Importantes profecias
No
ano 70 EC, se cumpriu a profecia de Jesus sobre as destruições do Templo e de
Jerusalém, feitas pelas legiões romanas sob o comando do general Vespasiano, a
devastar toda a Judeia e ir até os confins de Masada para matar os últimos
resistentes. Na ocasião, foi preso e
levado a Roma o general judeu Joseph, filho de Matatias e comandante das tropas
da Galileia. Lá, ele adotou o nome
Flavius Josephus, em honra à linhagem dos imperadores “Flávios”.
Durante
o cerco de Jerusalém, Joseph viu que a guerra estava perdida e ocultou seus
combatentes em uma caverna. No entanto,
uma mulher denunciou o fato a Vespasiano.
Ao chegar lá, o general romano prendeu Joseph e outro esbirro, e viu, no
interior da caverna, mais de duzentos cadáveres de judeus que se suicidaram
como consequência de um jogo de Lógica que lhes foi proposto por Joseph e que,
até hoje, ninguém conseguiu descobrir a combinação matemática então usada. Vespasiano notou que o prisioneiro, além de
culto, era um grande estrategista militar, pois conhecia bem a matemática e
ainda poderia ter o dom das profecias, já que, no momento da prisão, Joseph
disse para Vespasiano que em pouco tempo ele iria ser coroado imperador de
Roma --
e acertou, como se viu depois.
Assim, Vespasiano o levou preso para Roma e, com a confirmação do
vaticínio, o fez preceptor do seu filho Tito.
Joseph
educou Tito pela filosofia de Aristóteles, como o rei Felipe já havia feito com
o filho Alexandre. Com o novo nome,
Josefo viveu nos palácios de Roma até morrer com idade próxima aos cem
anos. Por conta de presumida “traição”,
até hoje esse “judeu de Roma” não é benquisto no seio do seu próprio povo. (Paradoxalmente, eles não dizem o mesmo de
Tibério Júlio Alexandre, também general judeu do exército romano
e governante do Egito, no ano 66 EC:
este reprimiu uma revolta na cidade de Alexandria, comandada por um tal
Lucuas, chamado “Rei dos Judeus”, na qual morreram milhares de judeus. No ano 69 EC, ele foi nomeado chefe do
estado-maior romano por Tito, então comandante do exército romano). Segundo Merrill C. Tenney (op. cit., p. 12), Josefo,
“com a idade de quatorze anos, era
frequentemente consultado pelos homens instruídos da cidade acerca da
interpretação da lei judaica. Aos
dezesseis anos, visitou as escolas dos três principais grupos religiosos do
judaísmo -- os saduceus, os fariseus e os essênios --, a fim de examinar os princípios de cada
grupo. Completou seus estudos passando
três anos no deserto, com o eremita Banias”.
Por que, então,
duvidar das referências a Jesus e João Batista, constantes de suas obras?
Dentre
as obras de Josefo se destacam “Guerra dos Judeus” e “Antiguidades
Judaicas”; nelas estão justamente
citações a João Batista, Jesus e Tiago, seu irmão, questionadas por pensadores
judeus. Contudo, a versão árabe das
obras de Flávio Josefo, descoberta no século passado, sana, de certa forma, a
polêmica mantida entre os eruditos sobre o parágrafo polêmico que fala sobre
Ele, e isso serve para confirmar de uma vez por todas que Jesus existiu. (As controvérsias ainda persistem, pois a
tese da interpolação do parágrafo polêmico e pró-cristão ainda é forte. No entanto, tendo conhecido como se pregava a
lei judaica, Josefo abandonou o judaísmo farisaico de sua época, e pode até ter
tido simpatia por Jesus, que zelava pela lei mosaica e queria livrar o povo
judeu das regras esdrúxulas impostas pelos sacerdotes da família de Anás).
Como
historiador, Josefo tornou os seus escritos relevantes para a história do povo
judeu e, sobretudo, para a identificação das seitas que, na época de Jesus,
orbitavam na Palestina. Sem Josefo,
haveria um grande fosso na história dos judeus.
