DOS
POÇOS DA PETROBRÁS ESTÁ JORRANDO MUITA LAMA
por Padre Saverio
Paolillo (pe. Xavier)
Confesso que a frase não é totalmente
minha. Inspirei-me numa expressão utilizada pelo jornalista Leonel Ximenes na
coluna Victor Hugo do Jornal A Gazeta do dia 15 de novembro. As notícias a respeito do escândalo da Petrobrás assustam e
angustiam.
Não estou aqui para comemorar as prisões
dos envolvidos. Quem conhece minha sensibilidade sabe que não me regozijo em ver
gente presa. Minha formação humana e minha experiência de militância na Pastoral
Carcerária me levam a desacreditar no encarceramento como forma para punir e
recuperar pessoas que cometem delitos. Diante daquilo que vejo todo dia no
trabalho direto com os mais pobres e agora do ponto de vista de um bairro da
extrema periferia da região metropolitana de João Pessoa, onde fiz a escolha de
morar, me convenço cada vez mais que quem precisa de ser recuperada é a
sociedade inteira. Não vejo nenhuma vantagem com o endurecimento das penas e o
encarceramento de massa.
A população carcerária tem aumentado
assustadoramente nos últimos tempos ao passo que a violência, a corrupção, e os
desvios de conduta continuam crescendo sem trégua. Inclusive, nas visitas que
faço ao sistema penitenciário posso confirmar aquilo que a sociedade está careca
de saber: atrás das grades só ficam os mais pobres. É mais fácil um camelo
passar pelo buraco de uma agulha de que um rico
atravessar a porta de um presídio. E, se por ventura chegar a entrar, garanto
que tem tratamento diferenciado e permanece o mínimo necessário, pois o poder
aquisitivo lhe dá condições de pagar bons advogados que lhe garantem todos os
benefícios da lei, a diferença dos pobres que, mesmo tendo descontado a pena,
permanecem mofando na cadeia. Sem uma revolução ética que recoloque ao
centro o cuidado com a vida em todas suas manifestações, fatos lamentáveis como
o escândalo da maior empresa petrolífera do Brasil continuarão acontecendo e as
riquezas do País, dons de Deus para o bem-estar do povo,continuarão engordando
os bolsos de uma minoria.
Parabenizo os responsáveis pelas
investigações que estão colocando às claras os crimes cometidos na Petrobrás,
mas não posso deixar de fazer algumas considerações.
A operação Lava Jato e todos os outros
escândalos que aconteceram no Brasil revelam que os responsáveis por acabar com
o Brasil não são os pobres muitas vezes criminalizados e objeto de campanhas
preconceituosas como aquela que explodiu logo depois da divulgação do resultado
do último pleito eleitoral contra o povo nordestino, mas os
“bacanas”, gente importante de colarinho branco, cara
“grão fino” que usa roupa de grife e que manda e desmanda na
área econômica e política, personagens inescrupulosos que se obstinam a fazer da
coisa pública o trampolim para realizar seus próprios interesses. Não se trata
de “pessoas ignorantes que não sabem votar”, mas de
“gente estudada” que gosta de ser chamado de doutor, parte
daquela elite brasileira de nariz empinada, que não gosta de pobre e que
criminaliza quem defende uma ordem mais justa. É a eles e ao dinheiro por eles
desviado que tem que ser imputada a responsabilidade do aumento da violência, da
fragilidade do sistema de saúde, da precariedade da educação e de todas as
outras desigualdades socioeconômicas inconcebíveis num País tão grande, tão rico
e tão abençoado por Deus.
O pior de tudo é verificar que “os
parasitas” da corrupção conseguem encontrar hospedagem em qualquer
administração pública, independentemente dos partidos que formam a coligação de
governo.
Inclusive, vale lembrar que candidatos de
todos os partidos políticos se beneficiam, durante as campanhas eleitorais, de
doações efetuadas por empresas supostamente envolvidas em esquemas de corrupção
e que tais doações não têm nada de gratuito. Normalmente “os generosos
doadores” recebem “generosas contrapartidas” por parte
dos políticos eleitos.
Como já disse, felicito as instituições
empenhadas em “extrair a lama que está no fundo dos poços da
Petrobrás”, mas não posso deixar de fazer uma pergunta: Por que toda
essa competência não é colocada à disposição para prevenir estes crimes? Por que
os podres são descobertos somente depois de ser consumados? Onde ficam os órgãos
de controle? Por que não há um acompanhamento sistemático para evitar que os
desvios aconteçam? Precisa aprimorar os instrumentos de controle e de prevenção.
A sociedade em geral deve parar de ficar
somente na reclamação e se envolver mais nos mecanismos previstos na legislação
que garantem a participação dos cidadãos na fiscalização e no controle do poder
público, sobretudo no que diz respeito ao uso dos recursos
públicos.
Mas há um terceiro elemento que me causa
incômodo. Por que a Petrobrás não tem usado nos contratos com as empreiteiras o
mesmo rigor que utiliza na hora de selecionar e financiar projetos da sociedade
civil empenhada em enfrentar aquelas desigualdades que têm na corrupção um de
seus principais responsáveis? Nada contra. Defendo esse rigor para garantir que
os recursos sejam repassados a entidades sérias e que sejam efetivamente
utilizados para execução do objeto do convênio. Mas não consigo entender a
excessiva burocratização para fechar a torneira para quem trabalha em benefício
da população em situação de vulnerabilidade social e a aparente facilidade com
que ingentes somas de dinheiro teriam vazado pelo ralo da
corrupção.
Tudo isso causa indignação. Dinheiro que
poderia ser investido em políticas públicas e oferecer oportunidades a crianças,
adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social está sendo utilizado
para financiar projetos pessoais de empresários e políticos “em situação
de enriquecimento ilegal”.
Finalmente, para não “colocar todo
mundo no mesmo poço de lama”, quero parabenizar todos os trabalhadores
e trabalhadoras da Petrobrás que cumprem seu dever e dão o melhor de si para o
bem da empresa e do País. Seu compromisso pelo bem comum fortalece a esperança
num Brasil melhor cheio de oportunidades para todos.
Abraços Paraibanos,
Padre Saverio Paolillo (pe.
Xavier)
Missionário
Comboniano
Pastoral do Menor e
Carcerária
Centro de Direitos Humanos dom Oscar
Romero
Minha fé
é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o corpo de
um irmão.
Minha fé
é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda
solidária.
Minha fé
é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder
de diferença
e na força da velhice que
com sua sabedoria e experiencia ainda tem muito a colaborar, para um país justo,
igualitário sem tantas injustiças sociais..
Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São Paulo
A partir de Jesus Cristo em busca do bem comum
Caso não queira receber os nossos informes, por favor,
responder esse e-mail com o assunto “Remover meu e-mail da
lista