É de R$ 9.188,22 o piso salarial dos médicos em 2011, para uma jornada de 20 horas semanais de
trabalho. O valor, que passou a vigorar em primeiro de janeiro, é
resultado da atualização monetária pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor - (INPC), do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos - (DIEESE), cujo índice acumulado em 2010 foi de
6,91%.
Prezados Colegas Médicos do Brasil
Tendo em vista o piso
salarial da categoria, estabelecido legalmente pela entidade
representativa máxima da categoria em território nacional, venho fazer
um desabafo de um colega recem-egresso da residência médica e pedir-lhes
uma breve reflexão:
- Se ninguém recebe o valor do PISO SALARIAL, é porque alguém aceitou trabalhar por valor inferior ao mesmo
- Um Delegado de Polícia (Civil do DF ou Federal) tem salário inicial de 15.000,00 mensais
- Um Promotor de Justiça inicia a carreira ganhando 16.000,00 por mês
- Um Juiz de Direito não trabalha por menos de 20.000,00 de subsídio
Todos esses
profissionais acima estudam obrigatoriamente 5 anos de faculdade de
Direito, não são obrigados a fazer residência médica, e recebem
gratuitamente carro, secretária, material de escritório, sala, água, luz
e telefone para exercerem suas atividades. Muitos deles tem motorista e
celular funcional gratuitos, além de inúmeros outros benefícios, como
aposentadoria integral, tempo reduzido de contribuição, regalias quanto a
plano de saúde institucional, moradia subsidiada, etc....
Por que será que todas essas categorias tem tanto ? Em uma única palavra: UNIÃO !!!
A Policia Civil do DF
tem os maiores salários do País, entretanto faz greve ou ameaça de greve
todos os anos, sempre na época da sua data-base. Curiosamente, seu
salário (ou subsídio, como preferem alguns), é rejustado religiosamente
todo ano. Não por acaso, a cada 4 anos, um delegado é eleito Deputado
Federal, e o mesmo tem como compromisso inadiável defender o reajuste
(ou ataulização) anual da remuneração de sua categoria.
Recebi recentemente algumas propostas RIDÍCULAS de trabalho, as quais quero citar aos nobres colegas:
1) Proposta A: Clínica
de especialidades médicas, com faturamento via PJ, sobre os quais a
empresa me repassaria 40% e ficaria com 60% (supostamente para cobrir
custos operacionais, de faturamento, impostos, publicidade, água, luz,
telefone, secretárias, material de consumo, etc....)
2) Proposta B: Clínica
Ortopédica com nome já consolidado na cidade: ofereceu-me a quantia
líquida de R$ 18,00 (isso mesmo DEZOITO REAIS) por paciente,
argumentando que o outro ortopedista que trabalha lá marca um paciente a
cada 5 minutos, ou seja 12 pacientes por hora, pois já conhece os casos
e a maioria vai só para retorno, atestados e relatórios. Sugeriram-me
ganhar no volume, atendendo 60 pacientes num período de 5 horas, o que
me renderia 1080,00 por turno. Informei-lhes de que não sou tão
competente quanto o colega, e que para poder realizar uma boa anamnese,
exame físico completo, registro adequado no prontuário, prescrição,
solicitação de exames e explicações ao paciente gasto no mínimo 20
minutos por consulta, sendo o ideal um paciente a cada meia hora, o que
me permitiria atender no máximo 10 pacientes por 5 horas (ganharia penas
180,00 por turno). Agradeci a oferta. Na
minha opnião o que certamente me renderia tal situação seria: 60
pacientes insatisfeitos, que sairiam de lá procurando outro profissional
que pudessem ouvi-lo e trata-los com o mínimo de decência. Para ganhar
18,00 a consulta ou 36,00 a hora ganho mais em ficar estudando para
prestar um melhor atendimento aos que tiverem a oportunidade de serem
atendidos por mim.
3) Proposta C: Clínica
pertencente a um Plano de Saúde: Ofereceram-me R$ 20,00 por consulta,
com horário livre a minha escolha, número de pacientes conforme minha
capacidade de atendimento. Apesar de um pouco melhor que a anterior,
acredito ainda ser absurda. Para lavar meu carro pago 20,00 por semana a
um senhor que não estudou nem a 4ª série, para cortar meu cabelo pago
30,00 uma vez por mês a um amigo que apesar de muito competente, tem
agenda lotada e demora 20 minutos em seu serviço. Um prato de comida em
restaurante do shopping, ou um combo sanduíche + fritas + bebida +
sobremesa custa mais que 20,00. Para ter passada uma trouxa de roupa de 5
dias ou para uma faxina semanal em minha casa, pago 50,00 ( ou duas
consultas e meia). Sem querer menosprezar ninguem, mas nenhum deles tem
uma vida, uma função ou um órgão sob sua responsabilidade. Não tem que
responder perante um juiz caso
seu serviço não fique a contento, muito menos deverão pagar
indenizações financeiras por insatisfação do cliente.
4) Uma empresa de
Medicina do Trabalho solicitou curriculum e pretensão salarial. Enviei o
meu e disse que o valor a ser pago era no mínimo o do PISO SALARIAL da
FENAM. Curiosamente ainda não me retornaram. E sinceramente, não espero
que retornem.
Se nossos colegas
médicos se unissem, assim como fizeram os pediatras recentemente em
Brasília, e NÃO ACEITASSEM trabalhar por valores vis, estariamos
certamente dando muito menos plantões noturnos e nos finais de semana,
trabalharíamos menos em locais com condições precárias, seriamos muito
menos desrespeitados por profissionais de outras categorias. Enfim, cabe
somente a nós, MÉDICOS, termos a UNIÃO necessária para podermos
Minha prosposta aos
MÉDICOS DO BRASIL é de recusarmos QUALQUER OFERTA DE TRABALHO que não
pague o PISO SALARIAL DA FENAM ou a tabela da CBHPM.
Isso equivale a:
- R$ 9.188,22 por 20 horas semanais; ou
- R$18.376,44 para 40 horas semanais
- Dividindo, tal valor corresponde a R$ 107,35/hora
- ou seja : R$ 644,10 por turno de 6 horas;
- ou R$ 1288,20 por plantão de 12 horas
Considerando uma média de 2 consultas bem feitas por hora, daria R$53,68 por consulta, um valor mínimo condizente com a tabela CBHPM.
A princípio parece
utópico, mas se esse email circular para todos os médicos do país e
ninguem trabalhar por valor inferior, os empresários terão que aumentar
os valores oferecidos, ou então terão que permitir que os próprios
médicos faturem suas consultas diretamente, excluindo os intermediários (
que são quem realmente lucram com nosso trabalho).
Cabe ainda aos CRM´s e
Sindicatos dos Médicos do Brasil fiscalizar a remuneração oferecida,
não permitindo que tais valores incrivelmente reduzidos obriguem nossos
colegas a ter que literalmente " tocar fichas" o que reduz o tempo de
consulta, prejudica o exercício ético da medicina e aumenta a chance de
erros por parte dos profissionais.