A Busca por Satisfação
Vishakha Devi Dasi
Apesar do que a nossa mente nos diz, atender às exigências dos nossos sentidos leva apenas a uma vida de insatisfação inevitável.
Quando atingi a maioridade, comecei a fazer algumas observações inquietantes. Enquanto aprendia com um fotojornalista mundialmente famoso, percebi como ele ficou perturbado ao ver sua fama diminuir à medida que fotógrafos mais jovens o substituíam. Também percebi como as modelos com as quais eu às vezes trabalhava eram obcecadas por sua aparência, e os fotógrafos comerciais, que ganhavam muito dinheiro fotografando essas modelos, eram estressados e perpetuamente inquietos. Em suma, as pessoas com quem eu estava buscavam pelas mesmas coisas – fama, fortuna, poder, prestígio, beleza – mas possuir essas coisas claramente não as satisfazia. O que quer que tivessem nunca era suficiente e nunca era bom o bastante.
Eu estava confusa. Eu queria me encaixar nesse mundo elegante, brilhante e exagerado? Eu me sairia melhor do que as pessoas famosas, poderosas, bonitas e ricas com quem eu trabalhava? Havia um certo vazio, um ponto de interrogação no âmago do meu ser que me incomodava e assombrava e não me deixava em paz. Para que a vida serve exatamente? E o que trará a satisfação duradoura?
Eu não considerei procurar respostas na espiritualidade, e certamente não na religião. Porém, através do meu então namorado (atualmente marido), li o Bhagavad-gita Como Ele É, de Srila Prabhupada, e passei algum tempo na cidade sagrada de Vrindavana, que me influenciou ainda mais.
A Mente Insatisfeita
Quando aprendemos algo que é relevante e faz sentido, isso nos impacta. Quando encontramos outras pessoas que vivem esse conhecimento, isso causa uma impressão ainda mais profunda. E quando nós mesmos praticamos e descobrimos que é uma influência positiva em nossa vida, podemos ser mudados para sempre. A trajetória da nossa vida pode mudar.
Foi o que aconteceu quando li na Bhagavad-gita (17.16) sobre as austeridades da mente: satisfação, simplicidade, gravidade, autocontrole e purificação da própria existência. Em sua explicação desse verso, Srila Prabhupada escreve: “A satisfação da mente só pode ser obtida afastando a mente dos pensamentos de prazer sensorial. Quanto mais pensamos no prazer dos sentidos, mais a mente fica insatisfeita. Na era atual, ocupamos desnecessariamente a mente em muitas maneiras diferentes para o gozo dos sentidos e, portanto, não há possibilidade de a mente ficar satisfeita.”
À primeira vista, isso certamente parece contraintuitivo. Normalmente, eu pensaria que, para satisfazer minha mente, eu precisaria satisfazer meus sentidos, mas Srila Prabhupada diz que, para se sentir satisfeita, a pessoa deve afastar a mente dos pensamentos de gozo dos sentidos. Entregar-se ao prazer sensorial, diz ele, só trará insatisfação. Percebi que era esse sentimento de insatisfação que eu vinha observando há anos, e que me levou a questionar o significado e o propósito da vida.
Srila Prabhupada explica ainda: “Tusti, satisfação, significa que não se deve estar ansioso para reunir mais e mais bens materiais através de atividades desnecessárias. Deve-se ficar satisfeito com tudo o que for obtido pela graça do Senhor Supremo; isso se chama satisfação.” (Bhagavad-gita 10.5, Significado)
Não desejar mais; em vez disso, me contentar com o que eu tinha, era uma ideia estranha, mas também libertadora. Apenas a ideia de não ansiar por coisas aliviou o fardo criado por mim mesma. Mas ainda fiquei questionando: tenho um desejo profundamente enraizado de ser satisfeita. Se os bens materiais e o prazer dos sentidos não me satisfizerem, então o que o fará?
No início do Srimad-Bhagavatam, Srila Prabhupada responde claramente a essa pergunta: “O eu está além do corpo grosseiro e da mente sutil. Ele é o potente princípio ativo do corpo e da mente. Sem conhecer a necessidade da alma adormecida, não se pode ser feliz simplesmente com a gratificação do corpo e da mente. O corpo e a mente são apenas revestimentos externos e supérfluos da alma espiritual. As necessidades da alma espiritual devem ser satisfeitas. Simplesmente limpando a gaiola do pássaro, não se satisfaz o pássaro. É preciso realmente conhecer as necessidades do pássaro em si.” (Srimad-Bhagavatam 1.2.8, Significado)
Eu precisava buscar satisfação além da matéria.
