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Denúncias de corrupção pesam
mais que ameaças de agressão
Rogério Medeiros e Nerter Samora
http://www.seculodiario.com.br/exibir_not_coluna.asp?id=3041
Fora da disputa eleitoral, o ex-presidente da Assembleia Legislativa José Carlos Gratz (PSL), até poucos dias atrás candidato ao Senado, acabou como uma das atrações do pleito. Sem contar um grande debate sobre os dois mandatos de Paulo Hartung, Gratz centralizou as atenções da classe política enquanto ficou no ar. Mas, apesar da promessa de ‘plantar a mão’ na cara do governador, o episódio mais importante da passagem do ex-deputado pelo horário eleitoral foi relacionado às denúncias que fez de corrupção no governo PH. O Papo de Repórter analisa a curta temporada de Gratz no horário eleitoral. E tenta responder a uma pergunta: quem poderia ter tanto medo do que o ex-presidente da Assembleia poderia falar?
Rogério: – Você sabe que até fiz uma coluna sobre isso. É espantoso que um homem todo poderoso no Espírito Santo, como o governador Paulo Hartung – e não há quem desconheça isso, porque tem um Ministério Público e o Judiciário do lado, não podemos deixar de repetir – se comporte desta maneira. Até político que ousa pensar contra o governador, só de pensar, toma uma trauletada de todo tamanho do Paulo. Pelo menos há um medo generalizado na classe político, e na empresarial também, porque ele tem meios para utilizar. Agora, quando aparece um Gratz com monte de processo nas costas, é evidente que parte de critérios políticos do Paulo para criminalizar os governos anteriores na figura do Gratz. E dá uma “trauletada” bem dada, diga-se de passagem, no procurador-geral de Justiça (Fernando Zardini) e diz que vai pegar o Paulo. Corre todo mundo atrás do desembargador Samuel Meira Brasil Júnior, operador de fórmulas para o Paulo, e tira o Gratz do ar. Simplesmente isso. E você sabe que tirou atropelando legislação. Porra, mas o Paulo Hartung vai ter medo do Gratz? Será que ele estava blefando esse tempo todo? Ai vem uma pulga atrás da orelha... ficamos com uma duvida sobre se eles não aguentam um esbarrão.
Nerter: – Realmente, o desembargador Samuel Meira, desde que chegou ao TJES, em 2007, tem servido para essas missões que o governador precisa liquidar, como foi a extinção dos precatórios da trimestralidade – logo após tomar posse. Em uma só canetada, Meira Brasil extinguiu mais de R$ 6 bilhões em dividas de precatórios, aliás, o mais pesado dos precatórios do Estado. Só que nessa decisão do Gratz ele exagerou e criou uma nova regra. As distorções criadas neste processo foram tão graves que a defesa do Gratz sequer pode recorrer ao STJ. Porque, na decisão da Medida Cautelar que poderia fazê-lo voltar ao ar, o ministro justificou que a pretensão era descabida porque ele não havia recorrido ao TJES. Mas como recorrer se o acórdão da decisão sequer foi publicado? Esse é o mesmo magistrado que algumas pessoas pretendiam iniciar um lobby para sua promoção ao Supremo.
Rogério: – Veja o que precisa ficar bem claro. É o seguinte: o Gratz deveria ser cassado pela Lei Ficha Limpa junto com outros que estão sendo cassados agora. O que está se falando é que nesse pequeno tempo do registro da campanha até julgamento da ficha limpa arrumaram uma filigrana para tirá-lo imediatamente do ar quando ele anunciou que ia apontar as mazelas do governo Paulo Hartung. Não está se falando que o Gratz passaria pelo obstáculo da ficha limpa, do que se falou foi da premissa surgida antes de detonar o governador, quando disse que tinha documentos comprobatórios de corrupção no governo. É isso. Não está se defendendo que o Gratz poderia ser candidato. Só correram porque ele disse que iria denunciar o governador Paulo Hartung. O foco da decisão patrocinada pelo desembargador é tirá-lo do ar imediatamente, e fizeram logo. Agora veja: que coisa lamentável, o governador Paulo Hartung com medo do Gratz, que tem uma centena de processos, que veio da contravenção – era bicheiro. Isso é que é estranho, porque a gente vive com a impressão de que o governo não aguenta chumbo. Se ele treme na frente de um Gratz, ele vai ter um colapso na frente de Max Mauro na Assembleia.
Nerter: – Talvez a falta de existência durante esses oito anos de governo torne o governo de Hartung ainda mais suscetível a esse colapso. Vou dar uma explicação biológica: um organismo ganha resistência a certo tipo de “invasor” quando o enfrenta. Agora, como explicar um governo com tantas polêmicas, tantas deficiências, que em oito anos sequer foi investigado. Como vai se comportar esse organismo que nunca teve de enfrentar um invasor, neste caso, um opositor consistente, ou melhor, um órgão de fato fiscalizador, durante oito anos, e agora se prepara para o julgamento da História?
