Danos ecológicos do Javali no RS

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Albenir Querubini

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Sep 29, 2014, 9:51:56 AM9/29/14
to De lege agraria nova

Espécie invasora

Ameaça a animais e terras, javalis são caçados no pampa gaúcho

Manadas de porcos selvagens afetam o equilíbrio ambiental no Estado, atacam rebanhos de ovelhas, destroem lavouras e espalham doenças

28/09/2014 | 10h02
Ameaça a animais e terras, javalis são caçados no pampa gaúcho Carlos Macedo/Agencia RBS
Primeiros animais apareceram no Estado há mais de 20 anos, vindos ou importados do UruguaiFoto: Carlos Macedo / Agencia RBS

javali tornou-se um flagelo fora de controle no pampa gaúcho. Já ameaça a sobrevivência de aves nativas ao comer ninhadas de ovos da ema, da perdiz, do perdigão e do quero-quero, o que aborta o nascimento de filhotes. Exótico aoambiente, também causa prejuízos ao devorar rebanhos de ovelhas edizimar lavouras. E, para completar os danos, pode disseminar doenças(zoonoses) ao cruzar com porcos domésticos.

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Com arapucas e jaulas, caçadores tentam conter avanço dos javalis

Reportagem acompanha caçada e fica frente a frente com o predador 

A gula onívora das varas de porcos asselvajados – abocanham desde vegetais até carne – provoca tantos estragos que a caça ao animal foi liberada, com restrições, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Até o Exército entrou na parada, para habilitar atiradores com fuzis de grosso calibre – os mais adequados ao abate.

– É problema internacional. O javali não é controlável – alerta Paulo Carniel Wagner, do centro de triagem de animais silvestres do Ibama estadual.

Técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) juntaram-se ao combate. Durante este ano, instalaram armadilhas de captura na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã. Com 316 mil hectares, abrangendo partes de Santana do LivramentoRosário do SulQuaraí eAlegrete, é uma das zonas mais ocupadas por javalis.

– Ele é um invasor exótico, sem predador por aqui, onde encontrou alimento farto e lugar para se esconder – diz Raul Paixão Coelho, chefe substituto do ICMBio em Livramento.

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Raul e seus parceiros investigam o desequilíbrio ambiental. Retiram amostras de sangue dos javalis abatidos para analisar se estão doentes. Em razão do sumiço de jovens emas – maior ave não voadora da América do Sul, podendo chegar a 1m70cm de altura –, monitoram uma região de 80 quilômetros, em Livramento.

Além de apreciar omeletes de ema e de aves rasteiras, o javali disputa o alimento com outras espécies, revolvendo a terra em busca de bulbos, raízes, cebolinhas e larvas. Também incomoda o veado, a capivara e o tatu, que debandam ante os grunhidos famintos do visitante indesejado.

– A lógica do porco selvagem é ir atrás da comida, sempre – diz Raul.


Animal virou praga em terras uruguaias

As manadas desfiguram a paisagem do pampa. De tanto fuçar e escarvar, transformam campos de pasto em lamaçais. Cavam buracos à beira de árvores – a predileção é pela sombra da coronilha –, onde se deitam para descansar e copular. Uma fêmea pode parir de oito a 12 filhotes por ano.

Não há estudos recentes sobre a população de javalis no Estado. Raul, do ICMBio, informa que um levantamento feito no Uruguai indicou a presença de 0,5 a 1,5 animal por quilômetro quadrado. O técnico acha que a média do país vizinho pode ser aplicada, sem exageros, à região da fronteira gaúcha. O Uruguai foi o primeiro a introduzir o javali, da espécie Sus scrofa, há mais de um século. Era para ficarem confinados numa estação de caça, no departamento de Colônia, mas escaparam e se multiplicaram – assim como ocorreu nosEstados Unidos, onde as autoridades perderam o controle.

Desde 1982, o javali é considerado uma praga nacional no Uruguai. A caça está liberada, sem limitação de calibre para armas de fogo. A médica veterinária Nibia Fontana, da divisão de Fauna do Ministério de Agricultura e Pesca uruguaio, admite que todas as formas para conter o animal fracassaram.

– Eles são muito rústicos e fortes. Estão fora de controle – ressalta Nibia.

