Notícias sobre Orgânicos
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Alimentos orgânicos ou convencionais? Você escolhe
O consumo de alimentos sem aditivos químicos, os chamados orgânicos,
aumenta na mesma medida da preocupação do brasileiro com os efeitos
sobre a saúde de pesticidas, hormônios de crescimento, antibióticos e
outros produtos químicos mais usados por agricultores. No entanto, não
é apenas isso que seduz os brasileiros. Além de se relacionarem à
qualidade de vida, os produtos orgânicos têm forte apelo ecológico.
Geralmente os produtores desses alimentos preocupam-se em preservar o
local onde os mesmos são cultivados. As nascentes de água são
protegidas, as áreas desmatadas são reflorestadas, os animais e
vegetação nativos são preservados e não se faz uso de queimadas. Por
tudo isso, é cada vez maior o contingente de pessoas que buscam por
esse tipo de alimentação especial. Para se ter uma idéia, há quatro
anos atrás a produção agrícola brasileira de orgânicos era
praticamente insignificante. Hoje esses alimentos já respondem por
mais de 2% de toda produção e de acordo com o International Trade
Center, no Brasil o mercado está expandindo ao ritmo de 40% ao ano.
Alimentos orgâncos X alimentos convencionais
O emprego de aditivos tóxicos para elevar a produtividade das lavouras
é muito antigo. No ano 3000 a.C., manuscritos chineses já indicavam o
uso de arsênico e de enxofre para matar pragas na lavoura. Entretanto,
os agrotóxicos industriais somente começaram a ser utilizados durante
a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a maioria dos especialistas, a
aplicação controlada de fertilizantes, defensivos agrícolas e outros
produtos químicos não causa danos à saúde, não existindo pesquisas
científicas conclusivas que atestem que a ingestão dessas substâncias
em pequenas doses através dos alimentos, causem males à saúde.
No entanto, o que preocupa esses mesmos especialistas é o uso indevido
e/ou abusivo desses produtos químicos por parte dos produtores, o que
pode causar efeitos crônicos a longo prazo, como determinados tipos de
câncer, diminuição da fertilidade (redução do número de
espermatozóides) e até a má formação de fetos (esses efeitos foram
observados em pessoas expostas a agrotóxicos, em sua maioria
agricultores).
De acordo com o Instituto Biológico de São Paulo, o uso de agrotóxicos
no Brasil inspira cuidados. Análises realizadas com o objetivo de
medir a quantidade de defensivos agrícolas em vegetais, mostrou que os
alimentos recordistas em resíduos são o morango e o tomate. Além
disso, verificou-se casos de aplicação de pesticida em culturas para
as quais o produto não foi autorizado. Por tudo isso, o Brasil foi
incluído num relatório da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) como um país onde há exagero no uso de
agrotóxicos.
Na agricultura orgânica, essas substâncias químicas passam longe. Em
vez de utilizar fertilizantes artificiais, os produtores usam
geralmente estrume esterilizado, farinha de peixe, de osso, humus de
minhoca, adubo composto (que é produzido através de lixo orgânico),
entre outros. Para controlar pragas e insetos, os agricultores lançam
mão do controle biológico, ou seja, a utilização de insetos
predadores, microorganismos e plantas que podem arrasar com pulgões,
lagartas e moscas que atacam as plantações. As joaninhas, por exemplo,
são inimigas dos pulgões, a bactéria Bacillus thuringiensis (BT)
aniquila a lagarta da couve e plantas como o alecrim, calêndula e
alfavaca-do-campo inibem, respectivamente, o aparecimento das bruxas
da couve, do mosquito da ferrugem da cenoura e das cigarrinhas que
atacam os feijões.
Vantagens e desvantagens dos orgânicos
Há apenas poucos anos, os alimentos orgânicos só podiam ser
encontrados em lojas de produtos naturais ou em mercados e feiras de
pequenos agricultores. Hoje, já é possível encontrá-los em grandes
redes de supermercados, sendo comercializados junto a outros produtos
convencionais. Além de alimentos de amplo consumo, como arroz, feijão,
frutas, hortaliças, a agricultura orgânica está produzindo um pouco de
tudo: desde erva-mate, castanha de caju, guaraná, até chocolate,
vinhos e carnes, frangos e ovos que não contém nenhum tipo de
hormônio.
