Da formação e profissão farmacêuticas (opinião por um estudante)

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RMO

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May 28, 2008, 12:55:31 PM5/28/08
to Farmacêuticos
Tenho-me deparado, infelizmente, e em diversos meios (incluindo o meio
escolar pré-universitário), com uma grande falta de conhecimento
(galopante) entre a população estudantil pré-universitária (e não só)
sobre o Curso de Ciências Farmacêuticas e sobre a Profissão
Farmacêutica. Noto com preocupação que há por parte de quem está "por
fora" uma frequente associação - de quase exclusividade - entre a
profissão de Farmacêutico e a Farmácia Comunitária, não no sentido
natural do Farmacêutico enquanto o responsável máximo e necessário
pela dispensa de medicamentos e sua supervisão, mas sim do
Farmacêutico como mero lojista, em pé de igualdade com um mero técnico
de farmácia ou ajudante técnico, sem que lhe seja reconhecida a sua
formação universitária de 6 anos (5 anos com a adaptação a Bolonha),
os seus saberes técnico-científicos e a devida nobreza associada aos
seus actos profissionais na Farmácia Comunitária, diminuindo-o junto
de outros profissionais de áreas similares.

Igualmente, noto que ao longo do tempo (com particular ênfase nos
últimos anos) tem havido uma diminuição progressiva do número de
candidatos ao Curso de Ciências Farmacêuticas (algo que pode ser
verificado empiricamente no site oficial do Acesso ao Ensino Superior
disponibilizado pela Tutela, que contém as mencionadas estatísticas),
diminuição que tem sido concomitante com a criação recente de vários
novos cursos na área das ciências da saúde e das ciências da vida
(como Ciências Biomédicas, Ciências da Saúde, Engenharia Biomédica),
que têm "conquistado" potenciais candidatos ao Curso de Ciências
Farmacêuticas por total ignorância por parte destes quanto à realidade
do Curso e da Profissão Farmacêutica. Existem casos de candidatos a
preferirem a Licenciatura em Bioquímica ou a recém-criada Licenciatura
em "Ciências Biomédicas" (!!!) face ao Mestrado Integrado em Ciências
Farmacêuticas por desconhecimento de todo o universo da Profissão
Farmacêutica. A própria Faculdade de Farmácia da Universidade de
Coimbra (FFUC) abriu um curso bizarro denominado "Ciências
Bioanalíticas" e parece estar em vias de abrir outro ainda mais
bizarro denominado "Farmácia Biomédica". Não duvido que a palavra
"biomédica" seja um foco de grande atracção para muitos, mas não me
parece que jogue em favor do Curso de Ciências Farmacêuticas nem da
própria FFUC enquanto instituição formadora de Farmacêuticos por
definição. Estamos, portanto - acho que se pode concluir - a perder
bons candidatos para outros cursos e, concomitantemente, a nota do
último colocado nas faculdades de Farmácia tem vindo a descer ano após
ano.

Face a esta situação, que considero preocupante, tomo a liberdade de
sugerir às várias instituições de ensino farmacêutico, sobretudo às
Clássicas, que realizem por sua iniciativa junto da população
estudantil pré-universitária dias abertos a "prospective students" em
que se cumpram os seguintes pontos (bem como a actualização dos
respectivos sítios na Internet das mesmas instituições):

- Realçar o papel do Farmacêutico nas suas diversas áreas de
actividade e actuação, com ênfase no seu estatuto de Especialista nas
mesmas (Análises Clínicas, Indústria Farmacêutica, Regulamentação
Farmacêutica, Farmácia Hospitalar bem como nas Análises
Bromatológicas, Hidrológicas e Toxicológicas e na Distribuição
Farmacêutica);
- Destacar o papel do Farmacêutico como cientista/investigador nas
ciências da vida e da saúde/medicamento, com especial incidência sobre
o perfil do Farmacêutico não só como profissional de saúde mas,
também, como cientista;
- Promover os investigadores/cientistas Farmacêuticos e a sua produção
científica junto da comunidade, conferindo-lhe maior visibilidade
junto de todos e não apenas dentro de um grupo restrito de académicos
e de outros investigadores/cientistas;
- Discriminar com a maior minúcia possível todas as saídas
profissionais possíveis para o Mestre em Ciências Farmacêuticas e
todas as oportunidades de carreira que a mesma formação, e
correspondente Profissão, confere (i.e., onde houver um Farmacêutico,
discriminar todas as possíveis funções/cargos/posições que este pode
ocupar nessa área);
- Reafirmar, incansavelmente, o Farmacêutico como o único e legítimo
profissional e especialista do medicamento em Portugal.

Não acho que se possa continuar a permitir a disseminação da noção do
químico e do bioquímico (ou qualquer outro) como responsáveis pela
criação de medicamentos quando é o Farmacêutico o especialista do
medicamento. Não acho que se possa tolerar que o Farmacêutico seja
relegado para outros planos que não o primeiro plano na comunicação
social quando o assunto é debater matérias no âmbito daquele que é o
seu principal objecto de estudo: o medicamento. Não acho que se deva
aceitar passivamente e sem contestação a usurpação de saberes e
funções que desde sempre pertencem aos Farmacêuticos por parte de
indivíduos com outras formações (ou mesmo sem qualquer formação!).

