Ficção e realidade nas polícias do Rio
17 de fevereiro de 2011 – da Vila Setembrina de Farrapos ludibriados
por escravagistas, Bruno Lima Rocha
Quando da operação no Complexo do Alemão, li e ouvi muitas denúncias
de abuso das forças policiais incluindo saque e botim dos bens e armas
de pessoas ligadas ao narcotráfico. Óbvio que no meio do bombardeio
midiático e do aparato de propaganda institucional era difícil romper
o cerco e trazer à tona esta carga de realidade. Triste paradoxo para
uma cidade que, através de duas obras de “ficção”, literárias e
cinematográficas, difundira nacionalmente formas de convivência entre
a segurança pública e as redes de quadrilha típicas de um Estado
falido.
A Operação Guilhotina da Polícia Federal e a desastrosa ação da
Corregedoria Geral da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro
trouxeram para as escaladas de noticiários televisivos situações que
entendo como já estruturais. Qualquer um que tenha convivido
minimamente tanto com a segurança pública fluminense como com suas
áreas de atuação, incluindo as assim chamadas comunidades carentes,
tem a exata noção de que os filmes de José Padilha (Tropa de Elite 1 e
2) e os livros recentes de Luiz Eduardo Soares e os demais co-autores
(Elite da Tropa 1 e 2) são tudo menos ficcionais.
Os fatos falam por si. A Operação Guilhotina vem de investigações
prolongadas, munidas de provas obtidas através de autorização
judicial, e com a colaboração de parte do aparelho de inteligência
policial do estado. Já a ação da Corregedoria da Polícia Civil,
acusando os até então prestigiados policiais lotados na Delegacia de
Repressão às Ações Criminosas e Organizadas (DRACO), teve sua origem
em uma carta anônima. Mesmo que não tenha sido uma resposta, o ato
autorizado pelo ex-chefe de Polícia Allan Turnowski soou como tal. Não
há como provar e menos ainda inferir o envolvimento do delegado
demissionário com o esquema apurado pela PF. Ao mesmo tempo, constata-
se o óbvio. O até então prestigiado delegado em chefe da polícia
judiciária, pôs ele próprio a cabeça na guilhotina, elevando o custo
político de sua manutenção no cargo.
Também é impossível negar o enorme custo institucional dessa crise.
Sou natural do Rio e pude comprovar que havia a “percepção” de
confiabilidade nas instituições de Estado. Óbvio que tal comportamento
era fruto das operações de UPPs e da brilhante propaganda da
Secretaria de Segurança. Mas para além das aparências tem uma essência
nada boa. Admira-me que operações como esta não tenham sido antes
executadas. No Rio, a ficção e a realidade das mazelas do aparelho de
segurança pública são exatamente as mesmas.
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