B. Ordens dinásticas do fim da Idade Média e início da Idade Moderna
Com o fim da era das Cruzadas, começou a surgir na Europa a partir do século XIV uma nova classe de ordens de cavalaria que, embora se declarassem inspiradas pelos valores e ideais das antigas ordens militares, não tinham caráter monástico/ religioso e eram vinculadas pessoalmente ao chefe de uma dinastia soberana (rei, duque ou similar), e aos seus herdeiros e sucessores legítimos de acordo com as regras dinásticas. O foco dessas ordens se deslocou então da defesa da Cristandade para lealdade ao Soberano ao qual a ordem estava vinculada, incluindo em geral um grupo seleto de membros da nobreza e da família do Soberano que eram próximos a ele.
Algumas destas ordens sobrevivem até hoje na Europa, onde são outorgadas por monarcas reinantes, porém com um caráter atualmente puramente meritório e honorífico, em muitos casos inclusive como forma de demonstração de amizade a chefes de Estado e monarcas estrangeiros. A vinculação pessoal dessas ordens a um Soberano e aos seus sucessores dinásticos em caráter perpétuo permite, entretanto, que elas possam ser outorgadas ainda hoje por chefes de dinastias não reinantes / depostas sem o aval legal de um Estado nacional soberano.
A seguir, apresenta-se uma lista não exaustiva de algumas das ordens dinásticas mais notórias fundadas entre o século XIV e o século XVII e ainda outorgadas na Europa, juntamente com o ano e o então Estado soberano de criação. As ordens que são outorgadas atualmente por monarcas reinantes e, portanto, fazem parte do sistema oficial de honras e pertencem à esfera do direito público nos seus respectivos Estados atuais, são indicadas em negrito.
• 1348: Ordem da Jarreteira (Inglaterra)
• 1362: Ordem da Santíssima Anunciação (Saboia)
• 1430: Ordem do Tosão de Ouro (Borgonha; ordem dinástica da Espanha desde 1516) .
• 1444: Ordem de Santo Huberto (Baviera)
• 1459: Ordem da Torre e da Espada (Portugal)
• 1469: Ordem de São Miguel (França)
• 1469: Ordem de São Jorge (Áustria)
• 1572: Ordem dos Santos Maurício e Lázaro (Saboia)
• 1578: Ordem do Espírito Santo (França)
• 1668: Ordem da Cruz Estrelada (Áustria)
• 1687: Ordem do Cardo Selvagem (Escócia)
• 1693: Ordem do Elefante (Dinamarca)
• 1694: Ordem do São Luís (França)
• 1698: Ordem de Santo André (Rússia)
Entre as ordens não sublinhadas em negrito, a Ordem da Torre e da Espada (Portugal) e a Ordem de Santo André (Rússia) foram revividas modernamente como ordens respectivamente da República Portuguesa e da Federação Russa. As demais permanecem vinculadas a pretendentes aos tronos defuntos dos seus respectivos países, por exemplo, da Áustria (casa de Habsburgo-Lorena), Baviera (casa de Wittelsbach), França (casa de Bourbon-Anjou), e Itália (casa de Saboia).
Outras ordens desse período, por exemplo, a Ordem do Dannebrog (Dinamarca) de 1671, ou de períodos posteriores, como a Ordem do Serafim, a Ordem da Espada e a Ordem da Estrela Polar fundadas na Suécia em 1748, eram originalmente classificadas como ordens dinásticas, mas hoje têm características de ordens nacionais de Estado e, portanto, são examinadas na Seção seguinte.
C. Ordens nacionais ou ordens de Estado
As ordens de Estado, ou ordens nacionais, tanto civis como militares, formam a grande maioria das ordens outorgadas hoje pelos Estados soberanos, tanto monarquias como repúblicas. Embora muitas vezes conservem insígnias e nomenclatura semelhantes às das antigas ordens dinásticas de cavalaria e tenham o Chefe de Estado como Grão-Mestre (nas monarquias, o Rei ou Rainha), essas ordens atualmente são outorgadas sempre por recomendação ministerial (i.e., por indicação dos respectivos governos nacionais), via de regra em diferentes classes e sempre em caráter puramente meritório e honorífico, sem vinculação necessária à nobreza ou aos antigos ideais cristãos da cavalaria medieval.
Cronologicamente, com algumas exceções, as ordens de Estado surgem a partir do século XVIII e, no caso específico das monarquias europeias, acompanharam a transferência do poder político e executivo dos monarcas para os ministros responsáveis a parlamentos eleitos . A seguir, apresenta-se uma lista não exaustiva das principais ordens de Estado das monarquias sobreviventes na Europa ou dos reinos da Commonwealth britânica. A lista inclui ordens designadas oficialmente tanto como “ordens de cavalaria” quanto “ordens de mérito”.
• 1671: Ordem do Dannebrog (Dinamarca)
• 1725: Ordem do Banho (Grã-Bretanha, atualmente Reino Unido)
• 1748: Ordem do Serafim (Suécia)
• 1748: Ordem da Espada (Suécia; dormente)
• 1748: Ordem da Estrela Polar (Suécia)
• 1771: Ordem Espanhola de Carlos III (Espanha)
• 1772: Ordem de Vasa (Suécia, dormente)
• 1815: Ordem de Isabel a Católica (Espanha)
• 1815: Ordem Militar de Guilherme (Holanda)
• 1815: Ordem do Leão Neerlandês (Holanda)
• 1818: Ordem de São Miguel e São Jorge (Reino Unido)
• 1832: Ordem de Leopoldo (Bélgica)
• 1847: Ordem de Santo Olavo (Noruega)
• 1892: Ordem de Orange-Nassau (Holanda)
• 1897: Ordem da Coroa (Estado Livre do Congo; ordem nacional da Bélgica desde 1908)
• 1900: Ordem de Leopoldo II (Estado Livre do Congo; ordem belga desde 1908)
• 1902: Ordem de Afonso XII (Espanha; renomeada Ordem Civil de Afonso X o Sábio em 1939)
• 1917: Ordem do Império Britânico (Reino Unido e Commonwealth)
• 1917: Ordem dos Companheiros de Honra (Reino Unido e Commonwealth)
• 1926: Ordem de Mérito Civil (Espanha)
• 1967: Ordem do Canadá (estabelecida pela rainha Elizabeth II como rainha do Canadá)
• 1975: Ordem da Austrália (estabelecida pela rainha Elizabeth II como rainha da Austrália)
• 1996: Ordem de Mérito da Nova Zelândia (estabelecida pela rainha Elizabeth II como rainha da Nova Zelândia)
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