[SINAPSE] Por que o precariado está crescendo? Houve um brutal 'pacto social' na era da globalização - os trabalhadores foram obrigados a aceitar o trabalho flexível em troca de medidas para preservar empregos, de modo que a maioria vivenciou a elevação dos padrões de vida. << Foi uma negociação faustiana >>. Os padrões de vida foram mantidos ao se permitir que o consumo excedesse as rendas e que os ganhos excedessem o que de fato os trabalhos valiam. Enquanto este excesso promoveu ineficiência e distorções de mercado, aquele excesso fez com que faixas da população se endividassem de maneira estonteate. No final da era da globalização, o pacto havia sido rompido. Do lado dos empregadores, desejava-se mais “viajar com pouca bagagem”. Do lado dos trabalhadores, havia mais estresse, insegurança e distanciamento psicológico.

3 views
Skip to first unread message

Claudio Estevam Próspero

unread,
Feb 23, 2017, 7:07:55 AM2/23/17
to R...@lists.aquifolium.biz, cool...@googlegroups.com, Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, Espaco Pampedia

Imagem inline 1

Para compreender por que o precariado está crescendo, deve-se avaliar a natureza da Transformação Global. A era da globalização (1975-2008) foi um período em que a economia se “desintegrou” da sociedade na medida em que financistas e economistas neoliberais buscaram criar uma economia de mercado global baseada na competitividade e no individualismo.

O precariado cresceu por causa das políticas e 
das mudanças institucionais naquele período. Inicialmente, o compromisso com uma economia de mercado aberta prenunciava pressões competitivas sobre os países industrializados por parte dos países recém-industrializados (NICs, do termo inglês newly industrialized countries) e pela “Chíndia” (China e índia) com um ilimitado suprimento de empregos a baixo custo. O compromisso com os princípios do mercado levou, inexoravelmente, a um sistema de produção global das empresas em rede e a práticas de empregos flexíveis.

O objetivo do crescimento econômico — tornar todos mais ricos, dizia-se - foi usado para justificar a reversão da política fiscal como instrumento de redistribuição progressiva. Altos impostos diretos, usados há muito tempo para reduzir a desigualdade e proporcionar segurança econômica aos trabalhadores de baixa renda, foram apresentados como desincentivos a trabalhar, poupar e investir, e como propulsores do investimento e dos empregos no exterior. E uma reorientação da proteção social a partir da solidariedade social para lidar com a pobreza e com pessoas consideradas fracassos sociais marcou o início de uma tendência de assistência social calcada na “verificação de recursos”' [4] e desta para o workfare. [5]

Um aspecto central da globalização pode ser resumido em uma palavra intimidadora: “mercadorização”. Isso envolve tratar tudo como uma mercadoria, a ser comprada e vendida, sujeita às forças do mercado, com preços fixados pela demanda e estoque, sem uma “ação” efetiva (uma capacidade para resistir). A mercadorização foi estendida a todos os aspectos da vida - família, sistema de educação, empresa, trabalho, instituições, política de proteção social, desemprego, incapacidade, comunidades profissionais e políticas.

No impulso para a eficiência de mercado, foram desmanteladas as barreiras para a mercadorização. Um princípio neoliberal estabelecia que eram necessárias regras para evitar que os interesses coletivos agissem como barreiras para a competição. << A era da globalização não consistia numa era de desregulamentação e sim de re-regulamentação, na qual foram introduzidos mais regulamentos do que em qualquer outro período comparável da história >>. Nos mercados de trabalho mundiais, a maioria dos novos regulamentos era diretiva, dizendo às pessoas o que podiam e não podiam fazer, e o que tinham de fazer para serem beneficiários da política estatal.

O ataque sobre as instituições coletivas abrangia as empresas como instituições sociais, os sindicatos como representantes dos empregados, as comunidades profissionais como corporações de ofícios e profissões, a educação como força para a libertação do interesse pessoal e do comercialismo, a família como instituição de reciprocidade e reprodução social, e o serviço civil como uma estrutura guiada por uma ética de serviço público.

Essa mistura estilhaçou os esquemas de emprego e criou uma fragmentação de classe, destacada pela “terceirização” do trabalho e do emprego associada ao declínio na manufatura e a uma tendência para os serviços. Este capítulo explica esse quadro, não exaustivamente, mas em detalhes suficientes para entendermos por que o precariado está se tornando uma classe global.