Rio Grande do Sul parece ir no mesmo caminho do Uruguai, inclusive copiando os piores exemplos. Fazendeiros uruguaios decidiram criar filhotes, de olho no sabor da carne e nos possíveis lucros. Um assado de javali servido com geleia de amora é um manjar de reis. Mas quem trata o predador como se porco fosse, acaba descobrindo que adotou uma fera que atacará seus rebanhos.

– Aqui no Uruguai, muitos produtores abandonaram a criação de ovelha – lamenta a veterinária Nibia.

* Zero Hora

Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2014/09/ameaca-a-animais-e-terras-javalis-sao-cacados-no-pampa-gaucho-4608500.html

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Na busca dos javalis

Reportagem faz expedição fotográfica e fica frente a frente com o predador

Fora de controle, javalis atacam animais nativos e rebanhos no Estado; ZH acompanhou busca pelos porcos selvagens de presas salientes em Quaraí

28/09/2014 | 10h05
Reportagem faz expedição fotográfica e fica frente a frente com o predador Carlos Macedo/Agencia RBS
Caçadores encontram um javali no entorno de uma propriedade que sofre com a destruição causada pelo animalFoto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Dois veteranos mateiros, sabedores dos nomes de cada árvore, do cheiro das ervas e dos segredos dos animais silvestres, aceitam guiar a equipe de ZH por uma região inóspita de Quaraí atrás de javalis. Missão: fotografar porcos selvagens nos cafundós do pampa, onde se escondem. Condição: não revelar o local, para não atrair caçadores.

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Odacir Confortin, 49 anos, ganhou o apelido de Chulengo – referência ao filhote pernalta de guanaco – pela rapidez com que se move em matos fechados e banhadais. Everaldo Machado Castro, o Cusso, 44 anos, é especialista em trilhas – quanto mais áspera for, mais à vontade ele fica. Ambos moram em Quaraí, na fronteira com a uruguaia Artigas.

Chulengo e Cusso – assim preferem ser tratados – são acompanhados na expedição fotográfica por dois cães. A Pitoca – cruza das raças airedale terrier com veadeiro – é hábil nos movimentos circulares de empacar (amarrar ou distrair) o javali. Nego, um guaipeca típico da fronteira, é farejador incansável. A dupla se completa com suas diferentes aptidões.

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A busca para capturar imagens começa pela parte úmida da mata, onde escorre oRio Ibirapuitã. Chulengo pede silêncio, pois os javalis temem a voz humana. Comunica-se com os cães por assovios. Numa das suas poucas frases, brinca com os repórteres:

– Se ninguém aqui for pata de pomba (pé-frio), veremos os porcos!

De tão habituados ao predador, moradores da fronteira chamam os javalis deporcos – ou chanchos na versão uruguaia. Após duas horas de caminhada, Pitoca e Nego latem avisando que localizaram um deles. É um macho satélite, aquele que gravita em torno da vara depois de ter sido expulso pelo javali dominante. Deve pesar em torno de 90 quilos, os caninos – presas – despontam entre os pelos hirsutos do focinho.

Tática é ir aonde existe a comida

De porte médio, Nego e Pitoca apenas cercam o javali, que parece surpreso, mas não assustado. Chulengo não tem os sabujos de ataque, como o poderoso dogo argentino, que se engalfinham nos porcos selvagens em lutas sanguinárias para os dois lados. Inúmeros cães já morreram em caçadas, destripados por caninos que operam como sabres, em potentes cabeçadas de baixo para cima. A própria Pitoca quase se foi, ano passado, ao ter o ventre rasgado no que os gaúchos definem de “talho de toda lâmina” (ao comprido).

– Tem muito porco bandido, que mata cachorro – diz Chulengo.

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Ao notar a presença humana, o macho solitário desempaca dos cães e foge. Nego e Pitoca vão ao encalço, mas ele pula uma vala de três metros e depois atravessa o Ibirapuitã, numa largura de 30 metros, sumindo na mata. Chulengo assovia, quer os cuscos de volta, para que não se cansem.

– O porco corre que se desastra – comenta o guia.

Há um ditado uruguaio que ensina: a perdição do homem é a “plata” (dinheiro); a do chancho é a comida. A lógica para seguir os javalis é ir aonde tem alimento e aguadas. Os mateiros percebem os vestígios de outros animais, além do javali. Um montinho de cocô amarelado indica bugios.

– Cuidado – previne Cusso, lembrando que os primatas, da copa das árvores, usam as fezes como artilharia aérea contra intrusos.

