O senador Dem�stenes Torres (DEM-GO) utilizou o seu mandato para beneficiar os neg�cios do empres�rio Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, revelam grava��es feitas pela Pol�cia Federal.
De acordo com as escutas, divulgadas nesta sexta-feira (30) pelo jornal "O Globo", o senador acertou com o empres�rio, que foi preso pela Pol�cia Federal, ajuda em processo judicial e em projeto de legaliza��o de jogos de azar em tramita��o no Congresso.
Nas grava��es, Dem�stenes tamb�m fala com Cachoeira de neg�cios com a Infraero na �poca que ele era relator da CPI do Apag�o A�reo.
Os grampos, segundo o jornal "O Globo", foram gravados durante a Opera��o Vegas.
Em um di�logo gravado em 22 de abril de 2009, o empres�rio pede ao senador que fa�a um levantamento sobre o projeto de lei 7.228, que trata de jogos de azar.
"Anota uma lei a�. Voc� podia dar uma olhada. Ela t� na C�mara. 7.228 2002. PL (projeto de lei)", diz Cachoeira.
O senador pede mais informa��es. "Vou levantar agora e depois te ligo a�."
Ele tamb�m pede a Dem�stenes que fale com o ent�o presidente da C�mara dos Deputados e agora vice-presidente, Michel Temer. O senador diz que vai tentar fazer com que o plen�rio da C�mara vote a proposta, o que n�o aconteceu.
Em outra conversa, Dem�stenes afirma que o texto do projeto, na verdade, prejudica Cachoeira.
"Regulamenta, n�o [as loterias estaduais]. Vou mandar o texto proc�. O que t� aprovado l� � o seguinte: 'transforma em crime qualquer jogo que n�o tenha autoriza��o'. Ent�o inclusive te pega, n�? Ent�o vou mandar o texto pra voc�. Se voc� quiser votar, tudo bem, eu vou atr�s. Agora a �nica coisa que tem � criminaliza��o, transforma de contraven��o em crime, n�o regulariza nada", afirma o senador.
Cachoeira discorda. "N�o, regulariza, sim, uai. Tem a 4-A e a 4-B. Foi votada na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a."
AVI�O
Reportagem de "O Globo*, publicada semana passada, com grava��es da mesma opera��o j� haviam mostrado que Dem�stenes pediu dinheiro a Cachoeira para pagar despesas com t�xi-a�reo, no valor de R$ 3.000.
Na conversa, ao dizer que iria pagar, o empres�rio aproveita para pedir ao senador que o ajude em um processo judicial.
"Deixa eu te falar. Aquele neg�cio [processo] t� concluso a�, aquele neg�cio do desembargador Alan, voc� lembra? A procuradora entregou a� para ele. Podia dar uma olhada com ele. Voc� podia dar um pulinho l� para mim?"
O senador pergunta sobre um detalhe e acedia o pedido. "T� tranquilo. Eu fa�o."
Outra conversa, gravada em 4 de abril de 2009, mostra tamb�m que os dois poderiam estar de olho em um milion�rio "neg�cio" em andamento da Infraero.
"O neg�cio da Infraero, conversei com a pessoa que teve l�. Disse o seguinte: o nosso amigo marcou um encontro com ele em uma padaria, n�o sei o qu�. E levou o ex-presidente [Jos� Carlos Pereira, da Infraero], c� entendeu? E que a� o trem l� n�o andou nada. Eles nem sabem o que t� acontecendo", afirma Dem�stenes.
Cachoeira pede que o senador fa�a o servi�o. "Mas tem que ser voc� mesmo. Voc� que precisava ligar para ele."
SIGILO
Ontem, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski determinou a quebra de sigilo banc�rio de Dem�stenes, por cerca dois anos, per�odo em que ele foi flagrado em conversas telef�nicas com o empres�rio.
Lewandowski � o relator do inqu�rito sobre Dem�stenes apresentado na ter�a-feira pelo procurador-geral da Rep�blica, Roberto Gurgel.
Outras grava��es reveladas anteontem mostravam o nome do senador mencionado em conversas em que Cachoeira e integrantes de seu grupo discutiam cifras milion�rias.
O ministro pediu ainda ao Senado a lista das emendas ao Or�amento apresentadas por Dem�stenes --isso pode indicar que uma de suas linhas de investiga��o ser� analisar se o senador utilizou prerrogativas de seu cargo para favorecer Cachoeira.
Lewandowski negou, no entanto, pedido do procurador-geral para um depoimento de Dem�stenes por entender que ainda n�o � a hora.
Investiga��es da PF tamb�m apontam que Cachoeira repassou informa��es sobre apura��es contra o seu grupo a Dem�stenes.
A Folha obteve 12 mil p�ginas do inqu�rito da PF que culminou na Opera��o Monte Carlo. Ela investigou Cachoeira e mais 80 pessoas, todos denunciados neste m�s pelo Minist�rio de P�blico Federal sob acusa��o de explorar m�quinas ca�a-n�quel e corromper agentes p�blicos para manter o neg�cio.
No inqu�rito a que a Folha teve acesso, o nome de Dem�stenes aparece, por exemplo, num relat�rio da PF sobre um di�logo gravado com autoriza��o judicial no dia 13 de mar�o do ano passado, �s 15h37. Nele, conversam Carlinhos Cachoeira e o sargento aposentado da Aeron�utica Idalberto Matias, o Dad� --apontado pela Procuradoria como o principal araponga da quadrilha. Ambos est�o presos.
De acordo com a PF, eles falavam sobre investiga��es sigilosas que o grupo sofria � �poca, quando a Monte Carlo j� estava em andamento.
Outro di�logo revela que Dem�stenes atuava para ajudar Cachoeira na escolha de integrantes para o governo de Goi�s, comandado pelo tucano Marconi Perillo. Em uma conversa no dia 5 de janeiro do ano passado, o empres�rio menciona duas vezes o nome do senador a um integrante de seu grupo, de acordo com a PF.
OUTRO LADO
Questionado sobre as grava��es da Pol�cia Federal na Opera��o Monte Carlo, o advogado de Dem�stenes Torres, Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que elas n�o t�m valor jur�dico e s�o totalmente nulas.
Isso porque o senador s� poderia ser investigado com autoriza��o do STF. O advogado afirmou n�o ter tido acesso � �ntegra de todos os di�logos interceptados pela PF, mas critica a atua��o da pol�cia.
"Como vou fazer interpreta��o de uma suposta interpreta��o do que a pol�cia ouviu?", questionou.
Segundo a defesa, caberia ao juiz de primeira inst�ncia remeter o caso de Dem�stenes ao Supremo logo nos primeiros dias de escutas.
Fonte: Folha.com