[4] Means test é o nome dado no Reino Unido ao método para avaliar se um indivíduo ou família têm recursos suficientes para sobreviver sem ajuda financeira do governo. (N.E.)

[5]O termo workfare, derivado das palavras work (trabalho) e welfare (bem-estar), é um modelo alternativo ao sistema de bem-e star social em que o indivíduo tem de cump rir certos requisitos, como formação ou até mesmo trabalho não remunerado, para pode r receber a assistência social. (N.T.)

_________
Conclusões
Houve um brutal pacto social na era da globalização - os trabalhadores foram obrigados a aceitar o trabalho flexível em troca de medidas para preservar empregos, de modo que a maioria vivenciou a elevação dos padrões de vida. Foi uma negociação faustiana. Os padrões de vida foram mantidos ao se permitir que o consumo excedesse as rendas e que os ganhos excedessem o que de fato os trabalhos valiam. Enquanto este excesso promoveu ineficiência e distorções de mercado, aquele excesso fez com que faixas da população se endividassem de maneira estonteate. 

Mais cedo ou mais tarde, o diabo teria o que lhe era devido, um momento que para muitas pessoas veio com a crise de 2008, quando a renda diminuída caiu abaixo do que era necessário para pagar as dívidas que tinham sido encorajadas a assumir. Uma nova camada estava prestes a se juntar ao precariado.

No final da era da globalização, o pacto havia sido rompido. Do lado dos empregadores, desejava-se mais “viajar com pouca bagagem”. Do lado dos trabalhadores, havia mais estresse, insegurança e distanciamento psicológico. Os suicídios relacionados ao trabalho aumentaram em muitos países, incluindo a França, o Japão e toda a Escandinávia, a Meca da social-democracia. Nos Estados Unidos, eles aumentaram 28% em um ano. Entretanto, de acordo com o Center for Work-Life Policy, uma empresa de consultoria dos Estados Unidos, a proporção de empregados que professam lealdade a seus empregadores caiu de 95% para 39%, e a proporção que expressava confiança neles caiu de 79% para 22%. Na era do precariado, lealdade e confiança são frágeis e eventuais.

Podemos perceber por que o precariado está crescendo. Porém, quanto maior seu tamanho, mais sinistros serão seus aspectos disfuncionais. 

As inseguranças geram doença social, vícios e angústia anômica. As prisões transbordam. As gangues de Robin Flood perdem seu senso de humor. E as forças escuras se espalham na arena política. Trataremos disso depois de considerarmos quem está entrando no precariado e o que está acontecendo com os principais ativos da sociedade de mercado global.

Capítulo 2 
Por que o precariado está crescendo?

Guy Standing - O Precariado. A Nova Classe Perigosa 
>>> PDF disponível aqui:

Imagem inline 2
Curtir esta página · 7 de janeiro



-- 

Atenciosamente. 


Claudio Estevam Próspero 

_____________________

[LinkedIn] http://www.linkedin.com/in/cprospero

[Facebook] http://www.facebook.com/people/Claudio-Estevam-Prospero/1253621184

[Twitter]  http://twitter.com/prosperoclaudio



<Blogs pessoais temáticos>:

----------------------------------

[Automação e Inteligência Organizacional] http://automacao-inteligencia-organizacional.blogspot.com.br/


[Ciência da Totalidade] http://cienciatotalidade.blogspot.com.br/


[Criatividade e Inovação] http://criatividadeinovao.blogspot.com/


[Governança e Liderança em Redes Sociais] http://redessociaisgovernanaliderana.blogspot.com/


[Mitologias de Gaia] http://mitologiasdegaia.blogspot.com/


[Mobilidade Urbana ]http://mobilidadeurbana-prosperoclaudio.blogspot.com/ 


[Política 2.0 - Yes, WIKI CAN] http://poltica20-yeswikican.blogspot.com/


[Reflexões Econômicas] http://reflexeseconmicas.blogspot.com/


[Sinapses de Gaia] http://sinapsesgaia.blogspot.com/


<Comunidades>:

-------------------

(Ecocidade) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecocidade

(Escola de Redes [E = R]) http://escoladeredes.ning.com/  

(Românticos Conspiradores [RC]) http://romanticos-conspiradores.ning.com/


Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o MEIO AMBIENTE. 

Nossa Espécie (Homo Sapiens Sapiens Demens - Edgar Morin) Agradece!



Se não quiser receber mais minhas mensagens avise-me para retirá-lo desta lista.



Reply all
Reply to author
Forward
0 new messages