Pimenta
Machado/julgamento
300 ficheiros
informáticos do Vitória foram apagados
O perito informático
da Polícia Judiciária, Alberto Batista, confirmou hoje, em depoimento no
Tribunal de Guimarães, que detectou o apagamento de 300 ficheiros informáticos
da Contabilidade do Vitória de Guimarães, entre 1996 e 2003.
O especialista, que não soube, no
entanto, dizer quando, como e quem destruiu os ficheiros, não relacionando assim
a destruição com uma eventual forma propositada para esconder eventuais
movimentos ordenados pelo ex-presidente da colectividade, Pimenta Machado.
O testemunho do perito ocorreu durante
a terceira sessão do julgamento de Pimenta Machado, ex-presidente do Vitória de
Guimarães, que responde no julgamento em que também é réu o ex-presidente do
Benfica, Vale e Azevedo.
Pimenta Machado está acusado de quatro
crimes de peculato e dois de falsificação de documentos, enquanto que o
ex-dirigente do Benfica - que foi dispensado da audiência até quarta-feira -
responde por dois de falsificação de documentos.
Alberto Batista, cujo depoimento
prossegue hoje à tarde, disse ter participado numa busca ás instalações do
Vitória de Guimarães, onde foram apreendidos dois computadores e os respectivos
discos rígidos.
O especialista procedeu à abertura de
um cd-rom contendo os dados referentes aos ficheiros apagados, mas não soube
especificar o que continham.
Revelou que foram, também, apreendidos
dois dvd's com cópias da base de dados da contabilidade do Vitória, o que levou
o advogado José António Barreiros a dizer à agência Lusa que tal comprova que
«ninguém quis destruir nada, tanto que até havia cópias».
A audição daquele técnico superior da
Polícia Judiciária motivou uma querela jurídica: o advogado do Vitória de
Guimarães, Gonçalo Gama Lobo requereu que fosse ouvido como perito e não como
testemunha - o que daria maior peso às suas declarações - tendo os advogados de
defesa, José António Barreiros e Pedro Alhinho - este a defender Vale e Azevedo
- manifestado a sua oposição.
O colectivo de juízes reuniu-se, de
seguida, tendo o juiz-presidente, António Pedro Madureira anunciado que Alberto
Batista falaria como testemunha e não como perito.
Anteriormente, tinha deposto a
testemunha Paulo Brito, que funcionou como intermediário no negócio entre o
Vitória e o Benfica para a venda do jogador Fernando Meira.
O atleta, que se encontra a jogar
futebol no Estugarda, na Alemanha, requereu ao tribunal que a sua audição apenas
ocorra após o termo do campeonato alemão, pelo que deverá prestar declarações no
início da próxima semana.
O intermediário contou que foi ele
quem contactou o Benfica e depois o Vitória, tendo recebido, a título de
recompensa, nove mil contos dados por Fernando Meira, logo que o negócio ficou
concluído.
O despacho de pronúncia engloba a
alegada apropriação indevida de verbas pela transferência dos jogadores Fernando
Meira para o Benfica, Pedro Barbosa e Pedro Martins para o Sporting e a
aquisição de dois futebolistas brasileiros, Alexandre e Riva.
No caso da transferência de Fernando
Meira, que remonta a 2000 e foi feita pela soma de 936.000 contos (actualmente
cerca de 4,668 milhões de euros), o despacho de pronúncia indica que Pimenta
Machado se apropriou de 450 mil euros (90 mil contos), através da
off-shore Sportmedia, de que era proprietário.
Na fase de instrução, o ex-dirigente
vitoriano referiu que tal verba visava ressarci-lo de um empréstimo confidencial
que fizera, em nome próprio, junto do Banco Espírito Santo para adquirir os
jogadores Preto, Evando e Ruben e pelos quais pagara 900 mil reais (514.659
euros).
«Tratou-se apenas de uma
forma de justificar contabilisticamente o recebimento da verba em causa que lhe
era devida», afirma o seu advogado.
A acusação entende que Pimenta Machado
se terá, também, apropriado de 260 mil euros (52.187 contos) da transferência
dos dois atletas para o Sporting, o que este nega, embora admita desconhecer
como é que as verbas foram contabilizadas no clube.
No caso da compra dos jogadores
Alexandre e Riva, a acusação diz que Pimenta Machado empolou deliberadamente os
respectivos custos, tendo ficado com 82 mil euros.
O presidente do clube brasileiro
Valeridoce - que vendeu os atletas - disse à Polícia Judiciária (PJ) que os
jogadores custaram 85.878 contos, mas a contabilidade do clube inscreveu como
custo a verba de 102.293 contos.
Posteriormente, ouvido no Brasil,
disse que não se recordava dos valores exactos.
Vale e Azevedo - através do advogado
Pedro Alhinho - nega ter tido qualquer proveito na compra de Fernando Meira e
afirma que não praticou qualquer crime de falsificação de documentos ao
apresentar como fiadora no negócio a escritura e o aumento de capital da
sociedade de que era co- proprietário, de nome HST.
Lusa/SOL