Por: Mauro Figueiredo (www.waves.com.br)
Em 2008 a assembléia geral da ONU decidiu que a partir de 2009 o dia 8 de junho seria destinado a celebrar o Dia Mundial dos Oceanos.
Fundamentais para a permanência da vida na terra e para a qualidade de vida do ser humano, os oceanos ajudam a garantir nossa segurança alimentar, a regular o clima no planeta, abrigam ecossistemas com grande biodiversidade e são fonte de inspiração para poetas, compositores, artistas e de surfistas que dedicam grande parte de sua vida à prática desse esporte que embora possa eventualmente ser praticado em rios e piscinas é sinônimo de mar, praia, saúde e qualidade de vida.
Os ecossistemas marinhos estão há muito tempo ameaçados. Entre as ameças estão a acidificação dos oceanos (provocada pelo aquecimento global), a poluição causada pela exploração de petróleo e pela falta de saneamento básico nas cidades litorâneas, a ocorrência de espécies exóticas invasoras transportadas por navios e plataformas de petróleo; ocupação desordenada do litoral; e a sobre pesca.
A participação da sociedade nos processos de gestão dos nossos oceanos é um fator fundamental para combater essas ameaças. Para chamar atenção da importância da participação, o tema do Dia Mundial dos Oceanos 2013 é: “Juntos temos o poder de proteger os oceanos.”
O litoral brasileiro tem cerca de 8.500 quilômetros de extensão. Por toda costa, surfistas de todas as classes sociais, profissões, religiões e de todos os níveis de educação interagem diariamente com o oceano e pouco participam das decisões políticas que podem afetar diretamente sua qualidade de vida.
Há no país inúmeras iniciativas de associações de surf e ONGs ligadas ao esporte que se dedicam à onservação das praias e dos mares. Quase todas têm grande dificuldade de se manter ativas devido às questões financeiras e gerenciais, mas mesmo assim lutam durante anos pela conservação da qualidade de vida de todos nós.
Posso até apostar que o orçamento anual de todas essas organizações não chegam perto do que se investe na etapa do WT (World Tour) que, graças ao trabalho de muita gente, ainda acontece país. Não encontramos dados sobre os investimentos da indústria do surf em projetos de conservação ambiental e fomento da cidadania, mas quem está na praia percebe que, em geral, o investimento das empresas é maior em “marketing ambiental” do que em ações propriamente ditas.
Em 2012, na cúpula dos povos, por iniciativa da ONG Ecosurfi, foi criado no Brasil o Fórum Brasileiro de Surf e Sustentabilidade, um espaço de encontro e articulação das iniciativas em torno das questões que envolvem surf, meio ambiente, proteção dos oceanos e zonas costeiras.
Com um ano de fundação, o fórum ainda é um espaço em construção e deve ser fortalecido a fim de que as ações dos surfistas brasileiros em prol do ambiente sejam integradas e articuladas para que tenham mais força. É importante que sufistas, empresários, dirigentes e amantes do esporte se unam pela conservação dos oceanos.
Uma das ferramentas mais importantes para a conservação dos oceanos é o estabelecimento de áreas protegidas. No Brasil, entre as áreas protegidas temos as unidades de conservação da natureza (UCs). Você pode não ter percebido, mas certamente já surfou em um Parque Nacional, Estadual ou Municipal; em uma Área de Proteção Ambiental (APA), ou em outras categorias de UCs.
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, somente 1,57% do mar brasileiro é protegido por UCs. O Brasil assumiu um compromisso no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica de proteger, até 2020, pelo menos 10% do seu território marinho por uma rede de UCs.
Já temos exemplos de UCs na zona costeira criadas a partir do movimento de surfistas. E o Parque Natural Municipal da Prainha, no Rio de Janeiro, é um deles. Foi uma grande vitória na batalha pela conservação do nosso litoral e seus resultados estão aí até hoje. Essa é uma prova da força da comunidade do surf.
Podemos fazer muito se nos articularmos!
Nós, da APRENDER Entidade Ecológica, começamos a contribuir para a mobilização dos surfistas no ano de 2003 com a criação do Projeto Surf em Unidades de Conservação, que tem por objetivo transmitir à comunidade do surf informações sobre a necessidade da conservação dos ecossistemas marinhos e costeiros associados ao bioma Mata Atlântica. por meio da participação na criação, gestão e implementação de Unidades de Conservação.
Atualmente participamos dos conselhos gestores da APA da Baleia Franca, da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e ainda estamos na batalha para a implementação do Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis (SC).
Em breve, no Dia Internacional do Surf, 23 de junho, vamos organizar um evento para esclarecer sobre as áreas protegidas de surf. Esse é um tema para outro dia e uma outra história que divulgaremos em seguida.
Agora, nossa missão é deixar aqui o recado de que só com ações articuladas e a participação de todos os setores envolvidos com o surf vamos potencializar nossa atuação em prol dos oceanos e quem sabe, um dia, vamos poder comemorar o dia 8 de junho.
“Juntos temos o poder de proteger os oceanos.”
Mauro Figueiredo é advogado ambientalista e presidente da APRENDER Entidade Ecológica. |