Escrito por Cesar Ricky Mendes em sua pagina no Facebook
Alguns trabalhos exigem convicção e sinceridade, não os desejados holofotes da fama.
Ontem passei por uma situação que me fez refletir um pouco. Logo cedo, fomos levar nossa filha mais velha para fazer o curso de batismo na Comunidade Cristã onde frequentamos.
O curso já tinha começado e assim que entramos na CCJ, fechei o portão e um homem bateu perguntando se poderia tomar uma água e receber uma oração. Claro que disse que poderia e o convidei para entrar.
Depois que ele tomou água, o chamei para sentar numa cadeira e começamos a conversar.
Ele desabafou muito e disse que pensou que eu fosse colocá-lo para fora e fazer uma oração no meio da rua, pois as pessoas não gostam de receber moradores de rua.
Um cara com uma história muito complicada, recém saído da cadeia (algo que aconteceu por ele ter matado o pai de um delegado que havia abusado sexualmente de uma de suas filhas), dizendo que havia se convertido dentro do presídio e que o objetivo era voltar para sua cidade natal, reencontrar os filhos para tentar recomeçar a vida.
Disse que estava com fome e precisava que o levassem até a estação para pegar um trem.
Depois de orar com ele, o levei numa padaria, paguei uma refeição, arrumei um dinheiro e disse que tinha uma pessoa na comunidade que poderia ajudá-lo.
Voltei para a Comunidade Cristã e conversei com o Davi Lenço (um dos pastores ali) dizendo que eu havia arrumado uma "bucha" para ele. Minha surpresa foi quando o Davi me respondeu que isso não era uma "bucha", era algo comum, pois durante a semana a comunidade está acostumada receber moradores de rua para tomar banho e pedir ajuda.
Entrei no carro, olhei para a Jackie e disse algo muito verdadeiro: pastorear uma igreja de verdade é um dom de poucos. Um dom do qual eu tenho certeza de que eu não tenho, mesmo!
Pastorear é cuidar de pessoas que estão carregando histórias doloridas. Famílias com problemas. Gente que precisa ser ouvida e mesmo assim saber que como pastor, você pode ser esquecido, deixado de lado e criticado por ter tentado ajudar.
Pastorear, não é essa coisa esquisita de holofotes da fama, eventos "milagrosos", carrão, viagens de sucesso, reunião de "amigos íntimos que pensam do mesmo jeito que você", gente que não discorda de suas opiniões e etc.
Pastorear não é ter só a "nata" das pessoas influentes em suas mãos e encontrá-los uma vez na semana para ler um texto da Bíblia de forma muito mal lida e procurar ser exaltado entre o seu "rebanho".
Pastorear é mais intenso, é saber que nem todos que pedirão sua ajuda são pessoas das quais você concorda com as ideias, filosofias, pensamentos e atitudes. É cuidar de gente sofrida, muitas vezes sem banho e de histórias complexas.
Pastorear é uma tarefa de poucos e que em nada tem a ver com os idiotas que se propagam em programas de TV, vlogs, Youtube, Instagram e tantos lugares, transmitindo ódio, acepção de pessoas, fazendo campanhas financeiras e milagrosas.
Pastores de verdade não estão preocupados com os holofotes.