COMO VEJO O COSMOS E A MIM MESMA? O QUE SIGNIFICA CONHECER?
Como tudo começou se é que há um início? Os cientistas do macrocosmos acreditam no Big Bang, a grande explosão inicial ocorrida há milhões de anos. A partir dai, entrou em ação o princípio da auto-organização que mostra uma lenta passagem do caos ao cosmos. Mas, de onde veio o Big Bang? De alguma fonte energética?
Acredito em uma substância única como a de Espinosa que corresponderia à Fonte Prístina dos iogues. Essa é uma matriz de complexidade porque tudo emana de lá e tudo converge para lá. O cosmos é pura consciência e a fonte de toda a energia. A matéria é apenas condensação de energia. Nós, seres humanos, como microcosmos dentro do cosmos somos feitos da mesma substância, somos também pura consciência. Nossa energia provém da intensidade de nossa consciência.
Esse universo é auto-organizado pois não obedece a leis divinas de um Deus pessoal. O Deus de Espinosa como o dos iogues está em toda a parte e para percebê-lo é preciso níveis cada vez mais elevados de consciência. Quando percebemos que esse divino está dentro de nós através de um estado de consciência mais puro, chegamos à Auto-Realização mencionada nas escritas sagradas dos iogues. É o estado mais perfeito do conhecimento porque é intuição pura como dizia Espinosa que se referia a esse sentimento como sensação de beatitude (1983). Por esse pressuposto de unidade de todas as coisas, o grande objetivo dos hindus é voltar a integrar-se na unidade cósmica. Para Espinosa, é a conexão com o todo que traz a beatitude pois, afinal, somos todos UM. A separação matéria – mente - espirito fragmenta, distingue pares de opostos e, por isso, dispersa e não converge o que significa em termodinâmicos, entropia. Ao contrario, como dizia Teilhard de Chardin: “O que sobe converge". E, portanto, aumento de energia ou neguentropia.
O Paradigma da complexidade veio na atualidade para juntar o que foi separado na modernidade e resgatar uma sabedoria ancestral baseada numa lógica não linear, a lógica da vida. O formalismo abstrato, reducionista e linear mascarou a realidade a tal ponto de negar a autoria de cada ser humano como co-criador da realidade e inventor de si mesmo. O preço dessa negação foi alto- a destruição da natureza e da dimensão mas elevada dos seres humanos pois, ao separar o sujeito que conhece do objeto conhecido, a ciência e a cultura modernas semeou a ignorância da realidade e de si mesmo o que redundou na violência generalizada que hoje vivemos. Os seres humanos, de modo geral, já não fazem mais a clássica indagação da Filosofia: Quem sou eu? Ao desconhecer a natureza amorosa de sua filogenia perderam o rumo ignorando o outro e a natureza com partes de si mesmos. Por isso mesmo, não respeitam seus semelhantes nem a Mãe Terra. Vivem separados de tudo mergulhados no desespero e na depressão em um contexto de negacionismo, ilusão e desconexão. E, se conhecer é ser afectado como sugere Espinosa (1983), essa não alteridade que não conecta é altamente impeditiva do conhecer. Ai nasce a opressão, a tirania, a injustiça social e os fundamentalismos.
Inúmeros fenômenos estudados até agora por diferentes campos do conhecimento, como também, intuições da sabedoria perene ou saberes ancestrais apontam para a existência de um Universo unificado em estado de imanência absoluta e em processo de auto-organização. Qualquer fragmentação da realidade é contrária às condições vitais desse todo e, portanto, sujeita à entropia por seu afastamento daquilo que é fundante no cosmos. A fragmentação moderna, a partir da sistematização de Descartes, só fez a negação dessa realidade o que resultou em severas consequências para a civilização em termos de qualidade de vida e perda de valores existenciais.
Os físicos Menos Kafatos e Thalia Kafatou se posicionam a respeito dessa cosmovisão integradora:
Aceitar a realidade subjacente significa termos de compreender que, por definição, o Universo é total. O U maiúsculo do termo “Universo” indica que ele inclui tanto o Universo Físico, tanto tudo o que existe. Todo o ser humano percebe que o que é total, não pode ser dividido pelo tempo, espaço ou por circunstâncias externas, é o “pano de fundo” constante do percebimento do eu em cada um de nós. Esse “pano de fundo” está sempre presente, não importando em idade de nosso corpo físico. Por trás da diversidade dos indivíduos permanece uma totalidade de Consciência Indivisa, idêntica em todos os indivíduos. Sem isso, não poderíamos compartilhar visões ou percepções sensoriais semelhantes, tampouco poderíamos comunicarmos uns com os outros. Cada um de nós constituiríamos um Universo totalmente separado. Nada mais perceberímos. (KAFATOS; KAFATOU, 1994, p.108)
Minha grande questão como educadora e pesquisadora da epistemologia da complexidade é tentar juntar o que foi separado começando pela pergunta o que significa conhecer ? Na modernidade, ao separar o conhecer do subjetivar-se e da própria experiência de ser autor de si mesmo, os seres humanos sofreram uma amputação existencial que os condenou à alienação e ao consequente sofrimento. Conhecer é conhecer-se. Portanto, somente posso conhecer a realidade partindo do meu próprio conhecimento pois eu sou essa realidade.
REFERÊNCIAS:
ESPINOSA, B. Ética. São Paulo: Abril, 1983.
KAFATOS, M.; KAFATOU, T. Consciência e Cosmos. Brasilia: Teosófica, 1994.