Dois anos depois da condenação
Abusadores de menores do
“caso Farfalha” vão para a cadeia
Estevão Gago da Câmara, nos
Açores
Condenados por abuso sexual de
menores de Lagoa, São Miguel, Açores, só agora vão cumprir as penas de prisão.
Mais de dois anos após o julgamento.
Jorge Simão
A garagem foi o local de iniciação
de dezenas de menores, de ambos os sexos, na prostituição
Cinco dos
condenados do caso de abuso sexual de menores de Lagoa, São Miguel, Açores, vão
voltar para a prisão. Apesar do processo ter sido considerado “exemplar” pela
celeridade com que decorreu, só agora, mais de dois anos depois do julgamento, é
que os condenados vão cumprir as penas de prisão efectiva a que foram
condenados.
Apenas dois dos
sete condenados a prisão, José Augusto Pavão, “Farfalha”, e o empresário Eduardo
Benevides, foram mantidos em prisão preventiva desde o início do processo
judicial em 2003 e 2004, respectivamente. Os restantes conseguiram ao cabo de
poucos meses a substituição da prisão preventiva por outras medidas de coação
menos graves. Chegaram a estar detidos dezoito arguidos nos primeiros meses do
processo. O julgamento realizou-se em Abril de 2005; três dos acusados foram
absolvidos, os restantes quinze foram condenados e sete destes terão que cumprir
penas de prisão efectiva.
O trânsito em
julgado da sentença só agora aconteceu depois do Tribunal Constitucional ter
decidido sobre um recurso interposto pela defesa do médico legista Luís Arruda,
Delegado de Saúde, director do Centro de Saúde de Lagoa, autarca e dirigente
concelhio do PS que fora condenado a três anos de prisão. A decisão resultou na
confirmação dos termos da sentença proferida em primeira instância. Arruda que
exerceu medicina até agora vai cumprir três anos de prisão efectiva, havendo que
descontar na pena seis meses de prisão preventiva e domiciliária.
O processo
regressa ao Tribunal Judicial de Ponta Delgada dentro de dias, onde então se
fará a avaliação que determinará o tempo de prisão efectiva que cada um dos
condenados terá ainda de cumprir, descontados os períodos de prisão preventiva e
ou domiciliaria.
Porque não houve
separação de processos, o recurso do médico para o Supremo, e depois para o
Tribunal Constitucional, determinou que todos os restantes condenados tenham
tido que esperar pela decisão final para iniciarem o cumprimento das respectivas
penas. Também as indemnizações às vítimas só agora poderão ser executadas. José
Augusto “Farfalha”, o dono da garagem onde ocorreram a maioria dos crimes de
abuso de menores foi condenado a catorze anos de prisão e terá de pagar cerca de
quarenta mil euros às suas vítimas. A “garagem foi o local de iniciação de
dezenas de menores, de ambos os sexos, na prostituição.
O caso
“Farfalha” começa com a detenção do pintor de construção civil, o dono da
“garagem”, em Novembro de 2003 e terá ficado marcado, “exemplarmente”, pela sua
rapidez processual e reserva mediática, comparativamente com o caso Casa Pia que
então concentrava a atenção geral do país.
Outra
característica relevante deste processo foi o facto do Ministério Público ter
estado sozinho na defesa das vítimas; não só não foi acompanhado, nomeadamente
pelos pais das vítimas, como teve de enfrentar pedidos formais de desistência de
queixa por parte deles; o que chegou a ser aceite pelo tribunal de primeira
instância e que, após recurso, foi contrariado pela
Relação.