Pegada deixada por um dos javalis (Foto: Carlos Macedo / Agência RBS)

Marcas de pisadas no chão barrento mostram a trilha de capivaras, veados e tatus. Chulengo ralha com os cães, para que não desviem o faro dos javalis. Andar na lama cansa, os pés atolam, entra água barrenta por sobre o cano das botas. Mas o pior viria depois, na segunda etapa da jornada pelos confins de Quaraí. A área é tão ínvia e intransponível que Cusso observa:

– Se chove antes, não se entra lá. Se chove depois, é preciso esperar a água baixar para ir embora.

Após breve descanso, com direito a uma merenda de bolacha com salame, recomeça a perseguição fotográfica. Os guias decidem subir um cerro recoberto de arbustos. Quem vê de longe se deslumbra com a exuberância da natureza. Ao se chegar ao lugar, no entanto, o sobressalto: como penetrar a malha de espinheiros, como a temível unha de gato e outras espécies retráteis, que encravam na pele produzindo o efeito do anzol?

A mata é tão espessa que forma uma teia de ramagens perfurantes. Acostumados que estão, Cusso e Chulengo pouco se arranham, mas as agulhas vegetais ferem os braços e a cabeça dos urbanoides que só se exercitam em parques de Porto Alegre. As roupas ficam em pandarecos. Justo no momento em que os espinhos mais fustigam e enredam, Pitoca e Nego anunciam com latidos: acharam uma vara de javalis.

Ainda filhotes, javalis têm pelagem mais clara: uma fêmea pode parir de oito a 12 deles por ano (Foto: Carlos Macedo / Agência RBS)

São seis machos e fêmeas adultos, mais nove filhotes de pelagem clara rajada. Chulengo recomenda cautela. Ele já foi atropelado por javalis, numa vez caiu de ficar de pernas para o ar, na outra precisou se refugiar no alto de uma árvore.

– Não se sabe a brabeza que são. O cachaço (macho dominanteataca até homem a cavalo – alerta.

Parte dos javalis empaca diante do assédio dos cachorros. Refeitos do breve aturdimento, todos escapam sob os espinheiros e desaparecem. Ficaram os ecos dos grunhidos e as raras imagens captadas pelo repórter fotográfico Carlos Macedo. É o fim da excursão a um dos mais recônditos esconderijos do predador.

* Zero Hora 

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Predador cercado

Com arapucas e jaulas, caçadores tentam conter avanço dos javalis

Apesar de caça com armas de fogo e cães ser a mais praticada, outras formas de captura e abate têm sido empregadas para abater a fera

28/09/2014 | 10h03
Com arapucas e jaulas, caçadores tentam conter avanço dos javalis Carlos Macedo/Agencia RBS
Veterano segura carcaça de animal abatido em caçada cruenta: sem predador natural, javali ameaça produção gaúchaFoto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Aumentaram as estratégias para tentar conter o avanço do javali, apontado peloIbama como um dos cem piores predadores exóticos do mundo. Neste ano, na região da fronteira gaúcha, foram introduzidos dois novos métodos: oalçapão e a cevagem, que usam iscas de milho para atrair o porco selvagem.

Ameaça a animais e terras, javalis são caçados no pampa gaúcho
Ação de javalis preocupa produtores e causa mais dano que o abigeato
 
Reportagem acompanha caçada e fica frente a frente com o predador

caça com armas de fogo e cães, no entanto, é a mais praticada – de forma legal ou clandestina. Sabujos e javalis machos se atracam em lutas brutais, as quais resultam em mortos e feridos. Caçadores chegam a pôr coletes nos cachorros. Usam borracha de pneu ou couro para tentar evitar que sejam destripados ou degolados pelos caninos dos javalis – os inferiores podem medir 10 centímetros.

– O javali é inteligente e brabo. Já vi um deles correr atrás de um cachorro, que fugiu para não morrer – diz um veterano caçador, sem se identificar.

Caninos inferiores podem medir até 10cm (Foto: Carlos Macedo) 

Em busca do cão ideal, experimentaram o pit bull, uma fera que não foi páreo para o cachaço ou barrasco – como chamam o macho dominante de presas salientes. O mais eficaz, por enquanto, é o dogo argentino. Em Santana do Livramento, cruzaram o dogo com o galgo, para aliar o vigor do primeiro com a velocidade do segundo.

