um vento estranho, e o céu enegreceu rapidamente. Água e esgoto
brotaram dos ralos da modesta casa de dona Ilair. Com a agitação na
casa, seu pequeno vira-lata Beethoven saltou do tapete que dormia sem
a costumeira espreguiçada. Ao lado do casebre, num prédio de três
andares, o vidraceiro Gilberto e colegas preparam-se para iniciar mais
um dia de pintura do edifício. Dia que mal eles sabiam, estava
encomendado para que fossem personagens de imagens vistas em telas de
todo planeta.

Conferiram as ferramentas. Entre elas não podia faltar a corda para
auxiliar na pintura externa. Pouco tempo depois, Gilberto e seus
colegas, do alto do prédio vêem as ruas desaparecerem sob lama,
pedras, galhos e arvores arrastados por um repentino dilúvio. O prédio
de três andares só mostrava dois fora da água. No meio de toda tensão
alguém vê uma mulher em desespero na laje da casa ao lado. Era dona
Ilair, em puro pavor, com o cão Bethoven no colo . Ela não quer
morrer, pois tem filhos para criar.

Se fosse filme, diriam que foi marmelada o que sucedeu naquela hora.
Providencialmente, uma longa corda é lançada do alto do prédio para
puxar a mulher. Em dia de dilúvio, pinceis e brochas servem tanto
quanto peneira para se esconder do Sol. Mas uma longa corda, amarraria
os planos de dona morte, e permitiria dona Ilair viver para dos seus
filhos cuidar.

Parecia que tudo estava ensaiado. Na primeira tentativa, a mulher se
amarra perfeitamente, e com o cãozinho abraçado de um lado e corda do
outro, ela se lança na correnteza. Beethoven e sua dona afundam, e sem
que olhos vissem, o animal finca seus dentes no braço de dona Ilair,
forçando-a a soltá-lo. O que deu nele ninguém sabe. Pode ter sido uma
reação louca, ou quem sabe, ciente que sua dona precisaria das duas
mãos para aquele rapel, adiantou seu fim, para que ela não sentisse a
culpa de ter que fazer o que fez no meio da escalada.

Beethoven, como todo cão, nunca leu a Bíblia ou ouviu um sermão.
Entretanto, sem ter dito sequer uma palavra em vida, certamente deixou
lições de fidelidade, paciência, amor e compreensão.

Gilberto, ao ser nomeado pelos jornais como o responsável pelo
salvamento, respondeu:
- “Não sou herói. Herói não existe. Foi coisa de Deus mesmo. O herói
foi Ele. A gente só foi a ferramenta usada por Ele”.

Neste dia eu vi nas mãos de Gilberto uma simples corda, e nas mãos de
Deus, um humilde vidraceiro.

Heron Caetano
www.hcaetano.blogspot.com
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