De outro modo temo que, a curto prazo, o estatuto conquistado pelo
Curso de Ciências Farmacêuticas e pela Profissão Farmacêutica ao longo
de décadas e décadas se venha a degradar e esbater cada vez mais no
seio deste "boom" de novos cursos e de perda de visibilidade e
reconhecimento da componente com maior visibilidade pública e social
da Profissão (vide liberalização da propriedade da farmácia e da venda
de MNSRM em outros estabelecimentos que não as farmácias).

RMO

unread,
May 28, 2008, 1:13:45 PM5/28/08
to Farmacêuticos
A partir de http://www.peliteiro.com/2008/05/da-formao-e-profisso-farmacuticas.html,
para continuar aqui.

Cumprimentos,
RMO

Andrea

unread,
May 29, 2008, 10:29:31 AM5/29/08
to Farmacêuticos
Bom, por acaso vim responder a partir daqui:
http://linezolide.blogspot.com/2008/05/opinies-ii.html

Talvez faça mal em falar de um caso particular, como é o meu exemplo.
Talvez nem tenha nada de interessante a adicionar a este assunto. Mas
por alguma razão, a mesma que me compele a querer apresentar esta
minha opinião, acho mesmo que tenho de o fazer para trazer alguma
informação que penso que até pode ser útil a quem ainda não se
licenciou.

Licenciei-me da FFUL à quase um ano. Lembro-me de ter entrado no
estágio a pensar "bom, agora vou tentar perceber o que é que quero
mesmo fazer". É a coisa boa de termos de fazer estágio em farmácia
comunitária e em farmácia hospitalar. Apesar do pouco tempo que temos
para aprender e habituarmo-nos a tudo, penso que é tempo suficiente
para fazermos uma ideia se gostamos ou não dessas opções. Depois do
estágio, tive a oportunidade de sair de Portugal e ir "brincar" às
investigações científicas com um grupo bem sério e bem respeitado do
meio científico inglês. Foi lá que cheguei finalmente à conclusão de
que aquele tipo de vida seria o mais interessante para mim. Relacionei
tudo o que passei nesses meses com tudo o que vivi antes de escolher o
meu curso, tudo o que aprendi nas diversas aulas durante o curso e
quando já mais para o final fiz os 2 projectos [em fitoquímica].
Cheguei à conclusão que sou uma felizarda.
Eu escolhi Ciências Farmacêuticas na FFUL, como 1ª opção, num papel de
candidatura que tinha outras 5 opções completamente diferentes. [por
ex, engª agronómica, pois suspirava pela inovação na ciência de
produção agrícola; ou química aplicada, pois sempre sonhei com síntese
química; ou ainda engª electrotécnica, pois acreditava que conseguiria
ser das engªs mais aliciantes em termos de futuro profissional]. Mas a
razão pela qual pus CF 1º foi porque meti na cabeça que iria sempre
para a indústria, criar novas respostas a problemas emergentes em
termos científicos, em termos de investigação e desenvolvimento de
novos fármacos.
Desiludi-me a meio do curso, pois descobri que isso era uma actividade
pouco promovida no nosso país. Durante uns anos meti na cabeça que
iria conseguir fazê-lo. Lembro-me quando entrei na Lusomedicamenta,
SA, num curto estágio em 2006, e nos papéis das formulações de
medicamentos nos dossiers dos produtos que essa empresa fabrica, vi as
assinaturas dos "senior scientists" que confirmavam as formulações
criadas. Pensei logo que era isso que seria o conceito de indústria
para mim. Neste sentido, foi com agrado que vivi esses meses em Bath,
todos os dias a meter na cabeça que vou conseguir ter um papel
preponderante na ciência farmacêutica.

Reparei em duas coisas importantes: 1º a minha motivação realmente
existe desde o primeiro momento em que me inscrevi na FFUL, e foi
também por isso que me propus sempre em projecto [onde tive o maior
prazer de trabalhar numa área como a fitoquímica, e de trabalhar com a
Professora Maria José Umbelino e, na altura, a sua doutoranda]; 2º o
curso na FFUL deu-me uma bagagem enorme, tanto em prática laboratorial
como em teoria, para que eu possa pegar nisso tudo que aprendi e levar
comigo para onde quer que queira trabalhar. [Embora eu ainda tenha
tido até ao final do 5º ano o plano curricular estabelecido em 1989,
já usufrui da conclusão do curso como Mestrado Integrado].

Isto são duas sensações que eu ADORARIA que todos os licenciados
tivessem no final dos seus cursos. Tirar um curso não é só para fazer
estatística, nem farol! :)

Até posso vir a desiludir-me com as minhas opções de agora (embora
ache difícil, tenho de assumir a probabilidade). Agora sei bem o que
não quero. E isso é importante.

[desculpem se isto soa muito a lamechas, ou um assunto
despropositado.]
On May 28, 6:13 pm, RMO <r.olive...@netcabo.pt> wrote:
> A partir dehttp://www.peliteiro.com/2008/05/da-formao-e-profisso-farmacuticas.html,
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