
Leia aqui, o discurso do Prefeito de Ilhota, Ademar Felisky, na Sessão Solene que foi realizada em lembrança e agradecimento à solidariedade do povo brasileiro ao glorioso Estado de Santa Catarina. Esta sessão foi requerida pelo nobre Deputado Paulo Bornhausen.
Quero cumprimentar o amigo e nobre Deputado Paulo Bornhausen, Presidente desta sessão solene, e o Governador do Estado de Santa Catarina, Dr. Luiz Henrique da Silveira, que, pela forma descentralizada como administra o nosso Estado, nos faz sentir na carne, por meio das dificuldades impostas por essa calamidade, o quanto isso faz bem a todos nós, Prefeitos, porque sentimos na pele a vontade de ajudar, de realizar obras. Graças a essa descentralização, conseguimos atuar de forma imediata nos locais atingidos.
Cumprimento também os Senadores Neuto de Conto e Raimundo Colombo, o Deputado Edinho Bez e a Secretária Nacional de Defesa Civil, Sra. Ivone Valente.
Cumprimento, em especial, o meu amigo Daniel Galdino da Silva, sobrevivente da localidade Morro do Baú. Este senhor demonstrou a honestidade do nosso povo, ao devolver 20 mil reais encontrados em um casaco. Ele perdeu 5 membros de sua família, entre eles o seu neto de 2 anos. Teve de se mudar da localidade do Alto Baú e morar em outra cidade, tamanha foi a tragédia no Complexo do Morro do Baú.
Agradeço a todos os Deputados Federais, a todas as ONGs que nos ajudaram e vêm nos ajudando, à Defesa Civil Nacional, à Defesa Civil Estadual e ao povo brasileiro.
Exatamente hoje faz 1 ano da maior tragédia climática que assolou não somente a cidade de Ilhota, mas também todo o Vale do ltajaí. Foram dias e meses de luta árdua e perseverante, mas, graças às orações de nossa gente e ao empenho de nossos governantes, estamos conseguindo nos recuperar no sentido de devolver a normalidade à vida das pessoas atingidas, principalmente na região do Complexo do Morro do Baú, que compreende 6 localidades.
Fizemos obras de recuperação das estradas, de contenção de morros, desassoreamento de ribeirões e todas as obras de infraestrutura necessárias. Porém, jamais vamos recuperar o nosso bem maior: das 135 pessoas vitimadas por essa catástrofe, que tiveram a sua vida ceifada, um terço era de moradores da localidade de Alto Baú e Braço do Baú. Isso representa 0,3% da nossa população, percentual que, se aplicado a uma cidade como o Distrito Federal, seria de centenas de milhares de mortos.
Com o repasse dos recursos feitos do Fundo Nacional da Saúde ao Fundo Municipal de Saúde — aí vale, Deputado Edinho Bez, a desburocratização, porque em dezembro já tivemos depositados nas contas do Fundo Municipal de Saúde 1 milhão e 200 mil reais —, pudemos fazer as obras necessárias e salvar as pessoas atingidas. Vale esse exemplo porque, de forma bastante ágil, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, junto com o Governador, esteve em nossa cidade, em nosso gabinete e disse: “Prefeito, nós vamos liberar de imediato”. E assim o fez.
Recebemos, além desses, recursos do Ministério da Integração Nacional, das doações feitas por pessoas físicas e jurídicas, como também do Governo Federal. E estamos conseguindo fazer frente à grande demanda de obras necessárias à nossa gente. Muito ainda temos a fazer, como a construção de 186 casas populares. Cinquenta e duas já foram entregues, todas construídas em parceria com diversas instituições nacionais e internacionais.
Temos consciência da necessidade de dar maior atenção aos agricultores atingidos, principalmente na rizicultura e na bananicultura, pois a localidade de Alto Baú era e é extremamente agrícola. E essa situação nos faz pensar no seguinte: como é que famílias, a exemplo da família do Sr. Galdino, que viviam em grandes áreas, que viviam da agricultura de subsistência, vão poder morar em uma casa de 36 metros quadrados, em um terreno de 360 metros quadrados, sendo que viviam exclusivamente da agricultura?
