Saudações!
De pernas pro ar. Assim que ficou minha amiga rotina há quase um mês,
devido um problema de saúde com minha esposa. Graças a mão invisível
de Deus, e nem um pouco virtual, a vida está voltando ao normal.
Ainda bem que escrevi "SHOW DO SOL" antes da rotina começar a dar
piruetas, pois de cabeça pra baixo, o modo de ver as coisas acaba
mudando.
Esta crônica é bem pessoal, daquelas que a gente quer guardar embaixo
do travesseiro, e nem dá vontade de mostrar. Espero que você goste de
ler "SHOW DO SOL" aqui, ou no blog Crônicas de 2 minutos
(
www.hcaetano.blogspot.com).
Tenha um bom fim de semana.
Heron Caetano
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SHOW DO SOL
Não é difícil fazer do Sol um deus. Entendo pessoas e povos que
fizeram ou fazem isso ainda.
Do quintal da minha casa, tipo sobrado, tenho o mesmo privilégio de um
vigia sobre um muro. Posso ver os 360 graus do horizonte. Em cada grau
de sua linha tem algo para admirar e ser contado. Mas dois pontos são
marcantes: onde o Sol aparece e onde se esconde. Eles se transformam
em palcos que apresentam um espetáculo gratuito e diferente
diariamente.
Sempre que posso, procuro testemunhar estes dois instantes. Esforço-me
para ser discreto e sensível o suficiente, para que nada se perca ou
interfira nestes minutos quase sagrados. São momentos com roupas de um
ritual. Respiro lentamente, com os pés querendo se soltar do chão.
Sinto-me quase suspenso no ar.
As primeiras luzes esparramam-se por sobre os ombros do horizonte como
um manto real. Anunciam o caminho daquele que reinará no céu no dia
que inicia, e delicadamente proclamam às estrelas que elas serão
empalidecidas. Em poucos minutos seu arco surge. Assim que os olhos,
como janelas, deixam entrar pela alma a imagem do astro em sua
primeira saudação, no peito, a marcha do coração acelera.
Depois de banhar a terra como o mar banha a praia, dando o dia, o
astro segue em direção ao poente que se tinge com cores e tons
ardentes. O horizonte veste-se de um bordado com véus de cera em fogo.
Assim se vai o Sol, como valente para sua tenda após a batalha,
deixando-me com a mão acenando, quase venerando-o.
Soltando o ar, olho pra cima e penso: Qual foi a reação dele, quando
abriu os olhos pela primeira vez, e viu Aquele que o fez, entre todo
exército de astros e galáxias?
Heron Caetano
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