Marcadores de concordância em Tupi-Guarani

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Wesley dos Santos

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Jul 8, 2021, 4:04:26 PM7/8/21
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Colegas,

 

Estou trabalhando em um projeto que investiga os marcadores de concordância em Kawahiva (Tupi-Guarani). Como resultado da revisão bibliográfica sobre esse tópico na família Tupi-Guarani, eu cheguei ao seguinte: marcadores de sujeito são prefixos de flexão verbal, mas os marcadores de objeto são entendidos ora como prefixos de flexão, ora como proclíticos. Ou seja, ora os marcadores de concordância são ambos prefixos de flexão verbal, ora eles não o são, porque os de objeto podem ser analisados como clíticos pronominais em algumas línguas.

 

Apesar das duas alternativas para os marcadores de objeto, desconheço algum trabalho que discuta evidências para uma ou outra análise. Isto é, salvo engano, essa literatura não discute o porquê marcadores de objeto são prefixos para uns, e clíticos, para outros, seja a nível da família linguística, seja a nível individual a uma língua.

 

Em vista disso, gostaria de saber se algum de vocês conhece algum trabalho que discute evidências para uma ou outra alternativa sobre os marcadores de objeto. Ou, também, se conhecem trabalhos que discutam porque os marcadores de sujeito são flexão verbal, mas os de objeto são clíticos pronominais.

 

Att.,

Wesley


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Wesley dos Santos
Ph.D student in Linguistics
University of California, Berkeley

Fernando O. de Carvalho

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Jul 8, 2021, 6:19:00 PM7/8/21
to etnolin...@googlegroups.com
Boa tarde, Wesley, 
também investigo o tema atualmente e, como você, desconheço trabalhos que discutam, em termos mais gerais, evidências em favor da análise dos chamados marcadores do conjunto II (no sistema da Cheryl Jensen) como clíticos. Me parece que as razões limitam-se ao fato de que os morfemas presos que formam este conjunto apresentam precursores 'menos gramaticalizados' na forma de pronomes independentes (cf. e.g. PTG *ne- '2SG.II' : *ene '2SG.PRO'), ao passo que precursores para os elementos do conjunto I não co-ocorrem no PTG. A premissa parece ser a de que a existência de precursores co-existentes indica um processo de gramaticalização mais recente e que, dado também como premissa a escala de gramaticalização 'Item lexical > Clítico > Afixo', implica na colocação do conjunto II como sendo em certo sentido menos gramaticalizado (no sentido do grau de fusão com a base) do que os elementos do conjunto I; os últimos sendo, assim, tratados como afixos, enquanto os do conjunto II seriam clíticos.

Abraço, 
Fernando

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Fernando O. de Carvalho
Universidade Federal do Amapá (Unifap)
Campus Marco Zero, Macapá/AP
.
Researcher/Professor of Linguistics
Federal University of Amapá (Unifap)
Macapá, Amapá State, Brazil.

Sérgio Meira

unread,
Jul 8, 2021, 6:19:07 PM7/8/21
to etnolin...@googlegroups.com
Oi Wesley,

 A razão principal pela qual os marcadores de objeto tupi-guarani são facilmente analisáveis como clíticos é que, de fato, eles são o resultado de uma reanálise relativamente recente, a partir de pronomes independentes  (1s *ice > ce r-, por exemplo). A presença da forma r- da raiz em seguida ao marcador de objeto mostra que este ainda é, nesse contexto, tratado como elemento independente da raiz.

Essa reanálise de pronomes independentes para marcadores de objeto não é, em si, um fenômeno espantoso (note-se que, em português coloquial, os pronomes são frequentemente usados para indicar o objeto no lugar dos clíticos: "eu vi ele" ao invés de "eu o vi".)

Havia uma série diferente de prefixos de objeto que, em muitas línguas, foi substituída pela nova série, mas que, em algumas, sobreviveu ainda em contexto reflexivo / correferencial com o sujeito da oração principal: estes formam a tal da série reflexiva ou correferencial (o mais frequente é o o- / u- / w- de terceira pessoa, mas algumas línguas conservaram prefixos de outras pessoas também nesse contexto). 

No artigo que escrevi com o Sebastian Drude (publicado nos Cadernos de Etnolingüística), sobre prefixos relacionais, essa história é contada em mais detalhes. Mando em anexo uma cópia em .pdf. (Se você tiver comentários, pode avisar.)

Sérgio Meira


OrigPrefRel.pdf

Françoise Rose

unread,
Jul 9, 2021, 7:19:15 AM7/9/21
to etnolin...@googlegroups.com

Dear all,

Another source on the diachrony of these person markers is:

 

Gildea, Spike. 2002. “Pre-Proto-Tupí-Guaraní Main Clause Person-Marking.” In Línguas Indígenas Brasileiras. Fonologia, Gramática e História. Atas Do I Encontro Internacional Do GTLI Da ANPOLL, edited by Ana Suelly Cabral and Aryon Rodrigues. Vol. Tomo I. Belem: Editoria Universitária U.F.P.A.

 

Best,

Françoise

 

De : etnolin...@googlegroups.com <etnolin...@googlegroups.com> De la part de Sérgio Meira
Envoyé : jeudi 8 juillet 2021 23:04
À : etnolin...@googlegroups.com
Objet : Re: [etnolinguistica] Marcadores de concordância em Tupi-Guarani

Gildea_2002_Pre-Proto-TG.pdf

Wesley dos Santos

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Jul 9, 2021, 11:57:44 AM7/9/21
to etnolin...@googlegroups.com
Obrigado, Sérgio e Françoise!

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<Gildea_2002_Pre-Proto-TG.pdf>

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