Isso nos faz lembrar, Galdino, que temos de fazer uma verdadeira reengenharia social, qualificando essas pessoas para um novo mercado de trabalho, cada vez mais competitivo. Muitas pessoas menos informadas falam da ocupação desordenada do solo, e a elas quero dizer que a região do Complexo do Baú era uma área de preservação permanente, com muitas nascentes, belos parques e mata nativa intacta, preservada pelos moradores, que sempre tiveram conscientização da necessidade da interação entre o homem e o meio ambiente.
Quero aproveitar a oportunidade que me é concedida para fazer um pedido aos senhores legisladores e à Defesa Civil Nacional, tão prestativa e atuante na tragédia que vivemos. Não é uma lei que determina o prazo que deve durar uma calamidade ou o prazo para que os municípios se recuperem dela, no caso 90 dias prorrogáveis por mais 90, mas, sim, a dimensão do ocorrido, pois Ilhota ainda vive em situação de emergência, não podendo obter os benefícios concedidos por lei.
Aqui faço a declaração de uma obra importantíssima para a cidade de Ilhota e para a região do Vale do Itajaí como um todo, porque o que mais nos frustrava, na condição de gestores públicos, era a incapacidade de poder atuar mais nas áreas atingidas. Para que os senhores entendam, Ilhota é dividida por um rio, e o nosso único meio de travessia para outro município era através de uma balsa arcaica e insegura, mas era o meio de que dispúnhamos. Com a subida do rio, ficou inviável chegarmos até as localidades atingidas.
Faço um agradecimento especial ao nosso Presidente da República, Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva; ao Ministro dos Transportes, Alfredo Pereira do Nascimento; ao Governador do Estado de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira; a todos os Parlamentares catarinenses, em especial ao Deputado Federal João Matos; e à Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí-Açú - AMFRI, a qual tenho o prazer de presidir, que ontem estiveram em nossa cidade e assinaram uma ordem de serviço para a construção de uma ponte de 480 metros e para o asfaltamento de um acesso entre as rodovias federal e estadual, de 2 quilômetros, totalizando 32,5 milhões em investimentos.
Torço e rezo a Deus para que nada mais aconteça. Mas, se por acaso acontecer algo nas regiões atingidas do Complexo do Morro do Baú, teremos condições de estar presentes para socorrer as pessoas.
Foram 32 vítimas. Quero dar o testemunho de 2 casos ocorridos. Um deles é o de uma criança de 11 meses, Larissa Marthendal. Por mais que tivéssemos envidado esforços no sentido de achar o seu corpo e de ajudar a família a fazer um enterro digno, nós não conseguimos.
O outro caso é o de uma jovem de 28 anos de idade, chamada Jeane Reichert. Ela ficou soterrada por 6 horas, sob entulhos, com lama até a altura da cintura, segurando a mão do seu pai e dizendo-lhe que cortasse as suas pernas, porque, mesmo sem pernas, ela queria viver. Infelizmente, também não sobreviveu.
Então, em memória dessas 2 pessoas, dessas 2 cidadãs da nossa cidade, em memória das 135 pessoas vitimadas por essa tragédia, registro aqui o meu reconhecimento e o agradecimento do povo ilhotense, do povo do Vale do Itajaí, em especial do povo catarinense, pela demonstração de solidariedade do povo brasileiro.
Meu muito obrigado a todos!
Extraído partes da ata da 325ª sessão da Câmara dos Deputados, em 23 de novembro de 2009. A presente sessão solene foi realizada em lembrança e agradecimento à solidariedade do povo brasileiro ao glorioso Estado de Santa Catarina. Esta sessão foi requerida pelo Deputado Federal Paulo Bornhausen.
Fonte: Acesse aqui!