Rogério: – Você é otimista. Quanto ao julgamento da História, ele não vai escapar. Porque ele não passa pelas redes de comunicação do Estado comprometidas com ele. Vai ser de outra forma. Ele realmente não vai escapar, vai ter gente que vai para a Assembleia passar a limpo o governo dele. Você está falando em julgamento do governo. O Gratz falou de corrupção dentro do governo. Tem que entender que o Gratz vai falar uma outra coisa. Deixar isso no ar... Tiraram ele do ar e não responderam, é grave para um governo que se diz campeão da moralidade. O que está em jogo é a operação Gratz que foi feita para tirá-lo do ar quando disse que iria contar as mazelas. Se o governo dele é tão forte, como julgam os capixabas, como vai conviver com isso? Depois que o Gratz falou isso, ele está por aí e está cheio de adeptos. E olha que ele fala de maneira atabalhoada. Em São Mateus, teve uma multidão atrás dele, quando fez um comício de carroça falando do Paulo Hartung, falando das mansões de integrantes do governo, como o deputado federal, ex-secretário e ex-vice-governador Lelo Coimbra (PMDB) e outros que passaram pelo primeiro escalão do governo. Ele está falando. Como é que o Estado vai conviver com isso, porque o Paulo não teve coragem de contê-lo? Ele disse que iria dar um “tapa na cara do governador” e o povo aplaudiu. Ele colocou a honestidade do governo em jogo. Assim como a força de reação do governador. Ele está feliz da vida, saindo para a rua, falando mal do governo. Virou o disco. Você sabe que tem muito ódio represado contra o Paulo Hartung. Ele atingiu muita gente, muitos políticos, intimidou outros, e o Espírito Santo virou um pavor. Ninguém falava ao telefone com esse raio de Guardião funcionando, todo mundo correndo. E agora fica com medo do Gratz? Está se tratando do que o Gratz tem contra o governo.
Nerter: – O que será que vem por aí? Ele está prometendo no blog. Mesmo fora da propaganda na televisão, o Gratz garantiu que as denúncias vão ser divulgados pelo blog.
Rogério: – Não sei o que Gratz tem, mas quando bateu no procurador-geral de Justiça, ele bateu e mostrou as provas. A questão não é a autoria, mas as mazelas do governo que ele conhece e vai mostrar. Quem imaginou o Gratz candidato ao Senado, no meio desses candidatos, com exceção do professor Renato (Psol) que ainda não o fez, a contar história do governo? O que faria a diferença nas eleições do Espírito Santo. Vamos por partes. Você tem o senador Renato Casagrande (PSB), que virou hartunguete desde criancinha. Você tem um Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) como o filho enjeitado. Você tem os candidatos ao Senado falando bem do Paulo, o Magno Malta (PR) é uma figura que não sabe atacar ninguém – ele tem procedimento, não vai à missa de Hartung, mas na eleição não fala nada. Os deputados federais não falam nada, com exceção do Max Filho (PTB), que não tem espaço para tanto. Os deputados estaduais estão do lado, não gostam, mas fingem que gostam. Ai aparece um Gratz que seria na eleição a única voz de oposição. Imagina o que ele seria como candidato ao Senado...
Nerter: – A diferença é que ele tem essa carta na manga. Por exemplo, a Brice Bragato (PSOL) faz oposição, mas faz dentro do campo ideológico, ou fica na questão da saúde, segurança e educação, sempre a mesma coisa. O Gratz fala de corrupção no governo. Uma ameaça mais que real. O governo enriqueceu muita gente, é só você olhar os exemplos costumeiros. Do primo, o Braulino – da Estrutural –, que virou um grande empresário no ramo de obras públicas. Tem muita coisa. O Gratz poderia mexer em locais onde ferem o coração do governo. Depois dessa, você acha que o Hartung aguenta a barra das licenças ambientais dadas aos grandes projetos, seus maiores financiadores de campanha? As renúncias fiscais às transnacionais. É coisa que está na cara de todo mundo, e ninguém diz. Agora apareceu um cara todo bombardeado com origem na contravenção que entrou na política para jogar isso.
Rogério: – Isso do Gratz mexeu também com toda a classe política. Mexeu com o governo do Paulo. Aumentou a circulação de informações a respeito do governo. Estão tirando a tampa do “panelaço”. O Paulo, que esperava encerrar o governo sem ter passado por uma situação dessa natureza, não vai passar mais. E o que é pior, vai sair como fujão da história. Aguardem Max Mauro no primeiro dia de janeiro de 2011.
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