Publicação:
11-06-2007
Joana "vendida
a casal estrangeiro"
Advogado da mãe de menina desaparecida há quase 3 anos quer reabrir
processo por falta de provas
O advogado de Leonor Cipriano, condenada a 16
anos e oito meses de prisão pela morte da filha Joana, vai avançar com um
recurso de revisão do processo. João Grade considera que a “morte da criança e o
envolvimento da mãe ficaram por provar”. Entretanto, o tio da menina, que
também está a cumprir pena de prisão, garante que a irmã vendeu a filha a um
casal estrangeiro.
O corpo de Joana, desaparecida do Algarve a 12 de Setembro de 2004,
nunca foi encontrado. Leonor Cipriano, a mãe de Joana foi condenada a 16 anos e
oito meses de prisão pelo assassínio da menor, juntamente com o irmão, João
Cipriano.
Segundo o Diário de Notícias, os novos dados têm por base cartas
enviadas por João Cipriano a uma outra irmã, sendo que duas das missivas terão
sido enviadas a partir do Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz.
Mãe terá vendido filha
Nas diferentes cartas, João
Cipriano terá acusado Leonor de ter vendido a filha a um casal estrangeiro e de
não ter dito a verdade por vergonha. O tio da menina terá afirmado também que o
dinheiro, resultado da venda da criança, terá sido entregue a um conhecido da
família.
João Cipriano assegura ainda que nunca fez mal à sobrinha e que
"um dia ela há-de aparecer já uma mulher".
Em declarações à
SIC, o advogado João Grade garante que Leonor Cipriano "não matou nem
interferiu no desaparecimento de Joana".
O advogado de defesa de
Leonor Cipriano limita-se a referir falta de provas.
PJ acusada de
tortura, omissão de auxílio e falsificação de documento
A Associação
dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC) disse este domingo à Lusa que
vai processar o magistrado que acusa de tortura, omissão de auxílio e
falsificação de documento cinco elementos da Polícia Judiciária (PJ) no âmbito
do caso Joana.
Segundo a ASFIC há três elementos da PJ acusados de crime de
tortura, um elemento acusado de omissão de auxílio e um quinto elemento por
falsificação de documento.
A acusação do MP a elementos da Judiciária é
classificada pelo presidente da ASFIC, Carlos Anjos, de
"aberração", "infeliz" e "má do ponto de vista
jurídico".
"Esta peça jurídica é uma aberração. Se fosse um
exame de quarta classe, eu já nem digo um exame da faculdade, o magistrado e
autor da dita peça chumbava de certeza", refere Carlos Anjos.
"Documento falso"
A ASFIC informa que vai acusar o procurador por não provar que o
documento do colega da Judiciária é falso e por adulterar a verdade dos factos
na acusação.
"Ele (o procurador) escreve claramente
que um dos nossos colegas foi reconhecido pela Leonor Cipriano, mas
estranhamente esqueceu-se de colocar o resto da frase, que é demasiado
importante", conta Calos Anjos, referindo que falta o excerto da
declaração onde Leonor Cipriano diz que aquele profissional nunca a agrediu.
O inspector que Leonor Cipriano reconheceu esteve presente em todos os
interrogatórios feitos à mãe de Joana pela Judiciária.
O presidente da ASFIC
admite ainda que há uma manifesta "desconformidade entre aquilo que é
referido na acusação e as conclusões a que chega o procurador do MP".
Segundo Carlos Anjos, o magistrado "adultera a verdade dos
factos", porque não consegue imputar nenhum daqueles crimes a nenhum
dos profissionais da polícia.
"Pior do que dizer que houve tortura é
dizer que fomos nós (PJ) que a fizemos, mas ele próprio (magistrado do MP)
admite na acusação que não consegue provar que foram elementos da Judiciária que
fizeram a tortura, nem quem são os elementos da polícia", observa
Carlos Anjos.
"Tinha de acusar alguém"
As críticas da
ASFIC ao magistrado do MP sobem de tom quando Carlos Anjos diz que as escolhas
dos acusados foram "feitas ao acaso", porque Leonor Cipriano
nunca reconheceu os agressores: "foram feitas porque sim, porque tinha
de acusar alguém".
"Eu não sei quem é, mas tenho de acusar
alguém e acuso estes", sugeriu Carlos Anjos, sobre o processo de
escolha dos acusados, referindo que podiam ter sido "outros cinco
quaisquer elementos da Judiciária".
Os acusados
Um dos acusados é o
coordenador de investigação criminal da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral, o outro
é um inspector chefe, o líder da equipa que estava a chefiar as investigações no
terreno no caso Joana, e que entretanto se reformou.
Os restantes três
acusados, inspectores, dois deles eram os responsáveis pelos interrogatórios e,
por fim, um elemento que fez uma informação do serviço e que é acusado de
falsificação de documento.
Todos, à excepção de Gonçalo Amaral, são
elementos da Judiciária de Lisboa.
Questionado pela Lusa sobre o facto das
acusações à Judiciária poderem vir a alterar o processo das condenações de
Leonor e João Cipriano, que entretanto viram a pena reduzida pelo Supremo
Tribunal de Justiça para 16 anos e oito meses de prisão, o responsável afirma
que tais acusações "não têm nada a ver".
"Não tem
nada a ver. A prova de condenação tem de ser feita em tribunal e, portanto, o
colectivo que condenou a Leonor Cipriano, não a condenou por aquilo que ela
disse à Judiciária, condenou-a sim por aquilo que foi provado em
tribunal".
Com
Lusa