(O judaísmo rabínico da primeira destruição do Templo não existe mais,
embora ainda haja, em seu lugar, o judaísmo ortodoxo e o ultraortodoxo).
+ + +
Datação dos Evangelhos
A
História Eclesiástica diz que o primeiro Evangelho que surgiu ao mundo foi o de
Mateus. Os Monges Beneditinos de
Maredsous fixaram uma estimativa de publicações, de acordo com antiga
tradição: Evangelho segundo Mateus, por
volta do ano 60; Evangelho segundo
Marcos, pouco antes de 64 EC; Evangelho
segundo Lucas, antes do ano 68 EC; e
Evangelho segundo João, nos últimos anos do Século I. Mas, nos anos 1930 foi descoberta uma coleção
de papiros (conservada em Manchester, Inglaterra), na qual há um fragmento com
os versículos 33-33 e 37-38 do capítulo 19 do Quarto Evangelho. Segundo Paul Le Cour (op. cit., p. 11), “esse papiro data da primeira metade do século
I e essa data foi comprovada de forma incontestável”.[1] Assim, tem-se agora a prova de que o
Quarto Evangelho foi escrito antes dos anos 50 EC, a despeito de certos
exegetas que procuram estender a sua escrita a partir do ano 110 EC, e até
mesmo do ano 150 EC, em clara intenção de querer distanciar essas fontes da
década da morte de Jesus. Hoje, a maioria
dos pensadores dá como certo que o Evangelho segundo Marcos foi o primeiro de
todos a ser escrito e divulgado.
A
Bíblia de Jerusalém induz a existência de um suposto evangelho primitivo,
escrito entre os anos 40 e 50 EC; isso difere
em relação à data de divulgação do Evangelho de Mateus, fixada entre os anos 70
e 80 EC. Todos eles sofreram
adulterações de seguidores devotos. Vejo
o Apêndice 21 do Quarto Evangelho como lavra autêntica do autor original. (Detalho esta tese mais adiante).
Deduzi
que o Terceiro Evangelho e sua continuação (o livro dos Atos) foram divulgados
no ano 62 EC, pois este último livro ficou inconcluso no trecho que relata
Paulo já prisioneiro de Roma (anos 60-61 EC).
Se eles tivessem sido escritos após o ano 62 EC, Lucas não poderia
tê-los dedicado a “Teófilo” [ver Lc (1, 3) e At (1, 1)]; “Teófilo” é o
sobrenome grego do quinto filho de Anás:
Anan, o sacerdote que incitou o povo a apedrejar Tiago (irmão de Jesus),
e o substituiu na chefia da Igreja de Jerusalém, no ano 62 EC; ambos morreram nesse mesmo ano. Logo, é plausível supor que Lucas morreu
entre os anos 62 e 63 EC, sem relatar o que ocorreu a Paulo, morto no ano 64 EC.
Mateus
talvez seja o único Sinótico escrito após o ano 62 EC, justamente por expandir
os prodígios cristãos ad absurdum -- catequese
adotada pelos cristãos primitivos para consolidar a Igreja -- e denotar
a rejeição aos judeus, alastrada depois de Tito destruir o Templo (ano 70 EC) e
se tornar imperador (ano 79 EC); depois
de Tito, veio Domiciano, que foi imperador do ano 81 EC ao ano 96 EC. A rejeição aos judeus continuou por décadas,
e isso se manteve evidente no Quarto Evangelho, escrito, como se viu, antes do
ano 50 EC (sem inserções), e talvez divulgado (com inserções) só após a morte
de Domiciano. Logo, cai a tese de alguns
exegetas, que sustentam que o Evangelho de Marcos é uma versão curta, feita a
partir do Evangelho de Mateus; a tese
aceitável é a inversa.
+ + +
Um grande abraço com mil desculpas.
AloízioMonteiro.
[1]
Paul Le Cour supôs, no
entanto, que um discípulo de Filon de Alexandria foi o autor do Quarto
Evangelho (op. cit., p. 30).