A Fonte da Satisfação
Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, não tem nada a desejar. Ele está totalmente satisfeito conSigo mesmo. Como partes diminutas, porém integrantes de Krishna, se simplesmente desejarmos agradá-lO, também ficaremos satisfeitos por Sua graça. Em outras palavras, à medida que progredimos na vida espiritual, experimentamos uma crescente paz de espírito e autossatisfação. Para usar a analogia acima, a gaiola está limpa e bem conservada, e o pássaro dentro dela está bem nutrido, saudável e feliz.
Em outras palavras, cumprimos nossos deveres da melhor maneira possível, de acordo com o tempo e nossa situação, força e posição financeira, enquanto nosso único objetivo em todas as nossas atividades é satisfazer a Deus, Krishna. Embora nossas atividades possam parecer comuns, por trás delas está uma intenção profunda – agradar a Suprema Personalidade de Deus. Se pudermos agradá-lO, mesmo que ligeiramente, Ele nos permitirá começar a transcender nossas atividades e sentir uma crescente sensação interior de completude. Nós ficaremos satisfeitos.
Como satisfazer Krishna não é um mistério, nem é difícil. Krishna explica inequivocamente como satisfazê-lO na Bhagavad-gita, a escritura central de todos os Vedas.
man-mana bhava mad-bhakto
mad-yaji mam namaskuru
mam evaishyasi yuktvaivam
atmanam mat-parayanah
“Pensa sempre em Mim, torna-te Meu devoto, ofereça-Me reverências e Me adore. Estando completamente absorto em Mim, certamente você virá a Mim.” (Bhagavad-gita 9.34)
Se pensarmos em Krishna, naturalmente O serviremos e nos tornaremos Seus devotos. E como devotos de Krishna, também naturalmente nos curvaremos diante dEle e O adoraremos. Desta forma, absortos nEle, estaremos livres da insatisfação.
Este processo de bhakti-yoga – conectar-se com o divino através da devoção – é uma ciência, a ciência de controlar nossa mente e sentidos pensando em Krishna e obtendo um gosto mais elevado, um gosto pela transcendência. Até a ciência comum mostrou que a meditação regular pode reduzir o estresse, aumentar a calma e a clareza e promover a felicidade. O controle mental é uma ferramenta poderosa para nos tornar mais fortes, mais focados e preparados para enfrentar os pequenos e grandes desafios diários da vida.
Meditar nos santos nomes e no serviço a Krishna nos permite sermos vulneráveis, reconhecer que somos falíveis e precisamos de ajuda. No entanto, ao mesmo tempo, não somos impotentes nem escapistas. Em vez disso, buscamos orientação de alguém qualificado para nos orientar. E seguimos as regras e regulações – os Seus princípios e regulamentos – que nos permitirão estarmos qualificados para receber essa orientação. É um processo interno com ramificações externas. E é natural.
Srila Prabhupada explica: “Agir em consciência de Krishna é o dever de toda entidade viva, porque todos são constitucionalmente partes integrantes do Supremo. As partes do corpo trabalham para a satisfação de todo o corpo. Os membros do corpo não agem para a autossatisfação, mas para a satisfação do todo completo. Da mesma forma, a entidade viva que age para a satisfação do todo supremo e não para a satisfação pessoal é o perfeito sannyasi [renunciante], o yogi perfeito.” (Bhagavad-gita 6.1, Significado)
Ao ouvirmos sobre Krishna, nós nos apegamos a Ele e experimentamos a plenitude. Esse sentimento é comparado ao sentimento de satisfação que as pessoas famintas sentem por cada pedaço de comida que comem. Quanto mais comem enquanto estão com fome, mais sentem satisfação e força. Da mesma forma, ao servirmos Krishna com devoção, sentimos satisfação transcendental à medida que a mente se desapega das atividades materiais. “Devoção, experiência direta do Senhor Supremo e desapego de outras coisas – esses três ocorrem simultaneamente para quem se abrigou na Suprema Personalidade de Deus, da mesma forma que o prazer, a nutrição e o alívio da fome vêm simultaneamente e cada vez mais, a cada mordida, para uma pessoa ocupada em comer.” (Srimad-Bhagavatam 11.2.42)
O próprio Krishna confirma: “Os pensamentos dos Meus devotos puros residem em Mim, suas vidas são totalmente devotadas a Meu serviço, e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança sempre se iluminando uns aos outros e conversando sobre Mim.” (Bhagavad-gita 10.9) Quando agirmos em nossa posição constitucional de servos de Krishna, estaremos totalmente satisfeitos e espiritualmente bem-aventurados. Quanto a mim, não estou totalmente satisfeita e espiritualmente feliz, mas estou muito mais do que anos atrás.
Vishakha Devi Dasi escreve para a Volta ao Supremo desde 1973. Autora de seis livros, ela é presidente do templo Bhaktivedanta Manor, no Reino Unido. Ela e seu marido, Yadubara Dasa, produzem e dirigem filmes, sendo o mais recente o filme biográfico sobre a vida de Srila Prabhupada: Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que Começou Tudo.
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