Como a caça não tem resolvido, além de expor cães e javalis a crueldades, foram criadas outras formas de captura e abate. Uma delas é a jaula, uma armadilha oval, instalada no campo, por iniciativa do Instituto Chico Mendes e do Ibama. Uma dessas arapucas funciona na Estância São Marcos, em Rosário do Sul. Quando o javali penetra nela, atraído pelas cocheiras de farelo e água, a portinhola se fecha. Outro chamariz é colocar uma fêmea na cilada. Assim que ela entra no cio, os namorados felpudos aparecem, cheios de segundas intenções, e caem na esparrela.

Instrutor de tiro ensina a abater

O ICMBio e o Ibama também lançaram a tática da ceva para facilitar o abate. Na beira de um mato, é oferecido um banquete de milho debulhado aos javalis, os grãos escorrem de uma lata pendurada numa árvore. Quando as manadas se aproximam para comer, entra em ação o atirador, posicionado a 60 metros de distância, oculto numa guarita camuflada.

O pecuarista Nelson Della Justina Carvalho, 34 anos, de Santana de Livramento, é um dos instrutores de tiro credenciados pelo Exército. Está montando o estande para receber os primeiros alunos, mas acha que alguns desistirão devido à burocracia para a compra de arma e obtenção da licença.

– Pode demorar até três anos para receber arma e munições – lamenta.

Nelson Carvalho dá instruções de tiro (Foto: Carlos Macedo) 

Nelson decidiu colaborar adestrando atiradores depois de ter a fazenda invadida por javalis, que comeram 250 cordeiros arrasaram as plantações de arroz e milho. A partir de 2008, percebeu danos ao ambiente, pois o perdigão sumiu e as emas não ganharam filhotes (os ovos teriam sido devorados).

– Quando os filhotes de veado e tatu nascem, os javalis também comem – diz Carvalho.

A burocracia também desgosta o presidente do Clube Oriental de Tiro de Livramento, Mateus Josué de Lima Effell. Ele abriu uma loja de artigos para caça ao javali, mas os fregueses se queixam das altas taxas e das exigências na documentação.

– Para certas coisas, é preciso viajar a Bagé, a 200 quilômetros de distância – reclama Mateus.

LICENÇA PARA ABATER

O abate do javali está autorizado desde janeiro de 2013 pelo Ibama, mas de forma restrita e sob condições

- O interessado deve entrar no site do Ibama (ibama.gov.br) e preencher ocadastro técnico federal (CTF). Não pode ter pendências legais e ambientais. 
- A cada trimestre, deve enviar um relatório das atividades (número de javalis abatidos ou capturados, quantas saídas fez atrás dos animais e onde andou).
- A cada caçada, deve fazer uma “declaração de manejo”, relatando onde esteve, com coordenadas geográficas do lugar.
- Os relatórios devem ser enviados à sede do Ibama, em Porto Alegre. Ainda não é possível remetê-los online.
- Pela norma do Ibama, o javali poderá ser perseguidocaçado com armas de fogo e capturado em armadilhas.
- Quem descumprir as normas será excluído do programa.

Regras e custos para a caça com armas de fogo
Se o abate envolver arma de fogo, o interessado terá de se submeter às regras do Exército, além do cadastro no Ibama.

- Será regido pelo Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R 105), do Exército, que abrange caçadores e atiradores.
- Terá de obter o certificado de registro (CR) do Exército, que leva em torno de nove meses para ser liberado. A documentação completa custa aproximadamente R$ 1 mil.
- De posse do CR, o caçador poderá adquirir uma arma de calibre liberado a civis, como a 12 semiautomática, cotada em R$ 4,2 mil.
- Após um ano de CR, poderá importar um fuzil de uso restrito, mais potente, que vale R$ 12 mil. A tramitação pode demorar dois anos, desde a autorização do Exército à liberação da arma pela Receita Federal.
- Para completar a habilitação, terá de ser filiado à Federação Gaúcha de Tiro e Caça (R$ 200 por ano) e a um clube de caça (cerca de R$ 200 de anualidade).
- O Estatuto do Desarmamento e a Polícia Federal não interferem na caça ao javali.

Fontes: Ibama e Clube Oriental de Tiro, de Santana do Livramento.

* Zero Hora

http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2014/09/com-arapucas-e-jaulas-cacadores-tentam-conter-avanco-dos-javalis-4608521.html

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Albenir I. Querubini Gonçalves
Mestre em Direito pela UFRGS
Celular: (51) 9380.7167

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