Além de serem isentos de agrotóxicos, os alimentos orgânicos tendem a
ser mais saborosos que os tradicionais. O brócolis, o morango e o
tomate, por exemplo, teriam um sabor muito mais pronunciado que
aqueles cultivados normalmente. Há quem diga que a carne de galinha,
porco e boi que se alimentam ao ar livre (criados sem confinamento) e
não recebem hormônios de crescimento também têm sabor diferente, em
comparação com os criados “industrialmente”. Em geral, seriam carnes
mais magras e mais saborosas.
Outro ponto que tem sido objeto de muita investigação, e que seria
mais uma vantagem dos orgânicos, seria o fato desses alimentos
apresentarem vantagens nutricionais. Embora ainda exista muita
discussão a respeito desse assunto e não haja consenso científico
sobre o tema, existem vários estudos sendo realizados na tentativa de
provar que os produtos livres de agrotóxicos são também mais
nutritivos que os convencionais.
Mesmo sabendo que a genética da planta, o clima, a irrigação e a época
da colheita têm um impacto muito maior no conteúdo nutricional do que
o tipo de fertilizante usado, natural ou artificial, existem estudos
como o realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), em Botucatu, mostrando que cenouras cultivadas sem
agrotóxicos têm uma maior durabilidade (tempo de conservação é maior)
e apresentam maiores teores de vitamina A e betacaroteno.
Outro estudo, este realizado pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), irá comparar os teores de carotenóides de cenouras e
alfaces plantados sem pesticidas no cinturão verde de São Paulo com
aqueles cultivados de modo convencional. A intenção é utilizar
amostras que vêm direto do produtor, já que de acordo com os
pesquisadores as análises com amostras cultivadas em hortas
experimentais não refletiriam necessariamente a realidade das
plantações.
As duas principais “desvantagens” dos alimentos orgânicos dizem
respeito à aparência e ao custo. Por serem cultivados naturalmente,
geralmente esses alimentos tendem a ser menores e ao mesmo tempo,
alguns também podem apresentar manchas na casca devido aos ataques de
insetos. A cor também pode não ser uniforme e tão intensa quanto a
alcançada através da utilização de corantes ou ceras (o que é feito em
alimentos convencionais).
Por isso, sempre que você observar frutas e hortaliças perfeitos,
brilhantes, sem um mínimo defeito, pode ter certeza que nesse alimento
houve aplicação de agrotóxico. Já os preços, geralmente um pouco mais
altos do que os convencionais, é tido como um empecilho para que boa
parte da população tenha acesso a essa alternativa saudável. De acordo
com os entendidos, os preços só devem diminuir quando a produção e o
consumo aumentarem, mas já existem pesquisas mostrando que sete em
cada dez pessoas pagariam até 30% a mais por produtos sem aditivos
químicos, desde que não houvesse dúvidas sobre sua procedência
(pesquisa do Instituto Gallup).
Como saber se um alimento é orgânico?
Se você pretende consumir alimentos orgânicos fique atento para não
ser enganado. Procure sempre pelo selo de qualidade emitido por
certificadoras reconhecidas pelo Ministério da Agricultura. São
entidades como a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), o Instituto
Biodinâmico (IBD), entre outros. Essas entidades, ao todo cerca de 30
em todo Brasil, avaliam se a produção do alimento segue os critérios
estabelecidos pela agricultura orgânica. Para ganhar o selo, os
produtores seguem várias precauções e têm suas lavouras fiscalizadas
de seis em seis meses. A presença do selo garante, portanto, a
procedência e a qualidade dos produtos.
Jocelem Salgado - Profª. Titular em Nutrição LAN/ESALQ/USP/Campus,
Piracicaba
(e-Campo orgânicos)